13. Between life and death

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MIN YOONGI

Eu estava sentado numa cadeira de madeira antiga. Era daquelas que balançavam. Era em um campo cheio de palha. Palha alta que balançava com o vento. Vento forte, mas gostoso. O cheiro era de chocolate quente, de gelatina de morango, torta de uva e bolo red velvet.

— Poderia ficar aqui pra sempre. — sorri largo.

O sol sempre batia no meu rosto. Fosse manhã, fosse tarde, fosse noite, fosse madrugada. Ele me seguia por todo aquele campo. E ele era caloroso demais.

— É verdade. — minha avó disse, sorrindo junto comigo. — Aqui é muito bom.

Olhei para ela e sorri junto. Ela estava sentada em uma cadeira igual a minha, sendo balançada pelo vento, enquanto segurava a mão de meu avô que estava logo ao lado dela.

— Eu senti tanto a falta de vocês. — comentei com lágrimas de felicidade nos olhos. — Vó, vô. Tudo desandou tanto. Eu queria tanto que vocês estivessem ao meu lado nos momentos difíceis.

— Ah, querido. — minha avó acariciou meu rosto. — Nós te observamos sempre. Mas você vai ficar bem agora.

— Eu... Eu morri? — funguei. — Eu só me lembro de... Daquele demônio maldito.

— Ainda não. — meu avô quem disse. — Você não pode morrer ainda. É muito jovem, meu filho. Você tem uma longa estrada pela frente.

— Não sei se quero continuar.

— Precisa se quiser se tornar um caçador tão grande quanto eu fui. — minha avó tocou na pontinha de meu nariz. — Você vai ser ainda mais grandioso do que eu.

— A questão é que eu nunca quis isso. — balancei a cabeça em negação. — Eu só queria viver que nem um garoto normal. E se eu voltar, vou continuar vendo aquelas coisas horrorosas. Não quero. Eu quero ficar aqui com vocês.

— Tem certeza? — meu avô indicou com a cabeça para algo logo na frente.

Desviei o olhar, vendo onde ele apontou, e franzi o cenho ao notar que, na nossa frente, no meio do campo, uma enorme passagem se abriu e eu pude enxergar como se fosse um filme eu, entubado, deitado no quarto de hospital.

Me levantei da cadeira e andei hesitantemente até lá, parando bem próximo para enxergar melhor quando minha mãe, que estava toda torta dormindo na poltrona, acordou de repente, provavelmente sonhando que eu tinha acordado, então me viu daquele jeito e desatou a chorar. Vi também quando meu pai chegou e os dois choraram juntos. Eles choravam de soluçar, seguravam minha mão, imploravam a Deus para que eu voltasse pra eles.

— Isso... — olhei para trás, para os meus avós que continuavam no mesmo lugar. — Isso é agora? Isso tá acontecendo agora?

— Sim. — minha avó assentiu.

Eu passei a manhã inteira me assistindo. Vi minha mãe chorar, dormir, acordar, chorar de novo, se recusar a comer e passar mal pela fome.

De tarde, vi meu pai conseguindo convencer minha mãe a comer algo na lanchonete do hospital e dando espaço pra que Hoseok e Taehyung fossem me visitar. Eles pareciam arrasados. Os dois tinham os olhos inchados, olheiras profundas, mãos que tremiam ao encostar na minha ao, provavelmente, me sentir meio gelado.

De noite, meus pais voltaram e fizeram Taehyung e Hoseok voltarem pra suas casas e se cuidarem. Mas eu tenho quase certeza de que eles não teriam ânimo pra isso.

— Eles vão acabar doentes. — observei meus pais. — Eles têm que se cuidar melhor...

— Se você decidir mesmo ficar, eles vão acabar ficando bem com o tempo. — minha avó disse.

— Talvez... Mas e Hoseok? Ele é tão sozinho, deve estar sentindo tanto a minha falta. E Taehyung? Ele tem um demônio no corpo dele e só eu sei disso...

— Isso não é mais problema seu. — meu avô disse. — Se você não voltar, não vai precisar se preocupar com isso, meu filho.

— Ele vai acabar machucado em algum momento. — suspirei preocupado. — E Jimin? Ele é tão instável. Ele tentou me matar de novo... E se ele machucar Medalaine? Meus pais? Meus amigos? Eu não posso deixar...

Quando olhei para meus avós de novo, percebi que os dois sorriam, porque já sabiam que eu escolheria voltar e estavam orgulhosos por isso.

— Eu só não sei se vou conseguir sozinho. — voltei pra perto deles e me ajoelhei aos pés da minha avó. — Vó, por favor, me ajude. Me aconselhe. Eu preciso da sua ajuda.

Ela acariciou meu cabelo e assentiu.

Passei mais três manhãs, três tardes e duas noites lá no campo com meus avós. Eu ouvia os conselhos de ambos, recebia carinho e aprendia novas técnicas da minha avó. Ela me explicou sobre selos, me explicou como criou o colar, me explicou de rituais, aprisionamento, tudo que eu precisava saber pra ser um grande caçador de demônios assim como ela.

— Não me sinto pronto. — cocei a nuca.

— Você está pronto. — meu avô disse. — Você é capaz. Você sabe o que fazer e como fazer.

— Se Jimin tiver mesmo virado um demônio de olhos pretos no momento em que te empurrou do penhasco, você sabe que o trabalho vai ser em dobro, não sabe? — minha avó falou.

— Sei. — assenti. — Ele não vai nem me escutar se estiver nesse estado. Eu vou ter que destruir a alma dele. Aprisionar não vai funcionar pra sempre.

— Concentre-se no demônio em Taehyung primeiro. Se Jimin não interferir, você pode deixá-lo por último.

Respirei fundo e me levantei. Olhei para os lados, lamentando mentalmente por ter que sair dali, e olhei para meus avós, já sentindo meus olhos marejados por ter que me despedir deles uma segunda vez.

— Nós não vamos sair daqui. — meu avô disse. — Quando realmente for a sua vez, você vai nos encontrar aqui de novo. Vá sem medo.

Assenti e sorri fraco antes de limpar as lágrimas teimosas que escorreram em minhas bochechas. Então, antes que eu desistisse, caminhei até a passagem, me vendo no hospital, e atravessei para a vida.

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Capítulo 14: Wake up (final pt.1) - (12.09)

Caçador de demônios ໒ kth + mygWhere stories live. Discover now