Agosto: Uma guerreira inesperada

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"É uma sinfonia latejante, tornando meus pensamentos e desejos uma chama

A trêmula batida do coração!

(...)

Grave-o nesta era e mude para sempre

Você é o único tolo com um coração mais livre do que qualquer outra pessoa!

O impulso vermelho que eu guardava no coração, o que se refletia naqueles olhos que procuravam"

(FOOL THE WORLD - Minori Chihara)

***

Ainda recordo da primeira vez que vi os homens da minha família treinando soldados. Devia ter uns cinco anos e estava em casa junto de minha mãe e minhas irmãs mais velhas. Ouvi alguns sons vindo do pátio e a minha curiosidade infantil me levou a ir lá olhar. Sai escondida de mais uma das aulas de caligrafia, que seria seguida por uma de etiqueta, sem minha mãe e nem a criada que nos acompanhava perceberem. Com minhas pequenas perninhas, corri pelo chão de madeira da nossa enorme casa, chegando até o lugar de onde vinha o barulho. E o que eu vi foi uma coisa que iluminou os meus olhos!

Vi filas e mais filas organizadas de soldados, todos segurando armas e fazendo os golpes de maneira sincronizada, entoando gritos complementares.

E lá na frente do local estavam meu pai, um dos tios, alguns primos (mais velhos e mais novos) e o meu irmão mais velho. Todos observando e arrumando o que fosse necessário dentro daquele pequeno batalhão presente no campo aberto.

Fiquei parada assistindo a cena, maravilhada! Até que percebi o pescoço do meu pai se esticando e nossos olhares se cruzaram. Meu irmão Kenji também me viu e me lançou um olhar de "você não devia ter vindo para cá".

Papai saiu de seu posto e se aproximou de mim, enquanto percebi passos apressados vibrando pela madeira. Era a minha mãe!

- Yura! - com raiva - Por que fugiu da sua lição?!

- O que essa garota está fazendo aqui, Nanako?! - meu pai esbravejou - Sabe que é estritamente proibido que as mulheres até vejam o treinamento.

- Desculpe! - mamãe disse cabisbaixa - Ela saiu e nós não percebemos.

- Trate de prestar mais atenção em suas filhas.

- São suas filhas também! - ela retrucou

O que se seguiu foi um tapa que meu pai deu em minha mãe, como uma reprimenda. Ela me tirou dali arrastada e é claro que aquele tapa me foi devolvido mais tarde.

***

Desde aquele dia, me interessei muito pelo que acabei vendo. Por um tempo, continuei escapulindo em alguns horários para ver o treinamento, ficando desta vez escondida para quem ninguém me visse e me encontrasse.

A minha família, Botan, representada pelas peônias que floreiam nossas primaveras, é uma família de origem nobre, repleta de feitos dentro do histórico de guerras do império Ogushahara. Os melhores guerreiros vieram desta família, então, por este motivo, o treinamento de recrutas é de total responsabilidade nossa. Ah, quer dizer, responsabilidade dos homens do clã! A atividade é totalmente proibida para mulheres e eu aprendi isso da pior forma, justamente naquele primeiro dia.

Eu tinha pouca idade, mas já entendia algumas coisas. E com o passar dos anos passei a entender muitas mais... Como sobre o papel de uma mulher no império. Desde que me lembro, recebo aulas sobre etiqueta, caligrafia, dança, bordado e muitas outras coisas. E todas elas para mim - tirando a caligrafia, pois isso me permitia ler na biblioteca - eram bastante cansativas. Por que eu devia aprender tudo aquilo? De que adiantava se eu estava fadada a viver enclausurada num casarão e cuidar apenas dos filhos e da gestão do lugar? Os livros já tinham me mostrado que havia muito mais coisas para se conhecer e aprender!

12 Meses com MinorinWhere stories live. Discover now