Capítulo 23 - Theo

6 1 4
                                    

Como um país que vivia principalmente através do comércio e da água — hidrovias, hidrelétricas, pesca, entre outras atividadas —, não era realmente uma surpresa que o porto de Vize, a cidade onde Theo chegara, estivesse lotado, o que dificultaria o trabalho dele e ainda mais a concentração de Theo.

Damian havia sido inteligente o suficiente para colocá-lo em um navio que era caro o suficiente para que ninguém pudesse olhá-lo com muita superioridade, mas modesto o suficiente para não atrair atenções indesejadas, o que queria dizer que Theo dividira a embarcação com comerciantes de prestígio e alguns políticos iniciantes em Minciuni pelas últimas horas.

Embora Theo não tivesse ouvido nada sobre a Sociedade do Sangue Negro, as conversas tinham sido úteis o suficiente para que ele soubesse exatamente quem ele deveria procurar uma vez que chegasse no porto para ter a melhor chance que podia em descobrir o que precisava — afinal, um espião não era nada sem conexões.

E era exatamente disso que ele precisava.

Desse modo, ele se encaminhou por entre as pessoas que se apinhavam no porto, indo e vindo para seus destinos, em direção ao bar do outro lado da rua, um lugar que obviamente era caro, mas que seria ideal para fazer conexões.

Diferente de Nikaés, que tinha a maior parte de suas grandes construções feitas de enormes blocos de pedra, Minciuni era mais comedida em sua arquitetura, como se tivesse a intenção de ser muito mais sóbria e modesta que seus países vizinhos — Dewa também tinha alguns trabalhos arquitetônicos impressionantes.

Por isso o bar tinha apenas dois andares e era uma construção estreita apertada entre outros dois prédios com a mesma configuração. Theo já esperava essa mudança — o que chamava a atenção em Miciuni eram os rios, os lagos, e as avenidas, todas as últimas projetadas com esmero para serem amplas e cheias de beleza natura.

A avenida que Theo precisou atravessar do porto até o bar era um belo exemplo: três vias, duas para carros e outra para bicicletas, além da calçada para os pedestres e, no meio e entre as vias dos carros e das bicicletas, uma separação de grama, flores e árvores.

Antes que ele pudesse entrar, no entanto, uma exclamação feminina cheia de irritação fez com que ele se virasse, procurando a fonte do barulho: a alguns metros, um homem segurava uma mulher de pele clara e cabelos cacheados pelo braço com força.

Era óbvio, mesmo de longe, que ele estava tentando convencê-la a alguma coisa — provavelmente o tipo de coisa que faria com que qualquer um ficasse indignado. A mulher não parecia nem um pouco inclinada a aceitá-lo, o que não era nenhuma surpresa.

Quando ela tentou se soltar mais uma vez e o homem a puxou para mais perto, Theo não resistiu à tentação de ir até lá e ajudar. Mantendo sua mão perto do coldre com a faca que Lena lhe dera, ele se aproximou da situação, observando atentamente. Theo ignorou a irritação de ver outras pessoas passando por eles e não fazendo nada, chegando ainda mais perto, o suficiente para ouvi-los,

— Senhor, eu duvido que você consiga até mesmo fazer esse negócio entre a suas pernas subir, que dirá me dar prazer. — Dizia a mulher com clara irritação. Não havia medo em sua voz, apenas uma leve cautela. — Então eu sugiro que me deixe ir antes que eu decida que bater em você vale o escândalo.

Theo não duvidava de que seria um escândalo, a julgar pelas roupas caras e claramente bem cuidadas da moça. O homem pareceu furioso e começou a sacudi-la, esbravejando sobre como ela era uma puta sem dono e que ele deveria ensinar a ela algumas boas maneiras.

Theo se aproximou rapidamente ao ver aquilo, a faca na garganta do homem antes que ele pudesse sequer perceber que Theo havia se aproximado. O homem congelou ao sentir a pulsação da carótida sob a lâmina.

Todos os Demônios do InfernoOnde histórias criam vida. Descubra agora