Verdades

219 25 3
                                    

Felipe

Fico ali, tentando me controlar para que eles não percebam meu desespero, tento me manter concentrado em meus filhos e em Eduarda, preciso sair daqui, preciso ir para junto da minha família.

Não sei quanto tempo passa, até que eles decidem me deixar sozinho, tento olhar em volta, o efeito do que me deram parece estar passando, já estou começando a sentir meu corpo,mas estou com as mãos e pernas amarradas, que lugar é esse? porque estou aqui? O que aconteceu? A porta se abre e quando olho em sua direção suspiro aliviado.

— Graças a Deus é você, como me achou? Michele e Maria ficaram loucas, me ajud... —

Sou interrompido por Maria que aparece na porta falando.

— Ele não aceitou comer nada chefe. Acho melhor seguirmos a idéia de Michele e colocar ao menos um soro nele. —

— Não. Ele vai comer, pode ir buscar a comida. —

Eu então o questiono.

— Guilherme o que está acontecendo? —

Ele se aproxima de mim e acaricia meu rosto.

— O que você está fazendo? —

— Não se preocupe meu amor, seremos só nós dois agora, está tudo bem, eu estou cuidando de tudo. —

— Ficou maluco Guilherme? Que história é essa? Onde estão minha mulher e meus filhos? —

— Eles já não fazem mais parte da sua vida, não são mais um problema. —

— O que você fez com eles? Se você machucou eles eu vou te matar. —

— Shiu! Não fale assim amor, isso me magoa, sua única preocupação de agora em diante será estar a minha disposição, estar comigo. —

Antes que eu possa dizer alguma coisa, a porta se abre e Maria entra com uma bandeja e diz.

— Vou senta-lo para poder dar a comida. —

— Não, pode sair, deixa que eu dou. —

— Mas ch... —

Ela tenta falar, mas Guilherme a corta.

— Já disse, saí. Vocês estão aqui para cuidar dele quando eu não estiver, fora isso eu cuido. —

Ela coloca a bandeja no criado mudo e saí, ele se aproxima me abraçando e erguendo meu corpo para que eu fique sentado, me ajeita com travesseiros e senta na beira da cama, assim que me ajeita ele me olha, segura meu rosto e me dá um selinho.

— Mas que porra é essa? —

Digo enquanto  forço minha cabeça para trás, ele se afasta e sorri.

— O que você pensa que está fazendo Guilherme. —

— Cuidando de você meu amor, agora vamos comer antes que a sopa esfrie. —

Ele pega a tigela com a colher e trás uma colherada a minha boca.

— Eu não vou comer, não vou fazer nada até você me tirar daqui, você ficou maluco seu imbecil. —

— Ah você vai, escuta aqui Felipe, eu estou realmente tentando ficar numa boa com você, mas esse seu negócio de ficar me chamando de maluco está me enchendo já, vou esclarecer as coisas para você parar de uma vez com isso. Eu sempre fui apaixonado por você, mas você idiota e hétero, nunca reparou, então paguei Ariane para te causar uma decepção e fazer você não querer saber mais de relacionamentos, a idiota acabou engravidando, isso não estava nos planos, mas foi até bom, quando ela te abandonou com o fedelho, sua decepção foi maior ainda. Você se fechou para qualquer tipo de relacionamento. Por anos ficou assim e para mim estava bom, eu não te tinha, mas você também não era de ninguém. —

A cada palavra que ouço percebo o quão louco ele está. E ele continua.

— Quando você voltou para o Brasil, eu entrei em êxtase, finalmente estaríamos próximos novamente, mas aí você teve a infeliz idéia de se apaixonar pela imbecil da Eduarda, eu achei que teria que fazer algo para separa-los, não tinha como aceitar você com alguém por muito tempo, mas ela é tão burra que te afastou sozinha. Confesso que senti raiva em te ver sofrer feito um cachorro abandonado por causa dela, não podia aceitar que você estava tão apaixonado assim, me dei ao trabalho de alugar um apartamento para nós, e mesmo assim você continuou sofrendo pela imbecil. Quando vocês voltaram eu vi que realmente teria que fazer algo, nunca tinha visto você daquele jeito por ninguém, nem mesmo por Ariane, então pensei em me livrar de Eduarda. Mas aí sempre teria seus filhos para atrapalhar, além do risco de você se apaixonar por outra pessoa. Então resolvi te pegar para mim, e agora você é só meu  —

— O que você quer dizer com isso? —

— Sim, te tirei de perto deles. —

— E você acha que ela não vai me procurar? —

— Ela sabe onde você está, ou melhor, acha que sabe. —

— Como assim? O que você disse a ela? —

— Não sei direito do que você lembra, mas seu acidente, não foi nada grave, você nem ao menos se feriu bastante, eu ordenei ao Balda que nada te acontecesse. —

— Eu lembro de bater e acho que apagar. —

— Pois é, exageramos um pouco na dose da droga, você ficou apagado por dois dias, te drogamos através do volante do seu carro, foi bem caro esse produto, mas serviu para você ficar confuso, e no momento certo providenciei a batida, você estava confuso e já querendo descer do carro, apesar de percebermos que você não estava raciocinando por conta da droga, tanto que você nem se lembra disso.  Balda se aproximou oferecendo ajuda e antes que você respondesse ou notasse ele injetou outra droga em você, segundos depois você apagou, ele te colocou em outro carro e retirou seu cordão e aliança, pegou um corpo que arrumamos, por sinal era bem parecido com o seu, colocou o cordão e a aliança e colocou no seu lugar no carro. Então colocou fogo, fazendo o carro explodir em poucos minutos, pela aliança e cordão identificaram o corpo como sendo o seu, para todos os efeitos você está morto e enterrado já, sua esposa agora é uma jovem viúva. E você meu querido é só meu, somente meu. —

— Você enlouqueceu. —

Minhas lágrimas escorrem, meu Deus como ele pode fazer todas essas coisas, pior, nem parece sentir remorso.

— Guilherme, por favor? Me solta cara, eu preciso voltar para casa, Eduarda está grávida, meus filhos precisam de mim, por favor? —

_ De jeito nenhum. Além de te querer para mim, gastei muito dinheiro com esse plano, tudo teve que ser muito bem calculado, até a rua onde bateria em seu carro tive que averiguar e monitorar por dias, para ter certeza que ninguém veria o que está a acontecendo. Acostume, você agora é meu. Vamos, come. —

Ele enche uma colher e leva em direção a minha boca.

— Eu não vou comer. —

— Felipe, não me faça perder a paciência, come essa merda de uma vez. —

— Não, se você não me soltar, eu não vou durar muito tempo, pois não irei comer e nem beber nada, prefiro morrer a ficar preso aqui com você. —

Ele joga a tigela de sopa na parede e me olha enfurecido, quando penso que ele vai me bater, ele segura meu rosto e cola nossos lábios, mantenho minha boca fechada, serrando os lábios o máximo que consigo.

— Eu não sei onde estou com a cabeça que não meto a mão na sua cara, eu não consigo, eu te amo tanto, sou capaz de qualquer coisa para ter você comigo. —

Minhas lágrimas escorrem e ele as seca.

— Não chora meu amor, vamos dormir, amanhã resolvemos essa questão de você comer. —

Não respondo nada, Guilherme está completamente louco, só pode. Ele retira sua roupa ficando apenas de cueca, deita ao meu lado me abraçando, me dá um beijo e diz boa noite, sinto calafrios e náuseas, como nunca percebi isso? Eu nunca percebi esse transtorno dele, como vou fazer para sair daqui? Minha família está sofrendo, achando que morri, meu Deus que loucura! Choro em silêncio, enquanto ele alisa meu peito,algum tempo depois ele dorme e eu fico ali pensando em toda a merda que ele me falou...

É Possível Nós Dois?Où les histoires vivent. Découvrez maintenant