CAPÍTULO 1.

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Quando o assunto é colégios internos da Coréia do Sul, nenhum consegue superar o 4° lugar da nossa lista, Heo Cheongshim. A fortaleza intimidadora nas terras da Coréia tem sido o lugar escolhido para matricular a nobreza e a realeza sul-coreana desde o começo do século 20, mas nunca teve o mesmo brilho que a fama do colégio de ser rigoroso e austero tenha afastado alguns nomes notáveis. Mesmo assim, a área do terreno ocupa 200 acres e já foi um dia, propriedade da família Heo, por isso o nome. Os estudantes de Cheongshim precisam lidar com chamadas de manhã cedo para acordar, lidando com exercícios nos invernos congelantes daquela terra, e enfrentando uma competição exaustiva, conhecida como "O Desafio". Até então o colégio aceitava apenas meninos, porém no próximo ano uma nova etapa começa, dando boas-vindas para a primeira turma feminino em seus cem anos de história.

Capítulo 1.

- Olha, tem um unicórnio aqui.

Abrindo um sorriso, pego a carta  das mãos de Minnie e me recosto no ninho de sacos de dormir e travesseiros que arrumamos dentro da pequena barraca laranja que montei no quintal. O sol se pôs há uma horaz e o único foco de luz é o da minha lanterna Coleman, que está presa em um pequeno gancho do teto da barraca. Desde o sexto ano não fazíamos um acampamento no quintal, mas é verão e estávamos entendidas, então montar a barraca pareceu ser algo divertido a fazer.

- Está vendo agora por que eu queria estudar lá? - pergunto enquanto guardo a carta de volta no envelope - Qualquer lugar que usa um unicórnio na correspondência oficial é um bom lugar pra mim.

- Obviamente - Minnie reforça, se recostando também.

Seu longo cabelo loiro está tingido de turquesa nas pontas e, conforme ela se ajeita nos sacos de dormir, aquelas mechas azuis e brilhantes encostam no meu braço, acelerando meu batimento cardíaco e soltando uma revoada de borboletas no meu estômago.
Apoiando-se nos cotovelos, Minnie olha para mim, seu olhar se sobressaindo sob a luz da lanterna.

- E você entrou!

  Concordando com a cabeça, eu olho para o envelope de Cheongshim, um colégio interno sofisticado nas terras da Coréia do Sul, me segurando para não pegar a carta de novo e ele o cabeçalho.

Cara senhorita Lalisa Manobal:
Temos o prazer de oferecer uma vaga em Cheongshim.

A carta está guardada na minha bolsa há mais de um mês. Ainda nem contei para meu pai. E não tinha planejado falar disso com Minnie também, mas ela a achou quando estava procurando um hidratante labial.

- Então por que você não vai? - ela pergunta, e eu dou de ombros, pegando a carta e guardando de volta no bolso da frente da bolsa surrada que eu carrego comigo para todo canto.
Uma leve brisa sacode o náilon da barraca, fazendo o cheiro das noites do verão tailandês - lembranças das guerrinhas d'água quando eu era menor.

- Lisa, você fala desse colégio o tempo todo já tem, tipo um ano - Minnie insistiu, me empurrando com a mão livre. - E agora você foi aceita e não vai?

Dou de ombros de novo enquanto suspiro e mexo com o cabelo.

- É supercaro - digo, o que é verdade. - Então eu precisaria conseguir uma bolsa. E é bem longe.

   O que também é verdade. Apesar disso não ter me impedido de sonhar em ir pra lá o ano passado inteiro. Cheongshim está no pico nas partes altas da Coréia, cercado por lagos e montanhas, além de todas as amostras de rochas que uma doida por geologia que nem eu poderia querer.  Mas as coisas eram diferentes com Minnie no ano passado. Somos amigas desde os nove anos, e eu tenho uma queda por ela desde os treze, quando percebi que sentia por ela a mesma coisa que sentia pelo Mario Maurer, de Friendship (e todo mundo gostava de Friendship naquela época).
    E minha queda pela Minnie tinha tanta chance de ser correspondida quanto a paixonite que eu tinha por um garoto no qual eu nunca tinha visto pessoalmente).
Pelo menos era o que eu achava.
Agora ela se aproxima de mim sobre o saco de dormir estampado com margaridas que tem desde o primeiro acampamento do sexto ano. Diferentemente de mim, Minnie não curte muito acampar.
  Ela acaricia meu braço com os dedos, deixando as unhas arranharem a pele de leve, e minha respiração trêmula quando fico arrepiada. Cada unha está pintada num tom diferente de roxo, o polegar em lavanda claro, o mindinho num violeta tão escuro que parece preto. Ali, naquela barraca, com a noite de verão ao nosso redor, sinto que poderíamos ser as únicas duas pessoas no mundo.

SUA A.L.T.E.Z.A. REAL  (Chaelisa)Where stories live. Discover now