never made to be touched.

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* Ártemis pov.

O calor da manhã batia contra minha pele, a cortina semi-aberta fazia com que a luz invadisse um ponto fixo do meu quarto, a luz refletia através do espelho, batendo direto em meus olhos. Murmurei irritada, tentando me virar para evitar a claridade.

Minhas tentativas de voltar a dormir são em vão, já que antes que eu consiga fechar meus olhos por completo, o despertador vibra alto, me deixando ainda mais irritada. Me levanto do conforto da minha cama e quase que esmurro o relógio que vibra tentando me acordar. Caminho até o espelho, encarando meus cabelos castanhos e longos extremamente bagunçados, minhas olheiras estão tão marcadas quanto nunca.

Enquanto encarava o meu reflexo, percebi a imagem pouco visível atrás dos panos brancos das minhas cortinas, seus olhos estavam negros como de costume, e embora tivesse me acostumado com sua aparência assustadora, ainda preferia quando seus olhos eram tão azuis quanto as ondas do oceano.

— Billie? — Seu lindo nome saiu de meus lábios quase como uma canção, uma melodia reconfortante de se ouvir.

Ela andou até mim de forma lenta, com as mãos dentro de seus bolsos. A luz refletia sobre sua pele clara, diferentemente dos seus cabelos escuros que não espelhavam a luz que batia contra os fios. Fiz questão de me virar para olhar para sua silhueta com mais clareza, Billie parou de caminhar, ficando apenas estática em minha frente, sem dizer sequer uma palavra. O silêncio era agoniante, mas não desconfortável, no entanto, a incerteza invadiu meus pensamentos, me deixando pouco assustada em sua presença. Me permiti a dar alguns passos a frente, deixando uma distância curtíssima entre nossos corpos. Conseguia sentir sua respiração bater em minha face, conseguia sentir meu coração bombear mais forte, fazendo o nervosismo se espalhar em todo o meu corpo.

Engoli a seco. Eu podia me mexer, eu podia virar de costas e seguir meu caminho, mas eu não queria. Toda aquela proximidade me agradou, e isso fez com que eu me sentisse estranha. Meus olhos não se fixaram nos olhos alheios como sempre costumavam, dessa vez, sua boca carnuda chamou a minha atenção, mais do que qualquer outra parte do seu rosto perfeitamente simétrico. Não consigo evitar de me prender a sua atmosfera, mas dessa vez, era uma decisão, embora fosse irracional, eu gostava da falta de distância entre nós.

Pude sentir Billie aproximar seu rosto ao meu de uma maneira lenta, de uma maneira tão devagar que senti que passaram-se anos. Sua mão veio até meu rosto, deixando um carinho delicado em minha bochecha, e eu me permiti a me aproximar um pouco mais.

— Ártemis! Já está acordada? Está tarde, você vai se atrasar! — Mamãe bateu na porta, me fazendo pular de susto, afastei meu corpo de Billie de forma rápida.

— Já estou acordada, mãe. Não se preocupe! — Retruquei pouco apressada. Não fiz questão de olhar para Billie antes de pegar minha toalha e quase que voar para o banheiro do meu quarto.

Mas que porra foi essa? Isso foi tudo que consegui pensar. Fechei a porta, descansando meus braços sobre a superfície lisa, solto um suspiro de alívio, mas ao mesmo tempo cansado. Me olho no espelho grudado a parede antes de me deslocar até o box e deixar a água quente cair sobre minha pele.

[...]

Fiz questão de evitar Billie durante toda a manhã. Não queria conversar sobre o que aconteceu, ou melhor, sobre o que quase aconteceu. Embora eu sentisse seu olhar queimar sobre mim durante a aula inteira, apenas tentava ser discreta enquanto fugia de sua presença, indo “Ao banheiro” a cada intervalo de aula ou mudança de professor, assim não teríamos sequer um segundo para conversar sobre a situação. Mas o fato de que ela residia em minha casa me deixava nervosa, já que teríamos que ficar juntas durante todo o resto do tempo.

Eu queria beija-lá. Isso me envergonhava, porque eu não deveria desejar tanto os seus lábios. Então por que eu desejava?

Assim como das vezes anteriores, quando a aula acabou e o professor de inglês saiu de sala, eu o acompanhei, seguindo caminho até o banheiro. Porém, diferentemente das outras vezes, senti alguém me seguir.

— Ártemis, você está bem? — A voz de Billie se aproximou, me fazendo bufar em irritação a apertar meu passo.

— Estou ótima. — Respondi seca.

— Mas você não parece bem. — Ela respondeu confusa. Eu sabia que não poderia mentir, ela tinha noção de como eu me sentia, e isso era totalmente injusto. Eu nunca poderia mentir sobre isso para ela.

— Então pare de olhar. — Respondi sarcástica, acelerando ainda mais meus passos. Eu sabia que ela não me deixaria em paz.

— Você não pode me evitar! — Ela exclamou, brava.

— Não só posso, como vou. Agora, você poderia me deixar em paz, por favor? — Parei de andar repentinamente, encarando-a com raiva.

— Não. — Falou curtamente, cruzei meus braços irritada. — Foi algo que eu fiz?

— Nem tudo é sobre você, Billie! Oras, apenas me deixe sozinha. — Voltei a andar, desta vez mais lentamente. Eu podia sentir ela caminhar atrás de mim, apesar dos passos silenciosos.

— Então qual é o problema, Ártemis? — Eu podia escutar a clara irritação em sua voz.

— Eu sou o problema. E você só está sendo irritante em me perturbar. Apenas me esqueça por um tempo, finja que eu não existo, tanto faz. — Reclamei com a de cabelos escuros, minha voz estava um pouco alterada, deixando a situação um tanto dramática.

Para ser honesta, estava me sentindo em um filme clichê, onde a boa moça finalmente quase beija o personagem principal, e então começa a evita-ló. Mas a diferença é que nós não terminaríamos juntas, isso sequer era uma possibilidade.

Eu pude escutar a porta do banheiro abrir logo após ser fechada. Eu sabia que Billie não me deixaria em paz, mas isso não me impediria de tentar evitar essa conversa.

— Se te ajuda, a gente pode fingir que aquilo não aconteceu. — Ela disse baixinho.

— Aquilo o que, Billie? Nada aconteceu. — Suspirei, evitando olhar nos olhos da garota. Não tinha coragem de sequer de olhar para seu rosto.

— Eu sei que você quer, Ártemis. Eu só estou esperando que você perceba isso. — Ela sussurrou, me fazendo levantar os olhos para enxerga-lá. — Não tem nada de errado nisso.

— Eu não quero querer. O que tem de errado é isso. Eu não quero olhar para você e te... desejar. — Retruquei, tão baixo quanto um sussurro.

— Por que? — Sussurrou com a voz carregada com algum sentimento que eu não entendia.

— Eu... Eu não sei. — Foi o que eu disse logo antes de sair do banheiro. Me surpreende ver que a garota não me segue, mas eu não reclamo, apenas sigo meu caminho.

Então, percebi. Talvez eu tenha caído em sua armadilha. Talvez tenha caído em seu oceano e me afogado entre as ondas brutas que se rebelavam contra meu corpo frágil.

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* Gente, o wattpad não notificou, mas eu lancei um capítulo antes desse. Valorizem porque dois capítulos em um dia é raridade ein. 😟

Always Look Behind You. - Billie Eilish. [G!P]Where stories live. Discover now