COMPLEXO || YEONBIN

[4] Todos os danos

AVISO: Insinuação de uso de drogas, bebida alcoólica e de violência física.

"Eu continuo tentando deixar você ir
Estou morrendo de vontade de te contar
Como estou progredindo
Eu não chorei quando você foi embora de primeira
Mas agora que você está morto, dói" — Daddy Issues.

O dano causado pelos pais pode ter diversas formas, algumas mais sutis e outras irreversíveis. Essas marcas, muitas vezes, crescem silenciosas, transbordando para a adolescência como feridas não cicatrizadas. Os jovens, nesse cenário, tentam curar a criança interior rejeitada dentro de si mesmos.

Para Beomgyu, a ferida inicial imposta por seu pai foi marcante. Foi quando ele se viu em sua peça de teatro na escola, aguardando a presença paterna que nunca chegou. Beomgyu, devastado, chorou perante sua mãe, compartilhando a mágoa e a decepção de ser abandonado em um momento tão especial. Ao chegar em casa, uma tempestade irrompeu entre seus pais, e Beomgyu, pela primeira vez, sentiu-se culpado por ter desencadeado tal conflito. Aquele dia marcou a primeira vez que as lágrimas de Beomgyu foram tingidas pela culpa, o peso avassalador de se sentir um fardo para seus pais. Naquele momento, ele se considerou um filho e uma pessoa terríveis, questionando sua existência e desejando, em meio ao desespero, não causar mais nenhum incômodo a quem ele amava. Era um peso emocional tão denso que ele vislumbrou como tudo poderia ser mais fácil se ele simplesmente deixasse de existir. As palavras não ditas e as emoções não expressas moldaram a vulnerabilidade e a dor de Beomgyu, deixando cicatrizes profundas em sua alma.

Com doze anos, Beomgyu era considerado uma criança talentosa para música e todos viam isso. Seu pai resolveu lhe dar uma bateria de presente de aniversário.

— Vamos, abra os olhos! — a voz empolgada soou pelos seus ouvidos. Quando abriu seus olhos ele nem pôde acreditar — Gostou?!

— Eu... amei! — disse tão empolgado ainda um pouco desacreditado — Eu não acredito, não acredito pai, isso é tão caro.

— É caro, mas meu menino está completando seus 12 anos e é um talento tocando qualquer coisa, ele merece — O pai de Beomgyu sempre costumava elogiá-lo com frequência, aquilo aumentava muito sua autoestima, era como se ele não conseguisse viver sem os elogios do seu pai.

— Eu te amo pai — falou o abraçando carinhosamente.

O segundo dano na vida de Beomgyu foi a descoberta do vício em álcool de seu pai. Com 13 anos, começava a compreender melhor o mundo ao seu redor, e o comportamento do pai tornou-se uma incógnita preocupante. As noites fora de casa, o consumo excessivo de álcool e os mistérios que rodeavam as atitudes do pai o afetavam profundamente, gerando confusão e desconforto em seu íntimo.

Um dia, um colega pouco conhecido se aproximou de sua mesa na escola e, olhando diretamente nos olhos de Beomgyu, disse algo que ecoou como uma sentença cruel:

— Eu e minha mãe vimos seu pai com outra mulher ontem, minha mãe disse que ele é promíscuo — o garoto, com longos cabelos castanhos, deixou as palavras no ar antes de sair, deixando Beomgyu atordoado e incrédulo. A cruel afirmação deixou Beomgyu desnorteado. Ele se sentiu exposto, frágil e envergonhado. — Talvez você se torne promíscuo também.

Beomgyu não sabia o porquê daquela brincadeira de mal gosto, mas ele não conseguia parar de chorar por causa da fala do menino. Seu pai sempre foi o retrato de carinho e amor em sua vida, e a ideia de que ele pudesse agir de maneira contrária, magoando tanto sua mãe quanto a ele, era difícil de compreender.

Pouco depois desse episódio, seus pais o levaram a uma festa de família. A maioria dos parentes morava longe, então Beomgyu mal conhecia as pessoas presentes. Mesmo diante de estranhos que o tratavam como se fosse um recém-nascido e da atmosfera de festa que mais parecia um velório, o evento não durou muito. A festividade logo tomou um rumo sombrio quando sua mãe excedeu na bebida, culminando em um comportamento descontrolado, o que levou seu pai a retirá-la à força do local.