• trinta e três •

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"Mas não quero continuar como se estivesse tudo bem
Quanto mais ignorarmos isso, mais brigaremos
Por favor, não fique triste
Não sei lidar com o seu sofrimento
Eu estou tentando ser corajosa
Pare de me pedir para ficar
Não posso te amar no escuro
Parece que estamos tão distantes
Há tanto espaço entre nós
Talvez já tenhamos sido vencidos" - Song: love in the dark.

- Narradora -

Os sons agoniantes dos aparelhos presos a Any, não a deixavam em paz. Com dificuldade a garota se levantou e sentou na cama, olhou para os lados, contemplando quarto vazio.

A máscara de oxigênio, sondas inseridas em seu corpo, ajudando ela a se alimentar e a fazer suas necessidades a incomodavam.
Ela respirou profundamente e sentiu um aperto no peito, estava definhando lentamente, enquanto esperava um doador, para o transplante de pulmão.

Uma lágrima solitária escorreu pelo seu rosto pálido, ao olhar para seus braços magros. Ela sabia que não aguentaria mais aquilo, era como uma tortura ficar presa à aquela cama.

Mas, logo todo o sofrimento terminaria, os aparelhos seriam desligados e ela enfim poderia descansar.

- Gaby? - a voz de Savannah preencheu os ouvidos de Any.

- Sav - falou com a voz abafada, por conta da máscara de oxigênio no rosto.

Savannah se aproximou da cama da amiga e a abraçou sem pensar duas vezes.

- Any, por favor... - pediu, com os olhos avermelhados.

- minha loira, vai ficar tudo bem. Eu prometo. - a garota acariciou os cabelos loiros de Savannah.

- eu vou te contar a história. É de uma garota ingênua, ela havia acabado de se mudar e não tinha amigos, ninguém da escola gostava dela. Além disso, estava sofrendo com a separação dos pais e o desprezo da mãe - Any murmurou, puxando Savannah para um abraço aconchegante.

A loira deitou parcialmente sobre Any, sentindo o carinho da amiga.

- todos os dias ela lanchava no banheiro da escola, chorando sozinha. Até que um dia, ela conheceu uma garota adorável e gentil de lindos olhos azuis como o oceano. A linda garotinha loira, lhe estendeu a mão - Any continuou, contando a história.

- então, finalmente a fez brilhar... - os olhos de Any ardiam, e Sav chorava em seu colo a abraçando.

- e desde então, elas prometeram nunca mais se separar - Sav murmurou, completando frase.

- eu nunca vou esquecer do dia que nos conhecemos, muito menos do dia que você avançou na garota que me acertou na aula educação física, com a bola de basquete - Sav, riu pelo nariz, arrancando uma risada baixa da morena.

- nunca se esqueça que, te amo. Você é meu raio de luz e por favor, cuide do Noah pra mim - pediu a morena.

- prometo que irei... Eu também te amo, querida esposa - disse a loira apertando pingente do colar, que se completava com o de Any.

A porta se abriu e a médica de Any entrou, insinuando que estava na hora de dar adeus.
Após se despedir de todos, só havia Any e sua médica no quarto, então o processo de desligamento dos aparelhos.

Logo Noah chegou correndo, sua respiração ofegante, colocou as mãos nos joelhos tomando ar.

- cadê ela? - indagou olhando para a irmã.

Savannah apontou para a porta e o mundo de Noah parecia ter caído, ele sabia que aquilo aconteceria, só não estava preparado para dar adeus.

- Any! - ele entrou no quarto de forma abrupta, assustando a garota e a médica.

- não me deixe... Por favor - pediu nervoso, sentindo as mãos tremerem.

- aguentei muito por nós, mas agora tô cansada demais. Eu quero viver e não sobreviver, não me peça pra ficar, eu não posso te amar no escuro - disse ela, sentindo o coração despedaçar.

Os olhos de Noah mostravam dor, os olhos que antes era alegres e cheios de vida. Agora estavam vazios e cansados.

- não olha pra mim, odeio ver você triste... - ela fechou os olhos, com força, tentando impedir as lágrimas de descerem.

Ellen, sua médica, estava num cantinho da sala observando a despedida, que na opinião dela era a mais triste que tinha presenciado.

- você prometeu, prometeu que estaria aqui comigo... - Noah soluçou se aproximando da cama e segurou a mão da garota.

- fiz uma promessa que não podia cumprir. Desculpa por ser tão fraca. Só espero que um dia possa me entender - pediu, e sua voz saiu num fiapo, quase inaudível.

Noah sentiu o seu coração ser estrangulado, queimava como o inferno. Não dava para ele simplesmente, sair daquele quarto, assistir do lado de fora sua namorada e único amor morrer.

Era frustrante e doloroso. Uma dor o consumia, uma dor que ele nunca havia sentido antes.

- dolorosamente, estamos afundando. E eu não posso nos salvar. Eu nunca pensei que precisava amar e ser amada. Até te conhecer, acredite foi a melhor coisa que me aconteceu - murmurou, chorando desesperadamente.

- ninguém, nunca tomará seu lugar, você é insubstituível, Any. Sempre será minha garota - ele beijou a testa dela e soltou a sua mão aos poucos.

Noah se retirou do quarto, cabisbaixo, fechou a porta e pelo pequeno vidro, observou sua garota partir.

Any levantou a cabeça, e sorriu através da máscara de oxigênio, o sorriso favorito de Noah. Aquele que os olhinhos castanhos da garota se fechavam, as bochechas gordinhas dela, agora esmagadas na máscara apertada.
A médica retirou a máscara do rosto de Any por míseros segundo e Noah pode vê-la sorrir.

Enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto e a falta de ar tomava Any. Ela deu um tchauzinho para o namorado. E bateu a boca dizendo um: "eu te amo".

Ele deu um tchauzinho de volta e murmurou outro "eu te amo".

Segundos um som agudo preencheu seus ouvidos, os batimentos cardíacos dela cessaram, o bolo que tinha se formado na garganta de Noah. Se transformou em choro, sua ficha havia caído.

O desespero tomou conta de Noah. Ele havia visto o amor da sua vida, a sua garota morrer em sua frente. E ele não pode fazer nada.

- nota da autora: dor e sofrimento? Temos.

Amanhã posto o Epílogo.

𝐋𝐨𝐯𝐞 𝐢𝐧 𝐭𝐡𝐞 𝐝𝐚𝐫𝐤 || 𝐍𝐨𝐚𝐧𝐲Where stories live. Discover now