Capítulo 4 - Surpresas

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   Naruto sentia-se inquieto. A vontade era de andar em círculos até que um buraco se abrisse no chão, mas mantinha a compostura enquanto encarava a porta do quarto de hóspedes.
   Os olhos azuis analisaram por um momento o jovem a sua frente, sentado no chão, agitado, com as costas coladas na parede e os olhos fixos a qualquer movimento na porta ao seu lado.
   - O que houve meu irmão? - sentiu que precisava quebrar aquele silêncio, o moreno parecia precisar falar o que pensava.
   - Eu senti desespero. - Konohamaru finalmente tirou os olhos da porta, o semblante agora era baixo - Vendo aquela cena, eu só agi. E ela desmaiou, por minha culpa.
   - Qual foi a cena que você viu? - ele tinha uma noção do que poderia ter levado o menino a fazer o que fez, mas queria que ele colocasse para fora.
   - Ela estava cozinhando. Me lembrou daquela mulher, e eu só explodi. - abraçando os joelhos, o menino que já estava ficando tão alto, encolhia-se, parecendo somente uma criança aos olhos de seu irmão mais velho.
   O loiro bagunçou levemente o cabelo do outro, esperando que isso o fizesse lhe olhar nos olhos.
   - Me perdoa! - e vendo o espanto do moreno, ele sorriu e completou - Preciso voltar a discutir alguns assuntos com o Shikamaru, então, quando avisarem como ela está, me conta.
   E mesmo que quisesse ficar ali, grudado na porta junto ao irmão esperando por notícias, decidiu que aquele momento era importante para outra pessoa, então, voltaria mais tarde.

*------*

   Hinata sentia a cabeça dolorida quando se forçou a abrir os olhos. Seu corpo estava pesado, exigindo muito dela para se mover.
   - Senhorita Hinata! - ouviu a voz de Tenten e se virou para localizá-la - Como você se sente?
   - O que aconteceu? - esforçando para sentar-se, tentava lembrar como havia parado ali.
   - A senhorita desmaiou. - um leve e rápido tremor fez-se presente ao ouvir aquela voz.
   Konohamaru se encontrava ao lado da porta, encostado na parede, braços cruzados e expressão indecifrável.
   - Perdoe-me senhor! - e para o desespero da acastanhada, a outra se curvou, mesmo ainda levemente debilitada, com os cabelos negros formando uma cortina a frente de seu rosto. - Não era minha intenção lhe dar tal incômodo, não irá acontecer de novo!
   O jovem via a forma como a voz da mulher estava baixa e trêmula, como o nó dos dedos esbranquiçava pela força com o qual apertava os lençóis, e a facilidade de assumir culpada e pedir perdão.
   Ele podia não ser um adulto ainda, mas não era tolo. Seu irmão o fazia ler livros enormes sobre todos os tipos de assuntos que julgasse útil para a vida do menino. Ela parecia sincera.
   - Não é necessário curvar-se desta forma senhorita, levante-se por favor! - sendo amparada, ela se sentou novamente. Se dissesse que a cena não o incomodara, estaria mentindo, então, limpou sua garganta e continuou - Admito que excedi um pouco em minha reação, então, desculpe-me por isso. Mas saiba, eu não confio na senhorita.
   Um sorriso suave se apossou dos lábios vermelhos, já ouvira coisas piores. E ao perceber um leve rubor nas bochechas do menino, ele já não lhe parecia tão intimidador.
   Ela acabara de se mostrar a pessoa mais confusa que ele já havia conhecido em toda vida.

*------*

   Batidas na porta do escritório fizeram o Uzumaki levantar sua cabeça dos infinitos papéis em sua mesa. E a cena a seguir definitivamente não era o que esperava.
   Seu irmão entrava no recinto com as bochechas vermelhas, com Hinata a seu encalço. A mulher parecia calma, alheia ao constrangimento do outro, ou talvez, divertindo-se com ele.
   - Meu irmão, a senhorita pediu-me para acompanhá-la até você. - via claramente a dificuldade que ele possuía em se manter formal.
   - Lorde Uzumaki. - antes que pudesse se pronunciar, a doce voz o chamou. Ela parecia menos calma agora - Eu gostaria de vir pedir-lhe perdão. Causei incomodo a todos, não irá se repetir.
   - O que fazia na cozinha senhorita? - direto ao ponto, os olhos azuis analisavam cada mínimo movimento, esperando qualquer sinal que não lhe parecesse sincero.
   - Bom, inicialmente, eu somente estava com vontade de agradecer ao cozinheiro. Mas, todos foram tão gentis, que quando vi, já estava com minhas mãos na massa! Estava fazendo um de meus doces favoritos, não achei que fossem se incomodar por isso. - não sabia por qual motivo estava contando tudo, não era de falar tanto, fora criada para se manter sempre calada - Sinto muito, deveria ter pedido permissão antes.
   Naruto estava surpreso, esperava que ela fosse reclamar do tratamento que lhe era direcionado, mas a mulher estava agora de frente a ele, aceitando toda e qualquer culpa. E o mais impressionante, Konohamaru ao lado da moça, não parecia surpreso, na verdade, talvez um pouco incomodado.
   Vendo a falta de reação do marido, a moça assumiu o pior, deveria ter se mantido calada, agora provavelmente ele estaria ainda mais descontente com ela. Respirou fundo, e se curvou.
   - Se os senhores preferirem, não voltarei a entrar mais na cozinha. - não tinha certeza de como conseguira dizer a frase toda sem explodir em lágrimas. Cozinhar sempre fora sua paixão, a cozinha sempre fora seu refúgio, e agora, era a única coisa que podia fazer para se sentir perto de sua mãe estando tão longe, se não pudesse mais entrar nela, não sabia o que faria.
   Ele ouvira bem? A mulher a sua frente acabara de sugerir uma punição pra si mesma? Estava acostumado a ver isso no meio de seu exército, onde tudo era rígido demais para evitar qualquer falha, mas no caso dela, não fazia sentido. O moreno a sua frente também parecia estar surpreso agora. Algo dentro de si agitou-se.
   - O quão está acostumada a fazer isto? - as palavras escaparam de seus lábios antes que pudesse conter-se.
   A mulher levantou-se voltou a olhá-lo, havia confusão nas íris claras. Era como um espelho, tão claro e transparente quanto ao que se passava na cabeça dela. Reformulou sua pergunta.
   - O quão acostumada está a se culpar por coisas mínimas e a aceitar qualquer punição por isso?
   A pergunta a pegou de surpresa, esperava irritação para com ela, mas recebia preocupação. Ele parecia tão frio na maior parte do tempo, mas agora, tendo a chance de puni-la, não o fazia. Perguntava sobre ela. Voltou a curvar-se.
   - Fui ensinada a reconhecer meus erros senhor. - abaixe a cabeça e aceitei quieta, era o que a mãe sempre a dizia.
   - Sente que errou senhorita? - a resposta veio de um pequeno concordar de cabeça - Hinata.
   Era a primeira vez que dizia o nome da mesma em voz alta, um nome bonito, parecia combinar com a dona. Esta que tornou a levantar-se reta e a olhá-lo ao ser chamada, via compreensão nos olhos brilhantemente azuis.
   - Teuchi veio até mim, contar-me que não fazia nada mais que um doce, e que o mesmo estava presente durante todo o processo. - as duas luas, que o fitavam quase sem piscar, arregalaram-se diante de tal declaração. Ele dizia calmo, quase com delicadeza, e seus olhos agora eram tudo, menos frios - Por qual motivo eu deveria proibir sua pessoa de entrar na cozinha?
   Ele acabara de jogar fora uma oportunidade de mandar a moça de volta para seus pais. Mas não o podia fazer agora, não quando via a menina carregar uma culpa que não lhe era pertencente. Era frio? Sim, não poderia negar, mas não seria um monstro. Acharia outro motivo para cancelar o casamento.
   Algo dentro dele parecia querer reviver a cena da frágil moça a sua frente o olhando em completo desespero e apagando em seguida. Sentia-se estranho, e agitado. O que sentia seria culpa?
   - Não a impedirei de acessar a cozinha, só peço para que não fique lá desacompanhada. Sempre que o cozinheiro ou algum dos ajudantes estiverem presentes, sinta-se livre. - um sorriso, tão genuíno e contagiante iluminou a face branca como porcelana. Desarmado, era a sensação que possuía - Só vou pedir-lhe para, caso sinta vontade de fazer alguma outra atividade, avise ao Konohamaru ou a mim, entendido?
   - Sim, senhor meu marido! - e ainda sorrindo, a pequena mulher saiu após uma leve troca de acenar de cabeças. O loiro se viu tendo que arrumar sua postura que relaxara um pouco.
   Um par de olhos ainda o analisavam. E este que sobrara consigo no local parecia procurar como falar o que pensava.
   - Fale logo pirralho!
   - Eu não entendo irmão! - e vendo a sobrancelhas loiras arqueadas em sua direção, ele explicou - Por que ela é assim? Ela me pediu desculpas também, não esbravejou ou rebelou-se.
   Um suspiro escapou de ambos os lábios.
   - Eu também ainda não entendo pirralho. - viu a cara descontente pelo apelido - Eu esperava tanto quanto você aquela reação. Tenho algumas hipóteses, mas nenhuma me agrada.
   Uma das hipóteses fez, lá no fundo, o instinto protetor do General Uzumaki rugir. Mesmo que não dissesse, e negasse até mesmo para si, ele preferia que ela fosse só mais uma dama mimada, pois, o que via dela até agora começava a preocupa-lo.
   Seria mais fácil para ele mandar para fora de sua vida alguém que o irritasse. Se por um acaso começasse a sentir-se afeiçoado a ela... Não conseguia nem mesmo pensar no quanto estaria em problemas.
   Com esse pensamento, saiu deixando um Konohamaru confuso para trás. Precisava achar Shikamaru, e traçar com ele um plano, urgentemente!

  
  

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