• vinte •

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" E quando as estações mudarem
Você ficará ao meu lado? " - Song: Mind Over Matter.

- Any Gabrielly -

Depois do dia que cumpri a detenção escolar. Simplesmente faltei às aulas por três dias seguidos.

Motivo: internada.

As dores oncológicas vieram com tudo, e nem o remédio estava amenizando. Então, precisei do apoio médico.

- precisamos conversar, moça - disse minha médica entrando no quarto.

- realmente, a comida tá sem sal. Precisamos mudar - fiz cara de nojo.

- reclamona - cantarolou ela.

- mas, é sério Gaby. Eu vou ser sincera, ok? - indagou ela e assenti - seu caso é complicado, você sabe que quando descobrimos o câncer já não era no início - começou.

- nada mais está adiantando e eu vou morrer? Eu já sei disso e tá tudo bem - falei.

- Any, não está tudo bem, você é nova demais para ter pensamentos tão negativos. Tem amigos, sua família... Pessoas que se importam com você, você precisa lutar - disse ela.

- é injusto me pedir para que eu me mantenha firme pelos outros, só eu sei o que estou passando, a falta de ar, os tratamentos, as dores, a frustração. Não me peça para eu ter esperança - falei sincera.

- desculpa, Gaby. É só que eu não quero que você... Bom, você sabe - falou passando a mão pelos cabelos.

- tudo bem, você só está preocupada - dei de ombros.

- faremos um teste de um mês. Se as dores persistirem você vai ter que se tratar aqui, somente aqui - falou e apenas ouvi.

O dia em que eu mais temia estava chegando, eu sabia que se o câncer continuasse avançando eu precisaria "morar" basicamente na clínica. E aquilo me causava pesadelos. Porque eu sabia que só sairia de lá curada ou morta.

E provavelmente eu não sairia curada, mas não vou pensar nisso agora.

- acha que tem chance de eu não precisar me tratar só aqui? - indaguei já sabendo a resposta.

- já estamos adiando demais, Gaby. Esse será a última chance - disse e assenti, não tendo escolha.

Minha médica me olhou por alguns segundos, respirou fundo e caminhou até a porta do quarto.

- Any - disse antes de sair.

- sim? - olhei pra ela.

- aproveita esse mês, por favor - disse e saiu.

Aquelas palavras me fizeram desmoronar. Eu sabia que as coisas pra mim, só pioraram. Mesmo eu parando de fumar, mu pulmão já estava bem comprometido.

- merda - murmurei, passando a mãos pelo rosto.

Logo a porta se abriu outra vez e vi meu pai entrando.

- eu sinto muito, querida - ele tocou em meu ombro. Sentando ao meu lado.

- tudo bem, vai ficar tudo bem - sorri fraquinho.

Passei o resto da manhã na clínica e fui liberada. Na manhã seguinte, já estava pronta para ir para escola, e agir como se nada tivesse acontecido.

Estava pronta e atrasada.

- mas, que porra - praguejo alto e saio de casa.

Entro rapidamente em meu carro e saio de casa.

Digamos que, talvez eu precise pagar algumas multas.... Meu pai vai me matar por isso.

Entro na escola cantando pneu e olho a hora rapidamente.

- uh, bati meu recorde - sorri convencida. Vendo que faltava alguns minutos para bater o sinal.

Estacionei meu carro na vaga sobrando, ajeitei meu cabelo, peguei minha mochila e sai do carro.

- segurança no trânsito mandou beijos - ouvi a voz de Savannah atrás de mim.

- era uma necessidade - falei simples virando para trás.

Minha melhor amiga me encarava séria, talvez seja porque ignorei todas suas mensagens.

- já pode reclamar - falei, vendo a loira com a sobrancelha arqueada.

- eu pensei que você tinha morrido. Você faltou vários dias e me ignorou, palhaça -  reclamou dando um tapinha em meu braço.

- eu tenho um bom motivo. Em minha defesa eu... Bom, eu precisei fazer uma coisa - falei pensando numa boa mentira.

- que coisa? - Sav cerrou os olhos, me encarando.

Precisava pensar algo convincente, Sav conseguia detectar qualquer resquício de mentira na minha fala ou jeito.

- eu estava no hospital, precisei visitar minha vó - falei rapidamente.

A expressão facial de Sav rapidamente mudou e logo suavizou.

- oh pobrezinha, espero que ela esteja melhor - sorriu empática.

- ela está sim - sorri forçado.

- senti tanta sua falta esses dias, parecia uma eternidade, é muito difícil ficar sem pelo menos conversar com minha alma gêmea - me abraçou, como se esperasse por aquilo por muito tempo.

- calma, amiga. Eu tô aqui - retribui o abraço.

- sim, mas sei lá. E se um dia não estiver mais? Preciso aproveitar sua companhia ao máximo - disse ainda no abraço.

Engoli seco e senti meus olhos arderem.

- eu te amo, Sav - sorri e nos afastamos.

- eu também te amo, mesmo você sendo nojentinha - ela brincou e riu fraquinho.

Eu amava a amizade que eu Sav tínhamos, o cuidado e o amor que uma sentia pela outra, a forma que conseguíamos nos entender.

Tínhamos intimidade o suficiente, mas eu ainda não tinha coragem de contar a ela sobre o câncer que eu estava tratando.
Isso era um problema...

- Nota da autora: eu tinha esquecido de atualizar a fic, mas voltei 💅🏼🤠

O Wattpad não notificou sobre o cap dezenove, depois que eu postei ele já reescrito. Então quem não leu, vai lá.

𝐋𝐨𝐯𝐞 𝐢𝐧 𝐭𝐡𝐞 𝐝𝐚𝐫𝐤 || 𝐍𝐨𝐚𝐧𝐲Where stories live. Discover now