Capítulo 18

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{Primrose}

Me desculpa. Me desculpa. Me desculpa.

Era isso que eu estava escutando nos últimos dias de meu pai. Desculpa. A palavra ecoava na minha mente a todo o momento agora. Ele disse aquilo uma, duas, três vezes. Me perguntava se ele ainda diria mais vezes, quantas vezes ele ainda tentaria. Quantas vezes ele diria que sente muito, que não deveria ter feito tal coisa. Quantas vezes ele ainda tentaria demonstrar que estava arrependido.

Arrependido. Desculpa, a palavra "desculpa", vem de culpa, de se sentir mal por algo que fez.

A palavra se torna banal a partir do momento que você a usa sem remorso. Muitos ainda conseguem cometer o mesmo erro várias e várias vezes e ainda ter coragem de usar a palavra "desculpa", como se fosse melhorar. Mas nem sempre pedidos de desculpas eram justos com quem os recebia, já que desculpas não apagam o que aconteceu. Desculpas não te fazem esquecer.

Eu sequer respondia quando ele falava, apenas assentia com a cabeça. Apesar de tudo, não queria discutir, algo dentro de mim, ainda sentia vontade de gritar, mas... Aquela vontade parecia começar a se colocar tão funda dentro de mim, e tão apagada.

Ele me deu um vestido novo, pensando que assim eu fosse abrir um sorriso para ele, que eu reagiria como sempre, mas eu apenas acenei com a cabeça, agradecendo baixo. Não soube se o vestido significava algo para ele, mas, para mim, o vestido não significou nada, foi apenas uma lembrança de que eu poderia passar como um belo objeto.

— Vai ficar tudo bem, Primrose - Amélia me confortava. Já tinha perdido a conta de quantas vezes ela tinha me dito isso também. Eu estava escutando as mesmas coisas todo dia.

Não sabia ao certo quantos dias tinham se passado, não que fosse importante. Mas, os dias eram tão similares que as horas se passavam facilmente enquanto eu encarava a janela fechada, vendo o sol vir e partir. As horas muitas vezes, conseguiam se tornar rapidamente dias, e os dias, de repente, semanas. Não muitas, disso eu sabia, mas com certeza, semanas.

Naquele dia, Amélia tinha me tirado da cama, com muita paciência, e feito eu me banhar, para que ela conseguisse pentear meu cabelo.

Tinha conversado um pouco com a mesma, e algo me dizia que meu pai também tinha dito algo a ela, não que ela precisasse. Amélia era observadora demais. Ela sabia que algo estava errado, e não demorou muito para saber exatamente o que era.

— É apenas um casamento, coisas assim acontecem o tempo todo - ela continuou suavemente, e eu franzi levemente as sobrancelhas. Amélia parecia estar em uma corda bamba. Por um lado, ela parecia querer concordar comigo, mas pelo outro, ela sabia que não importava o que ela achava, já que no final, ela sabia de quem era a última palavra — Além disso, o filho de Eris me pareceu um macho respeitoso, e talvez ele te deixe participar das coisas tanto quanto ele - ela olhou meu rosto pelo reflexo do espelho que parecia murchar novamente, e então tirou as mãos do meu cabelo e suspirou — Mas, você ainda prefere ser Grã-Senhora - me virei um pouco olhando diretamente para seu rosto quando ela fez uma pausa, como se ela aguardasse minha resposta — Por que?

Receber o título de Grã-Senhora ia muito além daquilo, não era apenas pelo título. Era pela minha voz. Queria ter uma voz, e não viver de canto, tendo minha voz abafada pela de outra pessoa. 

Movi meu olhar para fora, para onde eu conseguia ver a luz e a natureza. Meu lar. Minha natureza. Minha luz.

— Por que esse é meu lar, eu quero cuidar dele, quero cuidar do meu povo - expliquei, com minha voz um pouco baixa. Me lembrei da minha última visita até a aldeia, do garoto com a mãe, vivendo com tão pouco, por conta de uma colheita ruim — Quando eu fui até a aldeia pela última vez, ela ainda continuava linda. Mas, mesmo assim, eu vi pessoas na pobreza. Pessoas vivendo de forma tão simples e com tão pouco que não pareceu justo - fiz uma pausa — Como um terreno tão lindo e florido pode ter tantos espinhos? - perguntei para mim mesma, e finalmente olhei para ela novamente — E se os problemas na Corte forem sérios, não posso... Não vou deixar meu povo assim - prometi, apesar de saber que havia saído vazio. Não havia nada que eu pudesse fazer

Corte de Labirintos de Rosas e Estrelas Onde as histórias ganham vida. Descobre agora