XXVIII

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No dia seguinte, Selenia se levantou bem cedo. Ela queria sair de casa antes que Hiraeth acordasse e quisesse ir com ela, desistindo de passar o dia com Michael. Ela se sentia culpada por estar tomando tanto tempo dela, o namoro dos dois estava no início e tanta coisa já havia acontecido, impedindo que os dois vivessem o momento como deveriam. Ela imaginou o que sua mãe diria nessa situação, vendo Hiraeth se relacionando com um gângster, com certeza seria contra e tentaria arrumar um casamento arranjado para as duas. A mulher sentia falta da família, não sabia deles desde que foi embora, tinha certeza de que o pai não escrevia por quê a mãe não permitia, afinal, em todos os lugares do mundo, eram as mulheres que comandavam os lares. E sua mãe a odiava por não ter acatado tudo que ela quis impor e por ter sido abençoada com os dons da avó no lugar dela.

Ela dispersou esses pensamentos quando um carro da polícia parou ao lado dela. Ela engoliu em seco e esperou para saber o que os homens queriam, diante da ameaça que recebeu de Billy Kimber, ela até podia imaginar do que se tratava.

- Senhorita Spellman. - Os homens a encararam com sorrisos de escárnio.

- Senhores. - Ela se limitou a dizer.

- Lamentamos atrapalhar o seu passeio, mas precisamos que a senhora nos acompanhe. - Selenia estranhou.

- Posso saber o motivo?

- Recebemos uma denúncia de que a senhora estaria praticando bruxaria para ajudar o senhor Shelby nos negócios. - Responderam rapidamente.

- Acha que sou uma trapaceira, oficial? - Ela abriu seu melhor sorriso e viu um dos guardas suspirar.

- Apenas estamos cumprindo o nosso dever, senhorita. - O homem abriu a porta do carro e desceu. - Espero que a senhora possa nos acompanhar sem oferecer resistência.

- É claro, senhores. - Ela segurou a mão que o oficial lhe ofereceu. - Não tenho nada a esconder.

- Ei, o que está acontecendo aqui? - Selenia ouviu a voz de Finn Gray. - Por quê estão levando ela?

- Vocês não podem fazer isso! - Um rapaz, que ela reconheceu ser Isaiah, um amigo de Finn, exclamou.

- Rapazes, não precisa disso. - Ela tentou acalmar os meninos.

- Soltem ela! - Finn se alterou. - Ela está sob proteção dos Peaky Blinders. Selenia viu dois dos guardas se encolherem no banco de trás do carro, mas o oficial não.

- Isso não tem nada haver com você. - O oficial engrossou a voz. - Não se meta, ou será levado junto com ela.

- Vocês vão se arrepender de estar fazendo isso! - O rapaz gritou.

- Finn! - Selenia o interrompeu e o rapaz lhe encarou. - Está tudo bem. - Ela sorriu falsamente. - Vá embora daqui.

- Mas, senhorita Spellman... - Ele tentou argumentar.

- Eu estou bem, está vendo? - Ele assentiu. - Me dê um abraço, venha cá. - O menino se aproximou lentamente e Selenia o envolveu em um abraço.

- Me desculpe senhorita. - Ele sussurrou nervoso. - Não sei por quê eles não te soltaram quando falei que está sob nossa proteção.

- Me escute, Finn. - Ela sussurrou. - O oficial é um dos homens de Billy Kimber, então avise a seus primos que não adianta me procurar na delegacia, por quê não vão me encontrar lá. - O garoto assentiu levemente. - E, por favor, protejam a minha irmã.

Finn foi puxado bruscamente dos braços da mulher e a porta do carro foi fechada. O carro cantou pneu e a mulher viu os garotos ficarem para trás, antes de sumir em uma esquina, pôde ver eles saírem correndo em disparada. Selenia não estava ocupada consigo mesma, só queria que sua irmã ficasse bem. Ela viu a delegacia passar rapidamente pela janela do carro, mas não se surpreendeu, quando o homem não se assustou com a citação dos Peaky Blinders, ela teve certeza de que ele não estava somente cumprindo ordens da justiça. Ela suspirou pesadamente, se perguntando para onde os homens a estavam levando, eles não saíram da cidade, o que era um ponto positivo, mas pararam em frente a uma casa enorme, que Selenia soube, assim que pôs os pés para fora do carro, que pertencia a Billy Kimber.

- Senhorita Spellman! - O homem ostentava um largo sorriso. - Que bom revê-la.

- Lamento não poder lhe dizer o mesmo, senhor Kimber. - Ela o cortou.

- Vejo que nossa convivência não será das melhores. - O homem estalou a língua. - Tragam ela.

Os homens agarraram os braços de Selenia e começaram a caminhar com ela pela grande entrada da mansão. Ela não ofereceu resistência, apenas caminhou com graciosidade, como se a situação não lhe abalasse em nada.

- Vocês sabem que tenho a fama de ser bruxa, não sabem? - Ela lançou um sorriso e os homens se entreolharam, com receio.

- Não precisam ter medo dessa mulher. - O oficial a encarou com desdém. - Ela não vai poder fazer nada enquanto usar isso aqui.

O homem ergueu um colar feito de ossos, igual ao que Selenia havia visto em seu sonho e então a mulher finalmente entendeu que seus amigos do outro lado haviam lhe avisado de coisas muito mais importantes do que ela imaginava.

- Vocês tem tando medo assim de mim? - Ela desdenhou. Mesmo completamente rendida, ela jamais abaixaria a cabeça.

- Sabemos o que fez com o cavalo de Thomas Shelby. - O homem respondeu quando eles finalmente entraram no grande salão. Billy Kimber andava bem mais a frente, como se a presença dela não importasse, mas ela sabia que o homem estava finalmente satisfeito por tê-la.

- Eu não fiz nada demais. - Ela deu de ombros. - Vocês me viram fazendo algo?

- Não, eles não viram. - Uma voz feminina interrompeu. - Mas eu te vi fazer muitas coisas, senhorita Spellman.

Selenia quase ficou cega de ódio quando viu Linda Shelby lhe encarando com um sorriso no rosto.

- Linda. - Ela sibilou.

- A senhora Shelby é a minha testemunha, Selenia. - Billy Kimber sorriu. - Você sabe, ela é um membro muito respeitado da igreja.

- Eu deveria ter amaldiçoado você quando teve a audácia de me ofender. - O sorriso no rosto da mulher aumentou.

- Mas você não vai poder fazer isso. - Linda desdenhou quando o oficial colocou o colar de ossos no pescoço de Selenia. A mulher sentiu as pernas bambearem e sua expressão ficou abatida imediatamente.

- Eu não vou precisar. - Selenia tentou disfarçar. - Quando Thomas descobrir que você o traiu, nem minhas maldições vão ser cruéis o suficiente perto do que ele vai fazer com você. - O sorriso presunçoso de Linda sumiu imediatamente e a mulher ficou branca como papel.

- Vadia desgraçada. - Linda se aproximou com a mão estirada, pronta para dar um tapa, mas Billy segurou seu pulso bruscamente.

- Senhora Shellby. - O homem disse, ainda segurando firme o braço dela. - Não ouse encostar na minha convidada.

- Eu vou embora daqui. - Linda bateu o pé e saiu apressada. Selenia chegou a sentir pena da mulher, de um jeito ou de outro, pelas suas mãos ou pelas de Thomas, era uma mulher morta.

Fix You -John ShelbyOnde histórias criam vida. Descubra agora