9_Uma gota de destruição nunca matou ninguém

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Me sentia como se estivesse voando alto, muito alto, em direção ao céu durante uma nevasca. Não sabia como descrever melhor, mas essa era a exata sensação que me rondava enquanto eu estava ao redor de Tristan. Como se meu corpo pudesse flutuar e eu tivesse a capacidade de sair do chão, livre, alcançar alguma coisa que eu nunca tinha alcançado. E quando finalmente alcançava, quando finalmente conseguia tocá-lo, beijá-lo, um frio perpassava minha pele me arrepiando bruscamente. Como tocar a neve. As vezes parecia frio demais dentro do meu corpo quando encostava nele, as vezes parecia desafiador. Mas nunca confortável.

Fomos juntos ao cinema dois dias atrás e eu mal tinha conseguido prestar atenção do filme. Enquanto ele estava do meu lado, sua mão esquerda tocou a minha, fazendo uma leve carícia sobre minha pele transmitindo carinho. Eu fiquei feliz por conseguir sentir que mesmo diante de uma tela gigante ele estava me dando atenção. De sentir que eu era querida e desejada por ele de alguma forma. Por mais que não estivesse em busca de um namorado, como eu não tinha memória a não ser a dos últimos três anos, para mim tudo aquilo era como a primeira vez. Como se ele fosse meu primeiro namorado, muito embora parecesse bem ridículo a ideia. Era obvio que eu já tinha namorado antes, não poderia ter passado anos durante a adolescência sem nunca ter saído com mais ninguém. Mas sem memória, como teria certeza?

Quando saímos do filme e ele se inclinou para frente para me beijar achei que me apavoraria com seu toque, mas não foi o que aconteceu. Senti seus lábios passarem pelos meus, macios, calorosos, gentis. E não senti absurdamente nenhuma sensação nova. Não foi decepcionante, foi apenas normal. Não senti meus sentidos sendo arrebatados, não experimentei uma impressão completamente nova da realidade. Tudo que aconteceu foi que o beijei e senti calor emanando da sua boca. Isso não parecia estar errado, mas também não parecia estar certo:

-Qual delas você gostou mais? _ a voz de Tristan me tira da minha longa corrente de pensamentos que me levava cada vez para mais longe de aonde estava. Depois que fomos ao cinema eu disse que gostaria de conhecer aonde ele morava. Marcamos então dele me levar até o hotel em que estava morando já alguns meses. A cidade de onde ele viera, aonde tinha a empresa de seu pai era distante, segundo ele. Ele preferia não manter uma casa aqui, ficava hospedado em um hotel o tempo todo, durante os momentos em que fazia faculdade. É claro que assim que cheguei até o hotel percebi que a estrutura do prédio era elegante e muito bem decorada. Uma noite ali seria bem cara, praticamente o salário do mês inteiro de Cornélio. Não comentei nada para não o deixar sem graça, mas morar em um hotel me parecia bem impessoal.

A ideia de Tristan foi me levar até a cobertura do hotel, aonde eles tinham uma estufa. Assim que entrei e vi a parte de cima toda refeita em um paisagismo moderno, quase desmaiei de tanto encantamento. O jardim era belo e vasto de diferentes espécies de plantas e flores. A estufa era abarrotada de rosas e orquídeas, sem mencionar outras espécies que eu tinha visto somente pelo livro de botânica. Tinha até mesmo uma fonte ao lado da estufa, rodeada de flores belas transpassadas de arbustos verdes magnânimos. Estávamos parados ao lado da fonte, eu estava tocando as pétalas de uma margarida, já há alguns minutos:

-Gwen?

-O que? _ olho para ele, me afastando da flor.

-Você não respondeu minha pergunta_ ele indica. Os olhos azuis serenos fitam os meus, tranquilos_ qual delas é sua favorita?

-Flor você diz? _ pergunto, voltando meu olhar para trás, para todo o belo conjunto de flores que me cercava.

-Sim_ Tristan confirma. Passo meu olhar pela vasta extensão de espécies e percebo que não tinha exatamente uma favorita. Me ocorre de repente que eu não tinha comentado em nenhum momento desde que o conheci que plantas e flores eram a minha paixão.

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