Little Princess Camz

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Camila chegou em casa ainda sentindo seu corpo muito aceso. Nunca se sentiu assim antes e nem sabia que era possível. Ela finalmente percebeu que nunca sentiu desejo por Metthew. Nem mesmo no começo, quando fingia ser bom. Ele ainda causava nojo com seus beijos, o sexo era nojento e, na maior parte das vezes, forçado. Camila não via dessa forma, ela pensava que era sua obrigação como esposa.


Evelyn já estava em casa, ela entregou Liah nos braços da adolescente e pediu que lhe desse suco enquanto ela tomava um banho.

- Mãe. – a menina chamou e Camila se virou ao pé da escada. – Da próxima vez tenha mais cuidado. Seu batom está borrado.

A morena arregalou os olhos e encostou a mão na boca.
- Não se preocupe, ele ainda não está em casa. Eu cuido da Li, pode ficar tranquila.
- Obrigada, filha. – Camila deu um pequeno sorriso e subiu.

Quando entrou no banheiro ela viu que realmente o batom estava todo borrado ao redor da boca e rezou para que ninguém no caminho tivesse visto.
Geralmente, jamais deixaria algo assim acontecer, mas quando seus lábios tocaram os de Lauren ela perdeu totalmente o controle sobre si mesma.

Lembrou-se das mãos fortes em sua bunda. Dos bíceps definidos sustentando seu corpo. E aquela coisa dura nas calças da outra que cutucou seu clitóris tão bem. Será que era de verdade? A prefeita balançou a cabeça tentando não pensar. Ela precisava esquecer e ignorar isso.
__



Metthew voltou tarde da noite. Bêbado.
Camila esperou acordada e pediu que Evelyn não descesse, não importa o que ouvisse. A adolescente ficou no quarto com a irmã e tentou inutilmente relaxar.


O homem chegou em casa falando alto e arrastando os pés. Quebrou um vaso quando tropeçou em um móvel.

- Inferno! – ele falou com raiva.

Camila colocou seu robe e desceu a contra gosto.


- Metthew, onde você estava? – ela perguntou mesmo que não interessasse a mínima.
- Isso não é da sua conta. Eu faço o que eu quiser.
- Tudo bem. Por favor, não fale tão alto, as meninas vão acordar. – ela pediu numa voz baixa e submissa.
- EU GRITO, SE QUISER! – ele disse elevando a voz. – Essa porra de casa é minha. Você é minha, sua vadia imprestável.  Não tem o direito de me dar ordens.


Metthew se aproximou e beijou Camila de forma rude e descuidada.


Começou a tocar a mulher que, não resistia, mas sentia muito nojo. Talvez aquela fosse uma forma de acalmá-lo. Ele desmaiaria depressa se ela só cedesse.


Ele a empurrou para o sofá e deitou em cima dela quase esmagando-a.

Camila sentia seu estômago revirar. Geralmente teria mais auto controle. Estava acostumada a ser usada por Metthew, mas depois de beijar Lauren, de sentir o toque carinhoso e ao mesmo tempo voraz da mulher, Camila sentiu que aquilo era mais errado do que fora antes. Não queria mais que alguém que não fosse Lauren a tocasse. E essa conclusão foi o principal motivo das lágrimas escorrendo em seu rosto. Ainda que ela não tenho lutado.


O homem se demorou o que pareceu uma eternidade em cima dela. Ele abaixou as calças e a cueca e se esfregou nela sem muito cuidado.

Rosnou irritado porque não conseguia uma ereção. Provavelmente efeito da quantidade absurda de álcool que ingeriu.


Levantou-se irritado puxando as calças.

- Droga, você é uma inútil. Não serve nem pra me deixar de pau duro. – falou com ódio.

Ela se levantou, internamente agradecida.

- Me desculpe, Metthew, eu vou...
- CALE A BOCA! – ele levantou a mão para dar um tapa em seu rosto. Camila fechou os olhos e se encolheu, acostumada àquele movimento.


Mas, nesse momento, a campainha tocou.


A mulher ficou paralisada.


Metthew franziu o cenho irritado.

- Atenda essa maldita porta. Dispense logo quem quer que seja e venha para o quarto. – ele ordenou e subiu as escadas com dificuldade.

Metthew mal bateu na cama e desmaiou.


Camila se recompôs da melhor forma possível e abriu a porta.


Ela viu Chris e Lauren parados com a expressão séria que geralmente não tinham.

- Xerife e assistente Jauregui. – cumprimentou de maneira formal. – Já é um pouco tarde. Aconteceu alguma coisa?
- Me diga você, senhora prefeita. – Lauren pediu. – Recebemos uma denuncia de possível agressão.
- O quê? Quem denunciou? - perguntou nervosa.
- Um de seus vizinhos. Ouviram gritos do que parecia ser uma briga doméstica. A senhora e suas filhas estão bem? – Chris perguntou.
- Claro, foi tudo um mal entendido.

Camila acompanhou o olhar de ambos que pousou no vaso quebrado atrás dela.

- Ah isso foi... Metthew acidentalmente tropeçou na mesa e o derrubou.

- Eu gostaria de checar suas filhas, se a senhora não se importa. – Chris pediu.


A prefeita abriu a porta um pouco mais.

- Por favor, seja breve. – pediu e ele assentiu. – Lá em cima, última porta à direita.

Chris entrou e subiu.

Lauren a olhou preocupada.


- Camila, se você precisa de ajuda pode pedir. – A voz preocupada aquecendo o coração da prefeita.
- Está tudo bem.
- Se ele é violento com você ou as meninas, tudo o que precisa é me dizer. Nós vamos protegê-las. Eu sei que não deve ser fácil. Deve parecer assustador. Mas estamos aqui. Eu, Chris e acredite, tem muito mais gente nessa cidade que está do seu lado.
- Metthew bebeu um pouco esta noite. Ele chegou gritando no celular quebrou esse vaso acidentalmente então algum vizinho deve ter ouvido e interpretado isso de maneira errada. – Camila respondeu séria.
- Por que será que essa soa como a história mais falsa que já ouvi?
- Eu não sei, xerife. E sinceramente não me importo.


Lauren se aproximou e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha da outra. Ela acariciou delicadamente a bochecha com seu polegar.

- Camila, você não está sozinha, não mais. Me deixe cuidar de você.

A morena sentiu seu corpo todo reagir àquele toque. E as lágrimas começando a se formar em seus olhos.


Mas ela ignorou isso e agarrou o pulso da mulher com certa violência empurrando para longe.

- O que aconteceu hoje foi um erro, xerife. Eu amo meu marido e estamos muitos felizes. Por favor pare de se meter na minha vida. – pediu com aparente convicção.


No andar de cima, Chris viu a porta entreaberta e Metthew deitado na cama. Ele tinha o braço pendurado na beirada e roncava alto.

O rapaz estreitou os olhos e controlou o ímpeto de entrar lá e espancá-lo.

Continuou até o quarto que Camila havia indicado e abriu a porta encontrando as duas meninas encolhidas no canto da cama. Totalmente amedrontadas.

Ambas relaxaram um pouco e Evelyn correu para ele se jogando em seus braços.

A menina foi quem ligou. Disse que achava que sua mãe iria ser agredida por seu pai e pediu que viessem logo mas não contassem que foi ela.

- Está tudo bem, Eve. Vocês estão seguras agora. Metthew já está dormindo. Nossas mães estão lá embaixo conversando.

Ela soluçou baixinho com o rosto enterrado em seu peito.

- Ele a machucou?
- Aparentemente não. Acho que chegamos a tempo. – ela assentiu um pouco mais tranquila mas ele não a soltou.

Liah engatinhou sobre a cama e puxou a camisa do rapaz. Ele a pegou com seu braço livre e apertou suavemente contra o corpo.

- Hey, pequenina, está tudo bem. Já passou. – falou sentindo ainda mais ódio de Metthew. A vontade crescente de ignorar as consequências e executar o homem adormecido com um tiro na testa.


Ele confortou as duas um pouco mais antes de colocá-las na cama com um beijo de boa noite.


- Eu falei sério aquele dia, Chris, queria que você fosse meu irmão. – Evelyn falou baixinho.
- Talvez eu ainda seja um dia. – ele piscou e ela sorriu. – Agora durma um pouco. Vocês precisam descansar.

Ela assentiu.

- Boa noite, Chris.
- Boa noite, meninas. – falou antes de sair pela porta e fechar.


Ele respirou profundamente algumas vezes antes de andar pelo corredor e usar toda sua calma para ignorar a porta ainda semiaberta.


Desceu as escadas e encontrou sua mãe e a prefeita ainda conversando. A segunda parecia brava mas Chris podia ver que estava assustada.


- Tudo bem? – perguntou e Camila assentiu.
- Vocês já podem ir. Eu disse à sua mãe que foi tudo um mal entendido. Lamento que tenham perdido seu tempo. – falou automaticamente.
- Sra. Cabello, você pode confiar em nós. – Chris falou.
- Eu sei disso. Simplesmente não há nada acontecendo aqui. Gostaria que meus esforços policiais fossem gastos em coisas realmente relevantes se não se importam. – ela disse de cara fechada, com os braços cruzados, segurando o robe.


- Claro, prefeita. Nós estamos indo. – Lauren falou e Chris quis protestar mas, ao olhar o rosto de sua mãe, se conteve.


Eles saíram e Camila trancou a porta, soltando um suspiro aliviado. Ela correu escada acima e percebeu que teria paz por pelo menos algumas horas.


Deitou-se no sofá e chorou baixinho até adormecer.




Camila evitou contatos com os Jauregui depois disso.

Metthew estava mais agressivo. Não tentou uma agressão física mas as verbais eram diárias. Ele a humilhava o quanto podia.


Lauren e Chris ainda estavam preocupados, mas não havia muito o que pudessem fazer naquele momento.


Eles ficaram de olho na mansão, no entanto, não encontraram nada concretamente suspeito.
Qualquer tentativa de aproximação não profissional de ambos foi rechaçada por Camila.

Evelyn também não entrou em contato e Chris não o fez com medo de que Metthew visse seu celular e castigasse a menina.



Lauren encontrou Camila duas semanas depois numa loja. A mulher parecia abatida e cansada. Os olhos fundos e tristes. Ainda mais do que já era quando eles chegaram a cidade.


Observou de longe enquanto a via parar na sensação infantil.

Havia um cobertor cor de rosa com algumas coroas desenhadas. Quando Camila tocou ela sorriu timidamente. Era extremamente macio. Acariciou por um minuto antes de Lauren se aproximar com um sorriso conhecedor.

A morena se afastou do objeto como se fosse um animal peçonhento.

- Olá, prefeita. – cumprimentou.
- Olá, xerife.
- Ele parece muito aconchegante. – apontou e a mulher corou violentamente.
- Sim, claro. Eu estava olhando e pensando que talvez Liah gostaria disso. – falou depressa.
- Claro... Liah. – disse com um ar divertido. - Como vocês três estão, aliás?
- Bem. Estamos bem, obrigada, tenho que ir. – respondeu inquieta e virou-se.
- Não vai levar o cobertor? O inverno está chegando.
- Ela já tem muitos. Não será necessário. – falou como se não fosse importante.

Lauren pegou o objeto felpudo e segurou contra o corpo.

- Bom, parece que é o último. Eu vou levá-lo então. – falou vendo o olhar incomodo e aparentemente magoado de Camila.

- Pra você, Srta. Jauregui? – zombou.

- Para alguém especial. - ela comentou e viu a expressão da morena se fechar em uma cara emburrada e ciumenta.

- Claro. Até mais. – respondeu mal humorada e a outra apenas sorriu em resposta.
__


Lauren levou aquilo para casa. Ela pensou se estava apenas projetando seus desejos em Camila mas achava que não. Viu o olhar da mulher. E depois o que foi toda aquela cena envergonhada? Afinal ela tinha mesmo uma filha pequena, se estivesse olhando aquela sessão e pensando na menina não haveria problemas em dizer. A coisa mais normal do mundo, uma mãe comprando coisas para sua garotinha.


Ela o lavou e teve o cuidado de dormir com ele algumas noites, certificando-se que seu cheiro estaria impregnado por toda parte. Também bordou discretamente numa dobra mais escondida.
Quase não podia ser visto. Só se prestasse atenção, mas estava lá.
__



Lauren sabia que Metthew estava no bar, como sempre. Evelyn na escola. Camila devia estar sozinha com Liah.


Ela foi até a mansão e tocou a campainha com o pacote de presente em mãos.


Camila a recebeu. A pequena Liah estava dormindo.



- Xerife. – a mulher se pôs rígida enquanto sentia seu coração disparar.
- Oi, prefeita. Posso entrar?

A outra não questionou. Apenas lhe deu passagem.
Ela preparou um chá e Lauren sentou-se junto a bancada da cozinha.


- Queria me desculpar por como as coisas ocorreram. Eu gosto de você. E seria bom se mantivéssemos um bom relacionamento, sabe, pelo bem da cidade.
- Claro. – concordou. – Você tem razão. Eu peço desculpas também. Deixei as coisas ficarem confusas para você.
- Está tudo bem. Olha, eu te trouxe um presente. Para me desculpar. – ofereceu o pacote.

Camila deu um largo sorriso, sem conseguir disfarçar a animação por ganhar seu primeiro presente em anos.




- Obrigada, mas não era necessário. – falou gentilmente.
- Eu quis mesmo assim. – disse simplesmente.


Ela abriu o pacote e seu coração disparou quando viu o cobertor  que havia visto na loja a dias atrás.


- Oh, isso é...
- Sim, pareceu que você gostou dele aquele dia.

Camila assentiu timidamente.

- Claro, você quis dizer, um presente para Liah

Lauren sorriu. Um sorriso conhecedor que parecia desvendar Camila e a fez corar. Fez a mulher se sentir exposta. Como se Lauren soubesse exatamente quem ela era. O que ela era. Engoliu em seco com esse pensamento. Impossível. Ela era muito boa em disfarçar e poucas pessoas sabiam sobre essas coisas.

- Como eu disse, para uma pessoa especial. – Lauren respondeu.
- Obrigada. Tenho certeza que ela vai adorar.
- Tenho certeza que sim. – falou com aquele mesmo ar. – Tenho que ir, prefeita. Qualquer coisa me ligue.

Lauren saiu deixando Camila ainda pensativa. Ela correu para o quarto de hóspedes. Onde Metthew nunca entrava. Era quase seu refúgio.

Abraçou o cobertor e sentiu o perfume de Lauren invadir seus sentidos. Quase perdeu o ar com a sensação e pequenas lágrimas molharam seu rosto. Tentou não ceder mas era difícil as vezes. Mais forte do que ela.

Camila se permitiu ficar ali por alguns minutos. Deitou-se ainda agarrada ao pano e inspirou profundamente o cheiro que teve um efeito calmante em seu corpo.

Ela colocou o polegar na boca enquanto brincava com uma das pontas do objeto, até que viu algo bordado num lugar discreto e oculto. Foi quase sorte que ela visse.

Pegou a ponta e trouxe para perto do rosto observando atentamente. “Little Princess Camz”  ela leu e a cor sumiu de seu rosto.

Lauren sabia.

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