Capítulo 2.

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- Jackson voltou.

Estou na sala de jogos da casa de Sorn, sentada no chão e encostada no sofá com um controle de Xbox nas mãos. Na TV gigante à minha frente, um dragão agarra meu avatar, lady Lucinda, pela cabeça, sacudindo-a tão agressivamente que o corpo sai voando para fora da tela.

Ótimo.

Descanso o controle na barriga com um suspiro enquanto a tela fica branca.

- Aquela era minha última vida - resmungo pegando a lata de refrigerante ao meu lado. Sorn cutuca meu pé com o dela, suas unhas pintadas num roxo vívido. 

- Lisa, você me escutou?

Do meu outro lado, Bambam se apruma pegando o controle de mim e recomeça o jogo.

- Ela te escutou Sor. Ela não se importa.

- Eu me importo - confirmei -, porque gosto do Jackson e é legal que ele tenha voltado. Só acho que isso não tem nada a ver comigo.

Cruzando as pernas, Sorn endireita a coluna e olha para mim sobre os óculos. São novos, a armação verde ácido brilhante em volta de seus olhos escuros.

- Lisa - ela diz, e eu novo os ombros, desconfortável.

- Eles terminaram - eu a lembro enquanto me endireito também. - Acabaram. E eu e Minnie somos…

- Um caso de verão que vai partir seu coração - Sorn completa, e fecho a cara para ela.

Sorn tem batido nessa tecla desde que contei a ela sobre nós: que Minnie é inconstante, que ela muda de ideia mais vezes do que muda a cor do cabelo, que eu sei como Minnie é.
Sei  que ela diz isso porque se importa comigo, mas, ainda assim, não é o que mais gosto de ouvir e, além disso, ela está errada. E talvez tenha um pouco de ciúmes. Minnie e Sorn eram muito próximas alguns anos atrás, mas, conforme Minnie e eu nos aproximamos, Sorn acabou ficando um pouco de fora. Nosso Quarteto de Amigos está em constante transformação.
O fato de Minnie e eu estarmos juntas agora mudou mais ainda as coisas.

- Minnie é meio excêntrica - Bambam reconhece enquanto seus dedos voam sobre os botões do controle.

Ele olha para mim, os cabelos agora em tons ruivos caindo sobre os olhos.

- Desculpa, Laly, mas você sabe que é verdade. É uma das coisas que amamos nela, mas dá pra ver que isso pode fazer dela uma namorada ruim.

- Você não é exatamente um especialista em namoradas, Bambam - digo, e ele abre a boca fingindo ofensa, o olhar ainda grudado no jogo.

-  Como ousa, Lalisa Manobal? - Então seu rosto abre um sorriso. - E, sim, justo. Mas sou um especialista em você e não quero ver seu coração esmagado. A Sorn está sendo meio chata, mas ela não está necessariamente errada, no que em geral acontece com Sorn, sejamos sinceros.

- Por que eu ainda te chamo pra vir aqui? - Sorn resmunga, pegando a lata de refrigerante e bebendo um longo gole.

- Porque você me ama e quer apoiar meu vício em jogar - Bambam diz, e então solta um grito triunfante quando o dragão cai morto na tela.

Jogando o controle sobre o tapete grosso, ele se inclina sobre mim para alcançar o pacote de salgadinhos de queijo que foi parar debaixo do sofá.

- É um desperdício você ter esse videogame, Sorn - ele diz. - Você nem joga.

  Sorn dá de ombros e eu pego um salgadinho do Bambam, com cuidado para não derrubar farelo no tapete. Não que Sorn ou seus pais se importem. Mas a casa deles é tão bonita que sinto que eu devo me importar.
   O pai de Sorn trabalha para alguma empresa de petróleo em Bangkok, o que significa que sua família tem muito mais dinheiro que a minha ou a do Bambam. Isso nunca foi um problema, mas ainda fico impressionada com o piso lindo, as TVs enormes e como Sorn tem seu próprio banheiro no quarto.
  Agora ela me observa com os olhos semicerrados.

- Minnie disse que você passou para aquele colégio sofisticado na Coréia do Sul.

- Quê? - Farelos cor de laranja voam da boca de Bambam enquanto ele leva uma mão à boca, e eu olho de um para o outro com o estômago embrulhando.

- Ela te contou isso? - pergunto, e Sorn pega o pacote de salgadinhos de queijo de Bambam.

- Sim - Sorn me diz. - Você não vai por causa dela?

  Pego meu refrigerante de novo, mais para ter algo para fazer com as mãos do que por ele.

- Não - digo finalmente. - Não vou porque é cara.

Bambam solta uma risada debochada.

- Sei, porque uma bolsa de estudos não está à sua altura, ó Lady Espertona.

- Exatamente - Sorn concorda e eu apenas dou de ombros.

  Fico incomodada que Minnie tenha comentado sobre isso com a Sorn, especialmente porque eu ainda não tinha contado para mais ninguém.

   Mas apenas falo:
- Provavelmente já é tarde demais para conseguir ajuda financeira. E, de qualquer maneira, foi uma ideia estúpida me inscrever. Eu só... queria ver se conseguiria passar. Eu não queria ir de verdade.

- Pois eu acho que isso é tudo mentira, Lisa - Bamba diz, apontando os dedos do pé para mim. - Você ficou falando da Coréia o ano passado inteiro.

- A gente viu Valente pelo menos três vezes durante as férias de inverno - Sorn complementa, e direciono aos dois o que espero que seja uma expressão severa.

- Eu só estou dizendo - Sorn finalmente diz antes de pegar o controle do chão e desligar o Xbox - que você não deveria abandonar uma grande oportunidade por causa da Minnie.

- Não estou fazendo isso por causa dela - respondo, mas lá está aquele olhar entre Bambam e Sorn de novo e, fechando a cara para os dois, eu pego o controle de volta e ligo o videogame.

Ainda tenho duas horas antes de precisar ir pra casa e, quer saber? Vou matar um dragão.

- Isso não é sobre a Minnie, e, mesmo que fosse, quem se importa? A volta do Jackson não muda nada.

SUA A.L.T.E.Z.A. REAL  (Chaelisa)Where stories live. Discover now