Capítulo 3

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Pov. Luna

Estou voltando do refeitório segurando uma vela que está por fim. Fiquei responsável por arrumar as mesas depois que todos já tinham jantado e provavelmente estão dormindo agora.

 Esse foi o meu castigo por entrar no escritório sem pedir. Normalmente recebo coisas piores do tipo de passar semanas sendo encarregada de limpar o banheiro.

Uma mão segura meu ombro enquanto um saco de tecido é colocado em minha cabeça sem nem mesmo um buraco para respirar. Tento gritar socorro, mas uma mão abafa meu grito. Tudo acontece tão rápido que ao abrir os olhos, estou jogada de um jeito desajeitada no chão do famoso quartinho de limpeza. 

O cheiro de sabão é tão familiar quanto o do meu colchão empoeirado.

Olho para as três garotas em pé, todas sorrindo e esperando eu dizer alguma coisa.

Pensei que isto ficaria no passado. A primeira coisa do orfanato que ficaria para trás.

Levanto e agarro o pulso da Felipa por impulso. As outras duas logo agem impedindo que eu faça qualquer outra coisa. Elas seguram meus dois braços e os colocam para trás das minhas costas.

Não fico surpresa por quererem me dar uma última surra de despedida. Eu que sou idiota por ter achado que nunca mais ficaria com o olho roxo ou trancada em um quarto escuro por três semanas porque ninguém dá falta de uma garota dentre tantas que há aqui. 

Teve época que a Madalena tirou as fechaduras de todas as portas para dar um fim nisso, porém, não adiantou muito.

— O que foi? Não vai avançar para me bater hoje como uma selvagem? — Pergunta Felipa levantando meu queixo apenas com um dedo. — Fiquei sabendo que irá embora.

— Finalmente estarei livre de você, não é mesmo? — Indago. — E se não fosse tão covarde para colocar três contra uma, eu poderia te mostrar agora que eu te venceria fácil. Mas, você tem medo.

Cuspo no pé bem protegido por o belo par de sapatilhas brancas, a baba escorre na ponta demoradamente.

Ela levanta a mão e acerta meu rosto como punição.

— Será apenas isso? Não é capaz de mais? — Deixo meu sorriso crescer no rosto, satisfação por minha saliva ser tão consistente. — Anda! Mas faça direito, para me lembrar de você quando eu estiver bem longe daqui e bem feliz.

Ela acerta outro tapa. Arde quase como se colocassem pimenta em uma ferida aberta.

A encaro por um instante e depois as outras duas meninas, Dandara e Elise, que fazem tudo que a Felipa manda.

— Pare de sorrir sua nojenta. — Ela aperta as minhas bochechas com uma das mãos. Como resposta, fecho os olhos ainda sorrindo e esperando mais uma tapa, no entanto, isso não acontece.

— Acabem com ela.

É o que eu escuto antes de receber um chute na perna que me desestabiliza e caio no chão por isso. Protejo a cabeça e estomago encolhendo o corpo aos poucos com as pancadas que levo.

Eu preciso sair desse inferno. Preciso... eu...

Dandara acerta algum tipo de ripa de madeira, ou algo pesado o suficiente para a minha visão ficar turva e lenta até eu fechar os olhos. Um liquido com gosto metálico escorre para fora da minha boca.

Outra pancada, agora na cabeça e apago. Tudo fica preto. Escuto um zumbido no ouvido.

Acordo com uma bota me cutucando como um bicho morto de semanas. Demoro para abrir os olhos por completo e olhar o rosto do dono do sapato. E quando tento levantar, meu corpo todo dói. O garoto estica a mão envelopada por uma luva me oferecendo ajuda.

Tenebris - Filha da Guerreira Da Terra (livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora