[16] Criança de quinta-feira

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"Acho que está tudo bem (eu acho)
Ter meu coração partido (meu coração)
Agora me sinto mais leve
Quinta-feira nos encontramos de novo, está tudo bem
Deve ser mais difícil do que foi até aqui
Mas é imprevisível, a nossa vida." – Thursday's Child Has Far To Go

— Já vai porra! —  o som insistente de batidas na porta interrompeu sua paz. Ele saltou de surpresa, e uma mistura de raiva e frustração se instalou em seu peito. A última coisa que desejava naquele momento era a visita de alguém, especialmente quando se encontrava sozinho.

Com um suspiro profundo, ele se levantou de onde estava e começou a juntar suas roupas, jogando-as desajeitadamente dentro de uma mochila. Era sábado, o dia tão aguardado havia finalmente chegado. Depois de um longo período de afastamento, eles finalmente estavam prontos para tocar em público novamente, para se reconectar com aquilo que os unia. E agora, esse intruso na porta ameaçava perturbar sua concentração e nervosismo pré-show.

Finalmente fechou o zíper, selando sua mochila com todas as suas ansiedades e expectativas. Com passos lentos, ele se aproximou da porta. Em um gesto rápido, ele a abriu e deparou-se com a figura inesperada de seu pai. Seus olhos se arregalaram em surpresa, o choque pintando seu rosto.

— Pai, o que você tá fazendo aqui? — falou, seus lábios apertados por nervosismo e incerteza. Ele não esperava a visita de seu pai, dado o histórico tumultuado entre os dois.

Seu pai, por sua vez, olhou para ele com uma expressão séria e um toque de pesar nos olhos. 

— Posso entrar? Gostaria de falar um pouco com você — pediu, como se buscasse uma segunda chance para se reconectar novamente.

Kai sentiu um turbilhão de emoções dentro de si, hesitando por um momento antes de dar um passo para o lado, permitindo que seu pai entrasse. À medida que o homem passava pela porta, Kai notou seus olhos percorrendo cada canto da sala, como se estivesse tentando reconhecer a vida que havia perdido quando se afastou da família.

A tensão no ar era palpável quando Kai juntou as mãos ansiosamente. Sua mãe estava ausente, na casa de sua tia, e Lea, estava na casa de um amigo estudando para as provas da faculdade. Isso só intensificou o peso do encontro.

— O que você quer? Lembrou do seu filho maluco? —  disse, sua voz carregada de desconfiança e sarcasmo, cruzando os braços em uma tentativa de esconder sua vulnerabilidade. Seu pai suspirou profundamente, um som carregado de remorso.

— Eu vim pedir desculpas por aquilo — ele confessou, usando o tom arrependido que Kai conhecia tão bem e, ao mesmo tempo, odiava profundamente. Era a expressão de pesar que o pai usava para tentar reparar seus erros, mas que, na verdade, apenas aprofundava as feridas.

Kai riu de maneira amarga, uma risada que carregava anos de mágoa.

— Só por isso?... Sério. Você abandonou a gente como se não fôssemos nada — ele lembrou, sua voz pesada de dor e ressentimento. Seu pai engoliu em seco, tentando encontrar as palavras certas para se redimir. 

— Eu não fiz isso, você pode me visitar sempre que quise — Kai apertou os olhos com força, um misto de raiva e tristeza contorcendo seu rosto.

— Seja sincero, você realmente quer que eu te visite? — questionou, deixando um pesado silêncio preencher a sala. Era uma pergunta que havia sido guardada por muito tempo, uma questão que cortava fundo. — Então pare de mentir para tentar não manchar sua falsa máscara de bom marido. Eu estive aqui nos piores momentos — acusou, sua voz embargada de emoção reprimida. Era um desabafo, uma catarse que ele precisava há muito tempo.

Kai lutou contra um turbilhão de emoções, sem saber como processar a situação. Era evidente que seu pai não procurava mais manter o mesmo nível de conexão que tinham antes; ele apagou a dinâmica familiar tão rapidamente quanto um professor limpa o quadro depois da aula, sem deixar nada para trás.

COMPLEXO || YEONBINWhere stories live. Discover now