A Minha Idade

Fim!!

"Porque viver é uma ferida incurável ou porque a juventude seja um desperdício aos jovens, não importa, apenas viva calmamente porque tudo tem seu tempo." Aprendi da pior forma que a vida é feita de escolhas e, quando resolvemos fazer o papel de Deus e decidir as coisas no nosso tempo, as consequências não são nada agradáveis.

- Não serves para nada mesmo! És um total lixo! Sinceramente, nem sei o por que te aturo! Como é que foste perder aquela criança? És uma mulher, e mulher foi feita para isso: reproduzir. Mas nem isso tu consegues!

As falas agressivas de Marco deixavam sua boca acompanhadas de um forte odor a álcool, e um soco, que jogou meu corpo para trás.

- Por favor, Marco. Mal saí do hospital. Não tenho forças, então, por favor, pare!

- Parar? - Riu com escárnio. - Devias ter pensado nisso quando mataste o meu filho!

E, a cada palavra que saía da sua boca, um novo golpe era desferido contra o meu corpo. Entre as tantas vezes em que eu perdia e recuperava a consciência, dava para notar na face de Marco, a mesma expressão que vi diversas vezes em meu pai.

Só tive meu alívio quando o telemóvel tocou e ele pareceu ter encontrado algo que fosse mais interessante.

Lançada sobre o velho colchão, vislumbrei sobre o criado-mudo a caixinha vermelha de medicamentos e, num impulso, ingeri todos os comprimidos que pude, antes que Marco voltasse.

Algo em mim foi tornando-se pesado, a minha vista pouco a pouco escurecia, minha boca tornava-se seca e minhas pupilas diminuíram de tamanho, até notar que tudo o que me restava era entregar-me.

E, entre intervalos entre a vida e a morte, num breve momento de consciência, notei estar num carro.

Um ano depois

- Eu admito: estava com Neila porque, entre uma mulher e uma adolescente, era menos complicado controlar a segunda opção.

Parou por um momento, pensativo.

- É a primeira vez que participo de uma reunião no Laço Branco, então aproveito para agradecer por essa chance de recomeçar que sei que Neila não terá. Vi-a pela primeira vez em uma festa de aniversário. Ela era bonita de encher os olhos. Também era melhor amiga de uma miúda, a Dilva. Inclusive, soube que ela escreveu um livro em sua homenagem. - Contou. - Chegou até mim que a mãe de Ney partiu poucos meses depois da filha.

Mesmo com a distância, eu sabia o quanto as duas se amavam. Nunca mais soube sobre o pai dela, aliás, ninguém sabe, para ser sincero.

Eu realmente queria acordar do meu erro antes que tudo isso acontecesse, mas estava mergulhado na ideia de ter alguém que eu podia chamar de minha. - Baixou o olhar, envergonhado. - Hoje noto o quão tolo eu fui e, se eu pudesse, falaria a cada pessoa da idade de Neila, que não deixassem nada nem ninguém tentar apressar suas vidas.

Pediria para que tivessem calma agora, pois tudo tem seu devido tempo. Faz faltar-me o ar quando recordo que Ney não está mais aqui que ela nunca poderá aproveitar o que a vida lhe tinha reservado de melhor. E tudo isso por minha culpa.