IX

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O lugar estava cheio, isso não incomodava Selenia nem um pouco, ela vivia em seu próprio mundo e o olhar dos outros não interessava em nada. O que lhe fez ficar desconfortável foi o fato de Jhon Shelby enlaçar o braço no dela, como se fossem realmente um par. O rapaz simplesmente a puxou para trás quando ela desceu do carro e segurou seu braço, como o perfeito cavalheiro que ele não era.

- Fique perto de mim. - Ele disse baixinho. - Caso alguma coisa aconteça e você se perca de nós, procure por qualquer homem com uma navalha costurada na boina e fique perto dele que até que te encontremos.

- E o que pode acontecer de tão ruim assim em um lugar desses? - Ela se referia a extrema fineza que o local e as pessoas que o frequentavam aparentavam ter.

- Quando os Peaky Blinders estão em um lugar, a única coisa certa é a guerra. - Jhon disse orgulhoso, com um sorriso no rosto.

- Vocês são loucos. - A mulher comentou.

- Qualquer pessoa que nos conhece, pelo mínimo de tempo que seja, senhorita Spellman. - Thomas se meteu na conversa. - Percebe que nós não temos um pingo de juízo.

- É por isso que nossas mulheres costumam pensar por nós. - Jhon apertou o braço dela ao seu.

- Não pretendo pensar por você, Jhon. - Ela retrucou.

- Não penso em você como minha mulher, senhorita Spellman. - Ele deu um sorrisinho convencido, havia conseguido o que queria, deixar a mulher sem graça e confusa. Mas Selenia não ficou para trás, ela fingiu não ter ouvido o sussurro do homem, ao mesmo tempo em que ele falava, acenou para um cavalheiro que lhe encarava boquiaberto. O rapaz logo tratou de devolver o aceno, tirando seu chapéu e fazendo um cumprimento educado. Ela fez menção de soltar o braço de Jhon, para ir falar com o homem, mas o rapaz segurou seu braço com força e a olhou um pouco irritado. - Não saia do meu lado, Selenia.

A mulher não conseguiu segurar a risada que se formou em sua garganta diante da reação de Jhon Shelby. Ele a encarou por alguns momentos, incrédulo com o que havia acabado de acontecer, ele havia percebido o que Selenia tinha feito e percebeu também que não era páreo para ela. Jhon gostaria de não ter apreciado a atitude ousada da mulher, mas ele não pôde evitar que seu interesse por ela se tornasse ainda maior. Ele puxou Selenia para longe da multidão, ela precisava fazer suas mandingas no animal e ele precisava afastá-la de tantos olhos atentos. Jhon não podia negar, Selenia e Hiraeth haviam se tornado a atração da corrida, caminhavam chamando atenção, como se os Peaky Blinders já não chamassem atenção o suficiente.

Michael se encontrava igualmente incomodado com a atenção que Hiraeth estava atraindo. Ele nunca foi um rapaz de gostou de estar no centro das atenções, mas, isso era parte do trabalho quando se fazia parte da família Shelby. Sua mãe tentou de tudo para afastar o garoto dos primos e tios, lhe deu o sobrenome do pai para que ele pudesse se mudar para Nova York assim que tivesse idade e não haveria nenhuma relação com os Peaky Blinders. No entanto, para o desgosto de Polly Shelby, seus filhos se interessaram pelos negócios da família. Michael por quê era ambicioso e inteligente, Finn por quê considerava os primos como heróis. Ela quase levou a casa a baixo quando Thoma lhe contou da integração de Michael na companhia Shelby, quis xingar o sobrinho e bater nele, mas sabia que nada adiantaria.

Enquanto Jhon puxava a irmã mais velha para as coxias dos cavalos, Michael puxou a mais nova para o camarote reservado para os Shelby, fazendo questão de estar com as mãos nela o tempo todo, marcando o território. Ninguém tinha coragem de mexer com um Peaky Blinder e menos ainda com uma Spellman. Naquele momento Michael percebeu que a junção dos dois sobrenomes poderia agregar muito valor para sua família, deixá-los completamente intocáveis. Ele estava feliz por estar com ela, observava os sorrisos bobos que Hiraeth soltava ao ver cada coisa nova, ela estava muito entusiasmada com tudo e isso o deixava encantado. Michael sabia que estava se apaixonando e ele não via nenhum problema nisso, seu coração soube, no momento em que seus olhos encontraram os dela pela primeira vez, que seria ela.

Quando chegaram nas coxias, Selenia já sentia o que precisava fazer. Ela nem precisou ver o animal, ou tocá-lo, para perceber que havia sido feito. Com uma certa dificuldade, ela largou o braço de Jhon e se aproximou de Thomas, que acariciava a crina do animal, o homem olhava com carinho para o cavalo, com uma admiração que, até então, Selenia não havia visto nele. Thomas suspirou e se afastou quando ela ficou de frente à égua, a mulher passou as mãos calmamente sobre a crina e nariz do animal, que não parecia assustado com a sua presença.

- A sua égua foi amaldiçoada, senhor Shelby. - Ela concluiu. - Alguém quer muito lhe causar prejuízo.

- Você pode fazer algo a respeito? - O homem estava agitado, quase não conseguia ficar parado no lugar.

- Posso. - Vendo o nervosismo de Thomas, ela se afastou um pouco, em direção a uma mesa largada por lá. Jhon seguiu em seu encalço, além de interessado por ela, estava extremamente curioso com o que a moça iria fazer.

Thomas veio logo depois, olhando para os lados, checando se não haviam ninguém espiando, ele parou ao lado do irmão mais novo e cruzou os braços. Não queria e nem podia apressar a mulher, então se contentou em soltar longos suspiros e segurou o desejo de acender um cigarro, ele sabia que ela não gostava. Selenia tirou de dentro de sua bolsa um pequeno potinho transparente, feito de puro cristal e algumas ervas secas. Com as mãos, ela esfarelou as folhas, se agachou rapidamente e pegou um punhado de terra, jogando sobre as folhas.

- Eu preciso de fogo. - Disse sem olhar para os homens e logo uma caixa de fósforos foi posta sobre a mesa.

Ela acendeu um dos palitinhos e o jogou dentro do pote. O fogo, que deveria ter se apagado rapidamente, se transformou em uma labareda vermelha e amarela, que subiu rápido enquanto ela proferia algumas palavras em uma língua desconhecida. Quando o fogo se apagou, as folhas e a terra haviam se transformado em cinzas, que ela despejou na mão e caminhou novamente até a égua. Os irmãos se entreolharam enquanto seguiam a moça, ela parou e observou o animal, fez carinho em sua cabeça e então soprou as cinzas, que se espalharam com o vento e se agarraram ao pêlo.
Estava feito.

Graças aos seus amigos do outro lado.

Fix You -John ShelbyDonde viven las historias. Descúbrelo ahora