A ilha da bruxa

8 2 1
                                    

Diane remou até certo momento. Sabia que devia estar chegando, pois sentia um cheiro muito podre vindo de algum lugar a frente. Remou pelo que pareceram horas. Num momento, parecia estar perto, no outro parecia estar ainda muito longe. Algo lhe dizia que a ilha era amaldiçoada e que de alguma forma, se ela não lutasse contra aquele sentimento de desistir, ela não chegaria nunca. Então, ela fechou os olhos e cantarolou sua música favorita. Só parou quando sentiu um tranco suave a sua frente. O barco havia encostado na terra.

A ilha fedia como se houvessem bichos mortos por todo lado. Parecia mais um grande pântano. Um lago percorria o meio da ilha com um tom de verde musgo aparentemente tóxico.

Diane se apressou e procurou pela casa da bruxa. Andou até o meio da ilha, tendo que atravessar o lago por uma ponte de corda que rangia a cada passo. Finalmente, encontrou uma casa feita de madeira escura, com telhado pontudo e preto. Havia uma grande porta e uma grande janela redonda acima. Diane bateu na porta, uma, duas vezes. Ninguém atendeu. Olhou ao redor e viu um botão reluzente e dourado, ao lado da porta, que ela não vira antes. Apertou e escutou o que pareceu um sono de igreja alto e reverberante.

A porta se abriu rangindo. Ela entrou devagar, desejando estar fazendo a coisa certa. A casa estava escura e parecia vazia.

- Olá? - ela perguntou.

Então, velas se acenderam por todo lado. Diane se assustou.

- O que deseja? - uma voz de idosa perguntou.

Diane andou até o som da voz, que vinha do cômodo ao lado. Uma senhora estava sentada a mesa com a cabeça baixa olhando suas mãos, que seguravam uma xícara pequena de chá. Havia um véu preto cobrindo sua cabeça. Tudo o que dava para ver era uma boca ressecada que parecia assoprar o chá quente.

- Você... Deve ser a bruxa. - Diane se forçou a ficar calma. Precisava falar com clareza e ser esperta com aquela mulher. Não podia demonstrar medo. - Meu nome é Diane. Eu venho... Pedir uma coisa.

A bruxa continuou em silêncio. Então Diane prosseguiu.

- Minha... Amiga, está presa numa maldição. Ela virá um dragão às vezes e...

A bruxa se levantou, o que fez Diane se assustar e recuar um passo.

- Você está falando daquela Mary, não está? Ela deve ter gostado de você, para ter deixado você vir aqui... Pena que foi em vão. Vá embora.

- Do que você está falando? - Diane perguntou.

- A maldição daquela garota é uma das piores que eu já vi. Não fui eu que a joguei nela, e não sei quem foi a bruxa tão rancorosa que dirperdiçou um maldição tão poderosa numa garota tola como aquela. Mary está destinada a ficar sozinha para sempre, vivendo eternamente enquanto todos ao seu redor morrem. E, de fato, ela viu os pais, toda a sua vila querida, até mesmo seus pretendentes, envelhecerem e morrerem. Até sobrar somente ela.

Diane não podia imaginar quem seria capaz de lançar uma maldição como aquela numa jovem princesa que tinha a vida toda pela frente.

- O que Mary fez de errado? - Diane perguntou.

- Como eu disse, não fui eu a bruxa que lançou a maldição. E não sou especialista em retirá-las. Só posso dizer que Mary fez algo extremamente perigoso, permitindo sua vinda aqui.

- O que quer dizer? - perguntou Diane.

- A maldição permite que alguém venha e tente tirá-la da vida da garota. Mas somente uma pessoa durante toda a vida de Mary. Se não obtiver sucesso, a pessoa amaldiçoada morrerá. Ela com certeza confiou em você para isso, e agora morrerá. - disse a bruxa.

Diane começou a sentir vertigens. Ficou tonta por um momento, então fechou os olhos com força e chacoalhou a cabeça. Tentou se concentrar e pensar em outro plano. Se ela voltasse sem ter retirado a maldição, Mary morreria. Diane podia simplesmente ir embora, mas um pensamento horrível lhe ocorreu. E se outras pessoas fizeram aquilo? Simplesmente foram embora, e deixaram Mary sozinha, sem respostas. Aquilo fez Diane ter que segurar o choro, pois imaginou o tamanho da solidão e dor que aquela princesa passara na vida.

Então, como se alguém tivesse ligado uma luz em seus pensamentos, ela teve uma idéia.

Disse para a bruxa todo o seu plano.

- Você é maluca. Vá embora daqui! - disse a bruxa.

- Eu pago! - disse Diane.

Então tirou do bolso um saquinho cheio de moedas, com todo o seu último salário. A bruxa pegou o saquinho e o abriu, olhando o que tinha dentro. Depois, sorriu - o que fez Diane sentir vontade de vomitar ao ver os dentes podres - e assentiu com a cabeça, guardando o dinheiro em sua blusa.

- Certo. Venha comigo. - disse a bruxa.

Diane a seguiu mais para dentro da casa. Tudo parecia extremamente sujo. Diane tapou o nariz para suportar o cheiro, mas parecia impossível fazê-lo. Chegaram num cômodo pequeno e estreito, com uma cama de solteiro cheia de gatos dormindo encima.

- Deite-se entre os gatos. Preste atenção no ronronar deles, deixe a mente limpa.

Diane fez tudo. Por um momento pensou ser bobagem. Mas então ela se sentiu extremamente relaxada e simplesmente dormiu.

RECOMPENSAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora