1. Chest

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09.03.2012
MIN YOONGI

Aniversários normalmente são uma comemoração. Eu tinha acabado de fazer nove anos, mas meu presente não foi um bolo cheio de chantilly como sempre, nem mesmo uma festinha surpresa com balões e brigadeiros e amiguinhos da escola. Meu presente de aniversário foi um funeral.

Minha avó era a melhor pessoa do mundo. Ela fazia as melhores comidas e tinha abraços quentinhos. Também contava as melhores histórias sobre bruxas, vampiros, fadas, sereias e fantasmas. Ela adorava contar sobre fantasmas e, depois, quando eu não conseguia dormir pelo medo, ela fazia chocolate quente e me deixava dormir entre ela e meu avô.

Eu não entendi direito quando me disseram que eu não moraria mais na minha casa, não visitaria mais a casa dos meus avós toda sexta feira porque, na verdade, agora eu moraria lá. Eu, meus pais e meu avô.

Foi tudo muito rápido, sabe? Em um dia era meu aniversário e estávamos à caminho do funeral da minha avó, todos com roupas pretas e expressões tristes, e em outro estávamos empacotando todos os móveis da casa. Tive que empacotar todos os meus brinquedos e até minha cama. Então, em outro dia, estávamos eu, mamãe e papai entrando na antiga casa da vovó e chamando de novo lar.

Meu avô ficou doente. Mamãe dizia que era de tristeza. Ele morava com a gente, mas quase não saía do quarto dele. Eu costumava visitá-lo lá toda hora, mas ele nunca me respondia. Não respondia nem mesmo minha mãe e meu pai, nem os olhava. Só ficava na mesma posição: deitado, olhos presos na televisão com algum canal qualquer, mãos juntas e trêmulas em seu colo e abrindo a boca para receber a sopinha que era seu almoço e janta.

— Eu sei que tá tudo tão... Confuso. — minha mãe suspirou, sentando-se na beira da minha cama para acariciar meus fios de cabelo. — Você está bem, filho?

Apenas balancei a cabeça para cima e para baixo.

— Você pode dormir comigo e com seu pai se quiser. — ela voltou a dizer, mas eu neguei. Então minha mãe suspirou e beijou a minha testa. — Boa noite, meu filho. Eu te amo.

A cabeça do meu pai apareceu entre a porta e o batente e ele me mandou um beijo antes de sair junto da minha mãe, depois de apagarem as luzes.

Não tinha dado tempo de desempacotar tudo ainda. Mesmo com quase uma semana na nova casa, só o que meu quarto tinha era a minha cama, uma cortina azul e estrelas no teto. Mas não eram só algumas estrelas, eram várias estrelas. O teto todo.

Eu gostava de ver as estrelas do meu quarto. O principal objetivo era impedir o meu medo do escuro, mas, depois, eu só quis continuar com elas porque eram bonitas. E úteis. Desde que aquela avalanche de acontecimentos surgiu, eu ficava as observando por um bom tempo até dormir. Só que tinham dias difíceis e esse era um deles. Os dias em que eu não conseguia dormir.

Eu nunca tinha tido problemas com o sono antes, mas, desde que me mudei para a antiga casa da minha avó, eu tinha direto. Podia estar cansado, exausto, mas não conseguia dormir. Além disso, eu sentia tanto medo sem motivo...

— Brilha, brilha, estrelinha... — cantei baixinho. — Quero ver você brilhar...

Então eu começava a cantar para me distrair. Ouvia barulho de galhos batendo na janela e passos nos corredores. Começavam em plenas três horas da madrugada, então, quando o relógio marcava exatas três horas e meia, eu ouvia barulhos vindos do teto. Eram três batidas fracas, então parava. Mais três batidas fracas, então parava. Mais uma, parava. Silêncio... E uma batida forte! Se repetia até que o relógio marcasse quatro horas, então mais nada acontecia.

Depois de uma semana seguida escutando aqueles barulhos tão específicos, eu comecei a achar que não era mais coincidência. Então, quando os barulhos vindos do sótão começaram, às três e meia da madrugada, eu me levantei de minha cama e resolvi matar a minha curiosidade. Um pequeno spoiler: foi um enorme erro.

Caçador de demônios ໒ kth + mygDove le storie prendono vita. Scoprilo ora