Capítulo 35

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Pov. Luna

Duas refeições ao dia, sempre uma sopa de batata sem sal. Agora percebo que meu paladar já tinha se acostumado com as comidas bem preparadas do castelo. Não sei se estou certa, pelo os meus cálculos já estou aqui a três dias.

O sol bate o dia todo e esquenta as pedras, as vezes penso que estou cozinhando viva. No canto tem uma mesa de madeira que está bem velha e suja de poeira. Perto da janela fica o balde que uso para fazer as minhas necessidades.

Tentei várias vezes me comunicar com a pessoa que traz a comida, e nenhuma deu certo. Me ignora como um gato faz quando o cachorro começa a latir.

Não sei se os dias são mais difíceis ou as noites. 

Está chegando o inverno, o dia é quente e insuportável, mas a noite é fria que chega a doer meus ossos. 

Consegui curar o meu braço quebrado no primeiro dia, mas não consigo curar arranhões que faço tentando quebrar a parede hoje. Estou achando que meu corpo está fraco por causa da comida, talvez estejam colocando alguma coisa para os meus poderes diminuírem.

Teorias. Tenho tempo suficiente para pensar agora. 

**

Pascoal, ele estava no colo da Oriá no exato momento em ela falava com o rei sobre sua amada, Cordelia. Ele foi encontrado no quarto junto com as coisas dessa mulher desaparecida, que agora sei que o culpado é o rei. 

Será que talvez o Pascoal tenha sido o bicho de estimação da Cordelia?

Esse assunto é um dos que ronda na minha cabeça todas as vezes que não estou tentando destruir essa torre para sair. E nesse momento que corto a minha mão e ela sangra, eu penso que deveria ter fugido naquele dia que fui até Siel. A Sol teria me ajudado.

E se....

Não, é loucura demais

Alguém chega para trazer a minha comida. Dou um pulo e vou antes mesmo de fecharem a pequena abertura que enfiam o prato. Consigo sentir a mão da pessoa antes dela se afastar e ir embora.

— Ei!

Se foi. Não tenho nem mais lagrimas para chorar, dois dias atrás elas evaporaram.

Olho no chão, e meu velho prato de comida está ali. Não só ele, um livro também.

"Rapunzel"

Sorrio da ironia da pessoa, dentre tanto livros, logo esse. 

Muito humor para tratar uma prisioneira, a rainha só pode estar se divertindo bastante. A história de uma garota presa na torre mais alta do reino, esperando um príncipe escalar e salva-la.

Ridículo.

Taco o livro longe, na parede gasta.

Vou fazendo o meu máximo para pega-lo de volta. O livro não tem culpa. Pelo menos vai servir para me tirar do tedio.

**

Mais dias se passaram, acho que perdi a conta. 

Li aquele livro tantas vezes, que decorei as falas. Diminuíram a quantidade de comida para uma refeição ao dia. Meu estômago dói, ronca a cada minuto. Aos poucos as minhas pernas estão perdendo a força, e nem meus poderes resolvem isso.

Às vezes florezinhas vem me visitar, crescem nas rachaduras deixando colorido a pedra marrom.

 Agradeço por isso. 

Talvez eu morra daqui uns dias, ou horas.

Olho o livro de capa vermelha com apenas o título e rosas subindo nas laterais. Bonito, nunca tinha visto esse modelo na biblioteca. Era a minha princesa favorita...

Tenebris - Filha da Guerreira Da Terra (livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora