2. Catch the demon

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27.05.2016
MIN YOONGI

Daegu não é uma cidade grande. Não é pequena, mas não é grande como Seul. Mas eu diria que o número de terapeutas são em torno de uns quarenta e quatro.

Eu, com cansados treze anos de vida, já tinha ido à, pelo menos, trinta e sete desses terapeutas. Devia ter algum record para isso.

- Por que você não conversa comigo? - minha mãe gritou, chorosa.

A curiosidade não mata o gato, necessariamente. A curiosidade é um veneno da alma, não do corpo. Ela envenena todos em sua volta. Quando a curiosidade traz algo ruim, afeta todos. Quando a curiosidade me trouxe um trauma incomparável e que me mudou para sempre, afetou a minha família.

Meu pai não dançava para chegar até a minha mãe de manhã. Eles não davam beijos mais. Minha mãe vivia chorando pelos cantos. Chorando porque não compreendia o próprio filho.

Mas veja bem, eu não tinha o que dizer. Estava em uma fase difícil. Pré-adolescente. Virei emo. Todo o meu quarto era preto, mas era um pouco confuso porque, bem, tinha crucifixos para todos os lados (e eu nem sou tão religioso assim).

Tinha pesadelos todas as noites, então resolvia não dormir. As olheiras profundas até pareciam maquiagem. Eu levava bronca por isso, até tinha meu celular confiscado, mas não podia arriscar e dormir. Não podia fechar os olhos e enxergar aquela escuridão horripilante.

- Pai nosso que estás nos céus. - balancei o crucifixo. - Santificado seja o teu nome.

- O que... Você tá fazendo?

Quando me virei, meu pai me encarava da porta com o cenho franzido.

- Santificando esse quarto. - expliquei, fazendo com que meu pai parecesse ainda mais confuso. - Ainda não acabei.

Depois do terror de ver o monstro no sótão, eu nunca mais subi lá. Também nunca mais ouvi os barulhos e não sei dizer se isso é bom ou ruim. De qualquer forma, o trauma me pegou e eu não consegui esquecer por um segundo sequer.

- Seu vô tá te chamando. - ele resolveu não questionar mais, apenas avisou e suspirou. - Filho?

- Sim?

- Sei que o pai anda meio distante nesses últimos anos... Mas eu ainda estou aqui por você.

- Eu sei, pai.

Mas eu não podia contar com ele quando se tratava daquilo. Eu tinha nove anos quando vi o demônio dos olhos pretos, contei para todos em minha volta e eles acharam que era coisa da minha imaginação. Eu insisti tanto naquela história que minha mãe me levou ao meu primeiro terapeuta, o senhor Kobsky. Ele era estranho, mas simpático. Só que também não acreditava que eu tinha visto um demônio.

O senhor Kobsky me diagnosticou com esquizofrenia. Tenho certeza de que não tenho isso. Quer dizer, acho que não tenho. Eu vi o demônio. Foi real. Não foi alucinação, não é? Eu não estou com transtorno algum.

Meus pais não acham assim. Acreditaram no doutor, porque, bem, é o que faz sentido. Mas eles ficaram com medo de mim. Acho que fiquei ainda mais estranho porque eles ficaram estranhos e se afastaram de mim quando mais precisei deles. E, agora que vêem o resultado (um garoto magrelo de roupas pretas, pálido, de olheiras profundas e melhor amigo dos crucifixos), sentem arrependimento.

- Certo. - meu pai balançou a cabeça, sem jeito. - Pode, hum, continuar a sua santificação.

- Obrigado. - fiquei encarando-o até ele sair. - ... Pai nosso que estás no céu!

Caçador de demônios ໒ kth + mygWhere stories live. Discover now