cold.

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Um arrepio subiu de minha espinha até meu pescoço, fazendo-me encolher por alguns breves segundos. Olhei para trás um tanto quanto receosa, apenas para encarar o vazio atrás do banco em que eu descansava. Algumas crianças que brincavam de frente para mim chamaram minha atenção com um barulho, então fui quase que obrigada a tirar os olhos de minha parte posterior.

Soltei um suspiro cansado enquanto encarava a garrafa azul que descansava ao meu lado, me preparando para voltar para casa depois de minha caminhada diária. Me levantei com pesar, me espreguiçando enquanto soltava um grunhido abafado devido ao alívio que sentia. Antes de começar a andar, dei uma última olhada na visão airosa do parque municipal de Los Angeles.

Enquanto caminhava de volta a minha casa, senti o espaço ficar mais pesado a cada passo que dava. Não conseguia evitar de olhar de canto os arredores da via em que me encontrava, as vezes até me virando de costas para observar detrás. Apertava o passo, tentando ir cada vez mais rápido, mas evitando demonstrar que estava correndo. Muito possivelmente não havia ninguém ali, provavelmente era apenas uma impressão causada pelo medo. Caminho por esse lugar todos os dias, não é comum ter pessoas por aqui a esse horário. Não sabia se esse era um motivo para agradecer ou para me preocupar.

O ambiente ficava cada vez mais frio, então por automático minhas mãos quentes afagavam os meus braços que tremiam de forma fraca. Minha respiração ficava cada vez mais pesada, devido ao pavor que se instalava entre as entranhas do meu corpo. Então, eu a vi.

Seus olhos inteiramente pretos como o céu acima de minha cabeça, fiquei paralisada sobre sua presença distante. Me encarava de longe, logo atrás de uma árvore grande, ela sabia que eu a via, e eu sabia que ela sabia. Engoli a seco, fechando meus olhos com uma força que quase me fazia sentir dor, esperando que quando eu os abrisse tudo não passasse de uma visão criada em minha mente, devido medo em meu corpo. E quando os abri, ela estava lá. Não consegui me mexer, não consegui proferir sequer uma palavra, estava tudo paralisado, estava presa em sua órbita. Tudo o que consegui fazer, foi dar alguns passos para trás, impossibilitada até mesmo de piscar, minha boca aberta deixava claro que estava surpresa com sua presença. Ela sabia o que eu sentia.

Esbarrei com um corpo em movimento, que fez com que minha atenção se voltasse totalmente para ele enquanto praguejava.

— Olha por onde anda, ó! — O homem de meia idade que levava um cachorro em sua coleira proferiu pouco alto.

— Eu... Eu sinto muito. — Gaguejei, voltando meu olhar para a árvore em que a criatura antes estava, percebendo o lugar completamente vazio.

Isso foi estranho e muito real para ser apenas um fruto de minha imaginação.

De qualquer forma, foquei em meu caminho, dessa vez não escondendo que corria de forma abrupta. Me senti mais tranquila quando meu corpo ficou mais quente, eu suponho que tenha sido devido a adrenalina a que foi submetido.

Toquei em meu portão com desespero, procurando seu ferrolho de forma rápida, me apressando para abri-lo. Quando adentrei o quintal da minha residência, respirei aliviada.

— Mãe! Cheguei. — Gritei, me dirigindo até a porta grande da casa espaçosa e com uma quantidade exagerada de janelas.

— Ártemis, que bom que chegou. Correu tudo bem? — Mamãe respondeu meiga, secando suas mãos antes úmidas em um pano de prato jogado na pia.

— Sim. Tudo certo. — Menti, tirando meus sapatos e os encostando no canto da porta, junto aos outros sapatos que também estavam lá. — Quer ajuda para o jantar?

— Não, querida! Está tudo bem. Estou quase terminando, na verdade.

— Tudo bem então. Vou subir, beijo. — Joguei um beijo para o ar, subindo as escadas de forma apressada, fazendo um alto barulho se alastrar por toda a casa.

Passei meus olhos sobre a casa com paredes brancas, consideravelmente espaçosa. O chão de madeira escura e genuína, todos os móveis combinando com as paredes, exceto a geladeira cor de prata que contrastava com o resto do ambiente inteiramente branco. Assim que abro a porta do meu quarto, é possível ver a diferença do resto da casa, já que uma das paredes tinha um preto fosco que permitia que eu desenhasse com giz sobre ela. Uma bagunça confortável era visível no lugar, com tintas espalhadas pelo chão, manchando até certa parte do tapete.

Senti o ambiente ficar mais frio conforme o tempo passava. O "TicTac" Do relógio de ponteiro ficava cada vez mais alto em minha cabeça, me fazendo grunhir em irritação. Cada vez mais frio. Meu corpo se arrepiava em resposta, mas eu tentei ignorar, me encolhendo de costas para meu guarda roupa. Sentei na cama, atrevendo-me a olhar da canto para trás, me senti aliviada em não ver nada além do comum. Respirei fundo antes de levantar em direção ao banheiro, para tomar uma ducha quente antes de me preparar para dormir.

[...]

Acordei com a respiração pesada. O escuro do quarto tomou conta de minha visão, eu piscava lentamente tentando entender o que estava acontecendo. Tentei me mexer, mas meu corpo não respondeu ao comando. Me forcei a observar o ambiente de maneira rápida, olhando para os dois lados. Meu olhar caiu sobre o canto do quarto, onde uma figura alta se encostava na parede desenhada com giz branco, ela me encarava estatística, seus olhos totalmente pretos se fixaram contra os meus, senti um frio descomunal por todo o meu corpo. Tentei gritar, e eu juro que me esforçei, mas nada além de alguns murmúrios escaparam de minha garganta.

— Não adianta tentar se mexer. — Uma voz doce como mel invadiu meus ouvidos, meu corpo inteiro se arrepiou. Isso me deixou ainda mais nervosa, forcei meus olhos a se fecharem, esperando que a garota de cabelos negros sumisse. — Fechar os olhos não vai me fazer desaparecer, docinho.

Always Look Behind You. - Billie Eilish. [G!P]Onde histórias criam vida. Descubra agora