viver é uma ferida incurável

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"Viver é uma ferida incurável", tinha lido isso a algures, e nunca uma frase fizera tanto sentido em minha vida. Expulsa de casa aos dezasseis, vivendo de favor na casa da Sra. Nené, as coisas só tendiam a piorar. Drasticamente.

Já se tinham passado duas semanas desde a última vez em que vi minha mãe, mesmo dececionada ela me fazia falta.

Fui retirada da minha tentativa de reflexão, quando notei a notificação de mensagem aparecer no ecrã partido do meu telemóvel.

"Ei, sei que estás meio perturbada, mas... Estou aqui", era exatamente o que eu queria ler no momento.

Entre trocas incansáveis de mensagens, eu e Marco marcamos um encontro. Após uma fuga rápida tivemos um encontro intenso de corpos e fluidos.

- Onde estiveste Ney? - Perguntou a Sra. Nené esbanjando tranquilidade.

- Só fui respirar um pouco, digamos que estou desconsolada - Optei por omitir a verdade. - Onde está a Dilva?

- Foi ver as notas, disseram que já foram postas as pautas.

Eu nem tinha parado para pensar na escola, de repente fui assolada ao refletir na minha trajetória escolar, mas eu não podia ser tão azarada era a segunda vez que repetia o nono ano.

- Ela disse que também traria as tuas notas.

- Está bem, vou subir preciso ir para casa de banho.

- Podes ir, vamos fazer um lanche quando Dilva chegar.

Assenti e tomei meu rumo. No final das contas, as notícias não foram tão catastróficas, Dilva chegou por volta de dez minutos depois dizendo que já estávamos no decimo ano.

- Olha Ney não quero pressionar-te, mas precisas voltar para casa e pelo menos tentar conversar. - A senhora me aconselhou enquanto terminava de encher sua xicara de café.

Senti o sangue congelar, pousei o copo na mesa fiz um movimento de confirmação com a cabeça e continuei comendo o bolo de laranja sem pronunciar uma palavra, não por escolha, mas porque tinha perdido o entendimento, estava em modo automático.

No dia seguinte fiz o que a Sra. recomendou, fui para casa ostentando um semblante de quem tinha sido condenado ao inferno após uma vida de luxuria. Ao avistar a porta semiaberta relembrei tudo oque passara por anos naquela casa então respirei fundo tentando mandar abaixo o nó que se tinha formado na minha garganta e entrei.

- Filha, minha filha! - A mulher já de idade acolheu me em seus braços. - Porque não me deste sinal de vida eu estava tão preocupada.

Sem atribuir uma resposta fui em direção ao meu quarto passando por meu pai que me encarrava com um olhar de indiferença.

- Olha quem voltou, finalmente aprendeu a abaixar a cabeça?

Retribuo o olhar de indiferença e continuo andando.

- Não respondes? Olha quem diria, sua filha aprendeu a guardar a língua - Disse o homem provocando. - Eu mostrei como agir na minha casa, aprendeste bem.

- Vai, não responda filha.

Fiz o que a mulher aconselhou, de qualquer modo eu não conseguia produzir palavras para contestar aquele homem no momento.

As semanas foram seguindo normalmente, ou quase, notei que meu ciclo estava um pouco atrasado, já se tinham passado mais de dois meses desde que me tinha encontrado com Marco e tinha sido a única vez.

Ninguém engravida em uma só vez? Ou engravida? Mas Marco não seria tão imprudente certo?

Passei dois minutos em reunião silenciosa, quando meu eu interior disse: Faz um teste de gravidez.

-Ney alguém está a telefonar-te!

O grito de minha mãe espantou qualquer reflexão que eu pudesse ter no momento.

-Estou indo! -Respondi-a no mesmo tom.

Chamada ON...

- Oi, Dilva, o que se passa?

- A féria, infelizmente, então, vais para aula amanhã?

- Eu tinha me esquecido completamente desse detalhe, mas sim, creio que vou, de qualquer modo telefonarei amanhã.

- Aguardo... a mãe disse passa enviar cumprimentos.

- Diga a ela que já estou com saudades.

Chamada OFF...

A Minha IdadeOù les histoires vivent. Découvrez maintenant