XII

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Selenia estava um pouco alta, havia bebido metade da garrafa de whiskey enquanto conversava com Polly. Ela sentia falta de conversar com alguém mais velho, que pudesse lhe aconselhar sobre as coisas, pois, desde que se mudou com sua irmã, ela era a que sempre dava conselhos. Ela recebia conselhos dos seus amigos do outro lado, eles estavam sempre sussurrando coisas em seus ouvidos, mas ela realmente sentia falta de conversar com pessoas reais. Depois de um tempo sua bexiga apertou e ela se despediu de Polly brevemente, caminhando entre os bêbados e as pessoas que dançavam, a mulher se esquivou até conseguir alcançar o pequeno banheiro do bar. Sua bexiga agradeceu quando foi esvaziada, quando se levantou do vaso, sentiu a cabeça girar um pouco e se deu conta de que já estava na hora de parar de beber.

Ela caminhou até o balcão quando saiu do banheiro, precisava de uma água tônica para centralizar os pensamentos novamente. Sentada no banco de frente para o balcão, com o copo cheio de água, ela observou calmamente o salão. Muitas pessoas dançavam animadas, mulheres deslumbrantes caminhavam elegantemente, desfilando toda sua beleza e jogando charme para os homens, principalmente para os homens da família Shelby. Havia uma moça muito bonita esbanjando sorrisos para Jhon Shelby, Selenia havia visto ela passar cinco vezes na frente do rapaz, sorrindo e levantando o copo em cumprimento, esperando que ele tomasse a atitude seguinte, mas ele não fez, em nenhuma das vezes.

Os olhos dele não desviavam de Selenia em nenhum momento. Jhon Shelby nem percebeu as repetidas vezes em que a moça lhe lançou sorrisos lascivos. Tudo que ele queria era jogar Selenia dentro da sala de reuniões que sua família tinha no Garrison e só sair de lá quando tivesse ouvido a mulher gemer seu nome mil vezes. Mas ele se contentou em soltar longos suspiros, seguidos de baforadas de cigarro.

- O que você tem? - Arthur passou o braço pelo ombro do irmão e o puxou.

- Me deixa em paz, Arthur. - Jhon resmungou, mal humorado.

- Por quê está tão mal humorado, irmãozinho? - Ele perguntou quando Jhon se soltou de seu braço.

- Por quê ele está interessado na senhorita Spellman. - Thomas respondeu calmamente. - Ele ficou emocionado com uma suposta visão que a Polly teve.

- Cala a boca, Tommy. - Jhon se mexeu incomodado.

- E por quê você não vai lá falar com ela? - Arthur apontou para a moça sentada no bar.

- Por quê ela não vai querer nada com ele. - Thomas se intrometeu. Ele não queria que Jhon desse um jeito de estragar o que estava sendo construído com a mulher, ela era muito valiosa.

- Você está interessado nela? - Arthur percebeu o aborrecimento na voz do irmão mais novo e soltou uma risadinha de escárnio, ele sabia que, assim como todos da família Shelby, quando Jhon queria algo, ninguém conseguia impedi-lo de conseguir.

- Não precisa ter ciúmes, Jhon. - Thomas sorriu. - Eu tentaria casar ela com você para termos uma aliança,  mas Michael já está me fazendo esse favor mesmo sem saber.

- Você não vai perder essa amargura nunca? - Jhon o encarou. - As pessoas não são contratos, Tommy.

- Então vá a luta, irmãozinho. - Thomas disse debochado. - Não deve ser mais difícil do que ir à guerra.

Thomas conseguia irritar Jhon ao extremo, o homem queria controlar tudo ao seu redor, inclusive a vida dos irmãos e primos. Ele procurava entender por quê o irmão era assim, tentava achar motivos na guerra, nas perdas familiares, em tudo. Mas a verdade é que Thomas Shelby era movido pela sede de dinheiro e poder, ele queria ser grande e queria continuar sendo depois que morresse, que seus descendentes fossem ricos como ele não foi na infância. Mas isso irritava Jhon, ele sabia que os Peaky Blinders eram grandes, respeitados e temidos, eles não precisavam de tantos acordos, eles poderiam simplesmente expandir os negócios de apostas, legalizar as coisas, abrir bares e fábricas. Ele queria que seu irmão fosse feliz. Ele não achou Selenia no bar, onde a tinha visto minutos antes, logo seu corpo ficou alarmado e ele fez uma rápido varredura no local.

Selenia estava cansada, seus pés doíam por causa do tempo em cima dos saltos, a mulher era acostumada a andar descalça na maior parte do tempo, pois estava sempre em casa. Sentia seus dedos latejarem apertados contra o couro enquanto caminhava em direção à saída, ela queria ir embora. Seu caminho foi interrompido por um homem de aparência séria. Ele esboçou um sorriso falso para a moça e a encarou profundamente, Selenia não sentiu algo bom vindo dele, um arrepio percorreu sua espinha e pela primeira vez em muito tempo a mulher sentiu frio na barriga, de medo. Seus amigos do outro lado se agitaram e começaram a sussurrar, todos ao mesmo tempo, impossibilitando que ela entendesse qualquer coisa.

- Senhorita Spellman. - Ele se curvou lentamente. - Ouvi dizer que você faz milagres.

- Eu não faço nada, senhor. - Ela respondeu seca.

- Billy Kimber. - Ele estendeu a mão, esperando que a moça a segurasse, mas ela não o fez. Selenia estava ficando nervosa com a presença do homem, tudo nele emanava maldade, ela sentia medo e repulsa, não queria encostar nele e correr o risco de ter vislumbres da vida dele. Ela precisava dar um jeito de se livrar daquela situação. - Me concede uma dança? - O homem perguntou quando viu que a mulher não iria segurar sua mão.

- Me perdoe, senhor Kimber. - Ela começou.

- Me chame por Billy. - Ele fingiu gentileza, mas ela sabia que isso não lhe agradava.

- Eu estou muito cansada. - Ela continuou, ignorando sua colocação. - Meus pés estão doendo, eu já estou indo para casa.

- Eu posso levá-la. - Ele se adiantou. O estômago da mulher gelou, por impulso, seus olhos procuraram por um rosto conhecido, ou o brilho de uma navalha. Lembrou das palavras de Jhon quando chegaram a corrida e esperava que elas ainda estivessem valendo.

- Ela veio comigo, Billy. - Como um sopro de esperança, a voz de Jhon soou bem atrás da mulher. Ela sentiu os braços do rapaz rodearem sua cintura e puxarem seu corpo para si, chocando suas costas contra o peito dele. Jhon Shelby apoiou o queixo no topo da cabeça dela e encarou o homem a sua frente. A expressão de Kimber havia perdido a falsa gentileza, ele olhava com desdém para Jhon. - Eu posso cuidar da minha mulher.

Jhon puxou Selenia para longe, ela ficou em choque com o que ele havia dito, não teve nenhuma reação no momento, mas quando Jhon segurou sua cintura e começou a se movimentar pelo salão, ela teve o impulso de tentar se soltar dele.

- Fique quieta e me escute, bruxa. - Jhon colou o corpo da mulher ao dele e sussurrou em seu ouvido.

Ele não podia negar que estava adorando a situação.

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Atenção: Na história real dos Peaky Blinders, Billy Kimber não morre pelas mãos de Thomas Shelby e sim em um lar de idosos, aos 63 anos. Portanto, ele estará presente como maior inimigo de Thomas e sua família neste livro.

Fix You -John ShelbyOnde histórias criam vida. Descubra agora