Epílogo - "Desembarque"

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"[...] E então, apesar de tudo, a Passageira Número Um — Lucy Leweis — viveu pela sua própria história. Enfrentou alguns problemas quando precisou relatar todo o ocorrido à polícia, mas o diário corroborava a maior parte dos fatos. Ela nunca voltou à capital, e nem colocou os seus pés em um trem outra vez. Nunca."

E... fim. Chega a ser um alívio poder escrever essa pequena e insignificante palavra no rodapé da folha que estou encarando. Meus dedos ardem e a tinta da caneta já está acabando quando finalmente afasto o objeto do papel.

Encaro o céu turvo da metrópole. Hoje é o dia quatro mil e quinze — o que deveria significar que fazem exatos quatro anos desde que a crise começou. Quatro anos. Quatro. Anos. É uma data importante para mim, se você quer saber. Se alguém quer saber. Porque não sei exatamente quem vai ler esta pequena nota de despedida um dia.

De qualquer forma... olá. Eu sou o Passageiro Número Três. Não tenho a mínima ideia do que vai acontecer daqui para frente — essa é a graça, não é? —, mas sei que você provavelmente leu algumas das páginas de minha história enquanto eu esperava por este trem. Sim, aquela história sobre a garota com a mão decepada que escapou de um trem imerso em insanidade. Sinto muito em dizer a você que nada disso aconteceu de verdade. Ao menos não ainda. Complicado, não é? Eu sei, e queria que tivéssemos mais tempo para conversar sobre isso. Mas não acho que teremos, porque pretendo estar morto à meia-noite do dia vinte e sete de outubro, como deixei muito claro.

São onze horas da manhã. Dia vinte e três. O sujeito que me ajudará nesta importante jornada não chegou a me dizer o nome dele, mas estou confiando fielmente na hipótese de que ele vai aparecer. Bem, não posso saber se isso vai acontecer ou não, como também não sei se as coisas que coloquei nestas folhas de papel vão se tornar realidade. Eu não sei de absolutamente nada.

É que, se eu soubesse de alguma coisa, você poderia me chamar de louco. Imagine ter certeza daquilo que vai acontecer a seguir? Confiar em pequenos estímulos de sentimentos longínquos que alguém achou incrível intitular como "destino"? Ah, não. Absolutamente não. Eu sou um artista, um escritor, um sobrevivente e... talvez, alguém que se importa muito com o caos deste enorme universo. Mas não sou louco.

Como já disse, hoje é o dia quatro mil e quinze. Significa que, há exatamente quatro anos, deixei o meu diário para trás em um buraco escuro depois de precisar escapar no meio da noite. Queria não ter feito isso, mas nem todas as coisas estão sob o meu controle. Quem pode saber o que teria acontecido se eu o tivesse carregado comigo, junto de minha câmera e dos dois alfinetes? Algumas coisas talvez teriam sido diferentes. E talvez nada fosse mudar, afinal.

O que importa é que, no início daquela madrugada, eu estive muito perto de me despedir da minha própria história. Achei que o fim do mundo tivesse chegado, mas isso não aconteceu. Tudo o que eu guardei foram alguns arranhões e cicatrizes devido à parede de pedregulhos escorregadia, que acabou me salvando daquela queda. Ninguém soube que eu escapei. E nem quero que saibam.

Trem para Barrymore [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now