Somos um lindo desastre

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"Somos um lindo desastre.", lembrava-me de ter visto aquilo a algures e, também fazia jus a minha história com Marco, pois, os meses na casa de Marco tinham sido verdadeiramente um lindo desastre.

Meu príncipe aos poucos começava a mostrar que, na verdade, era um autêntico monstro. Carregava em si traços de tal forma cruéis, que miseravelmente me faziam lembrar do meu pai.

- Aonde vais, Marco? - Quis eu saber. - Já são 23:30. Não podes sair tão tarde.

- Não te devo satisfações, afinal, não sou eu quem vive aqui de favor.

- Eu não estou aqui de favor! - Neguei, magoada. - Eu sou a mãe do teu filho! - Ah, faça o favor de calar essa boca e poupa-me dessa ladainha. Eu sou homem, Neila, tenho minhas necessidades. Preciso e vou sair.

- Eu devia ter escutado a Sra. Nené. Ela me alertou inúmeras vezes. - Olhei com deceção. - Não vais sair!

O final da minha fala teve o acompanhamento do peso da mão de Marco sobre minha face. Pesado e doloroso.

Então era assim? Era aquela invalidez e sentimento de impotência que invadia minha mãe quando meu pai exercia sua covardia?

- Não, não, não, o que eu fiz? Ney me perdoe, por favor. Eu não tive a intenção. Eu só fiquei um pouco nervoso. Sabes bem que não sou como o teu pai.

Não era a primeira vez que Marco me feria, por dentro e por fora e, a cada vez, ele aumentava a força.

Eu não tinha o que fazer, ainda mais com um filho a caminho e sem meio de sustento próprio.

Os meses foram passando e eu definhando a cada dia. Fazia já tempo em que não trocava nem uma palavra sequer com mamã deixei de ver Dilva, e os conselhos da dona Nené já não faziam parte da minha rotina.

Eu já não era a mesma, nem Marco. Piorava a cada dia.

Envolvida em pensamentos, uma dor aguda me tomou conta do baixo Centro, ao mesmo tempo que um líquido incolor escorria pelo meio das minhas pernas.

Entre suspiros de tormento e angústia, consegui chegar ao telemóvel e ligar ao primeiro número que me passou pela cabeça.

- Dilva, o bebé! Ele vai nascer! Tenho que ir ao hospital.

- Ó meu Deus! - Pude ouvir o barulho de algo indo ao chão, do outro lado.

- Onde está o Marco?

- Eu não sei. Preciso de ajuda, pelo amor de Deus. O mais rápido possível! Dói muito! Depois disso, tudo o que vinha a seguir era um borrão.

Entre perdas constantes de consciência, primeiro notei estar num carro e, por fim, numa cama de hospital.

Chamada ON...

- Alô, Marco? Sim... quem fala é a Dilva, amiga da Neila. Então, ela está no hospital e vai dar à luz, neste exato momento.

- Como assim?! Neila está no sétimo mês e em casa! Se estivesse no hospital, eu seria o primeiro a saber.

- Espera, Marco, não desligue...

Chamada OFF...

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