Capítulo 4

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Emily Osíris.

Presente...

-- Aonde você vai? -- Gritei, acelerando meus passos para tentar me aproximar dela.

Lilith se vira, seu rabo de cavalo chicoteia contra o ar e seus olhos verdes me fulminam. Aperto meus dedos ao redor da chave do carro que era de Thomas, e encaro a garota teimosa que virou uma irmã para mim.

-- Eu? Eu estou indo embora dessa merda mentirosa. -- Resmunga, cerrando as mãos ao lado da barra de seu short jeans. -- Achei que éramos amiga, Emily.

-- E nós somos. -- Afirmo.

Lilith força um sorriso, seu olhar se focando na casa atrás de mim. Eu não preciso me virar para saber o que ela está vendo, presumo que Max esteja nos observando agora. O idiota do meu irmão que, a propósito, saiu da cadeia há seis meses.
Mas eu sabia que a garota na minha frente não estava irritada por causa de Max. Não... Lilith tinha se mostrado completamente indiferente a presença do meu irmão em nossas vidas. Se eu não a conhecesse tão bem e soubesse de tudo o que teve que passar, diria que ela realmente não se importava mais com o antigo badboy da escola.

Porém, eu a conhecia.

E sabia que Lilith se importava, mas desde que nossos pais morreram, havia uma parte de Lilith que também estava morta. Eu culpava Tom pelo olhar perdido da minha melhor amiga, culpava Tom pelos gritos dela no meio da noite e seus pesadelos, culpava Tom por ela nunca aceitar sair com os caras da faculdade, e culpava aquele filho da puta...por não estar aqui para que eu pudesse matá-lo.

-- Então, não faça isso, Emily. Não desista dele, não pare de visitá-lo, não esqueça dele naquela prisão estúpida.

-- Sabe que eu não posso...

-- Não, você pode! -- Grita, dando um passo em minha direção. -- Ele te ama, Emily. Thomas é o pai do seu filho... pai do Ethan, e ele te ama mais do que tudo.

Engoli em seco ao ouvir aquilo.
Mesmo com o dia quente de verão, senti um frio descer pela minha espinha e a dor entalar na minha garganta.

-- Você não sabe de nada, Lilith. Thomas me quer longe da vida dele, ele deixou isso bem claro da última vez que eu fui visitá-lo. Eu odeio tudo isso, mas respeito.

-- Vá a merda, Emily! Você é a porra de uma medrosa! -- Seus olhos queimam, mostrando que não é mais a garota ingênua de alguns anos atrás. -- Thomas sempre lutou por você, e o que você fez? Ah sim, Emily Osíris abria a janela de seu quarto e o esperava...Emily Osíris transava escondida no carro do garoto que amava... Sabe o que eu acho? Que Emily Osíris nunca fez nada! Seu amor não passa de palavras.

A palma da minha mão ardeu, o rabo de cavalo de Lilith chicoteou contra sua nuca novamente e tudo ficou quieto demais.
Lilith cerrou o maxilar, sua bochecha direita sendo tomada por um tom intenso de vermelho, assim como o pequeno filete de sangue que escorria de seu lábio.

E então, pela primeira vez eu me odiei por ser uma Osíris.

-- Me desculpe. -- Pedi, me sentindo culpada por ter explodido.

Lilith ergueu o queixo, me olhando fixamente e mostrando que não abaixaria a cabeça para nenhum Osíris.
Eu sabia que meu irmão estava vendo aquilo, a irmã batendo na garota que ele ama...

-- É uma covarde e ele te ama mesmo assim, não vê? Ele está te protegendo, está cuidando de você, ele mudou...e você finge não ver, finge não se importar. -- Sua voz embargou e meu coração acelerou, eu queria abraçá-la. -- Permita-se, Emily! Vá atrás dele.

Meus lábios estavam muito secos.
Minha mente estava muito confusa.
Meu coração parecia estar sendo esmagado no meu peito.

-- Ele te ama, Lilith. -- Disse baixinho, para que meu irmão não ouvisse. -- Já fazem seis meses e ele está te esperando...

Ela balançou a cabeça em negativa, mas seus olhos não mentiam, Lilith se sentia uma covarde também.
Talvez fôssemos iguais, mas ao contrário de mim, Max estava livre e os dois quase não se falavam, mesmo que trabalhassem juntos nos Hotéis do meu tio.

-- Isso não é sobre mim... E mesmo se fosse, o seu irmão fodeu com a minha vida! -- Dessa vez, quando ela gritou, eu vi sua alma se partindo em pedaços por trás de suas íris verdes. -- Ele não é o meu príncipe encantado, é o meu demônio!

-- Príncipes encantados não existem, Lilith. Você e eu, temos demônios... temos dois homens Osíris que já fizeram coisas muito ruins e poderiam ser os monstros em nossas vidas se a história fosse outra. -- Suspirei. -- Mas eles são nossos. E nós não somos mais princesas, os monstros de verdade nos quebraram.

Ela deu um passo atrás.

-- Quer saber, Emily? Faça o que quiser... desde que Ethan não saia prejudicado pelos doentes dos pais, faça a porra que quiser.

E então, ela se virou e saiu marchando pelo gramado até o seu novo carro. Eu fiquei ali parada, a observando dar partida e deixar a propriedade Castelli, como se nada a prendesse aqui. Não escutei os passos do meu irmão, enquanto ele vinha até mim. Sua mão deslizou pelo meu ombro e ele me abraçou, repousando minha cabeça em seu peito.

Fechei os olhos, para aproveitar aquela sensação de casa. Nós tínhamos perdido tudo, éramos só nós dois...os últimos Osíris.

-- Lilith está certa, Emily. Vá atrás dele, não o deixe sozinho. -- Beijou o tópico dos meus cabelos. -- Só eu sei o quanto queria que Lilith viesse atrás de mim.

-- Ela te ama, Max. Só precisa de tempo...

-- Não, ela não ama. -- Me interrompeu e acariciou o meu ombro. -- Ela não ama nem a si mesma, Emy. Lilith não é mais a minha princesa.

Me virei em seu abraço, o azul de nossos olhos se encontrando. Max tinha mudado. Não como Thomas, não...não haviam tantas tatuagens cobrindo o seu corpo e nem raiva em seus gestos. Max parecia mais calmo e, estranhamente, mortal.

-- Ensine-a amar. Não seja o Max Osíris que a machucou, seja apenas esse Max.

Max sorriu de canto.

-- Eu nunca vou desistir dela, Emy. Mesmo que nunca a tenha, não consigo me afastar daquela garota. Ela está na minha corrente sanguínea.

Revirei os olhos.

-- Idiota apaixonado.

Max riu, e eu apreciei a leveza que pairava sobre o meu irmão.

-- Vamos entrar... Ethan está enchendo a porra do meu saco para que eu ensine a andar de moto.

-- Ele tem 2 anos, Max.

-- O que tem? Aquele garoto é filho de Thomas, o melhor mecânico que já conheci.

Suspirei.

-- É, ele é igualzinho a Thomas.

Castelli tinha me dito que dia ele sairia da prisão, eu só não sabia se ainda valia a pena... e se ele não me quisesse lá?

Porém, Max e Lilith estavam certos... ele ainda era meu e eu tinha que parar de ser uma covarde. Eu não podia mais sair de fininho e fingir que não o amava, não podia mais mentir para o mundo e desejar seus beijos.

Max entrou em casa, dizendo que ia ver se Ethan tinha acordado e eu fui até a garagem. Parei na frente do camaro preto de Thomas, analisando a pintura bem feita que eu tinha mandado retocar há alguns meses atrás, e os pneus novos...

Eu perguntei se Lilith queria que eu o guardasse à sete chaves depois de tudo que aconteceu, mas ela me disse que o carro era a última coisa daquela noite que a perturbava.

Eu me senti aliviada, pois amava aquele carro e as histórias que Thomas e eu construímos nele.
Me sentei no banco do passageiro, colocando a chave na ignição e sentindo a mesma adrenalina de anos atrás.

Por um segundo, pude fechar os olhos e lembrar de quando nós apenas nos amávamos...

Tentação ProfanaDove le storie prendono vita. Scoprilo ora