Prólogo

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1884

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1884.
Versalhes, França.

O champanhe estava quente e a noite estava fria, uma combinação pouco favorável para um lugar como Versalhes onde, mesmo quando tudo estava perfeito, todos tinham algo para reclamar. Etienne Chatelain, filho mais velho de um cavaleiro há muito esquecido pelo tempo, procurava sua irmã Nicola pelos salões, quando tropeçou contra a misteriosa figura que perturbava a corte ultimamente. Ela parecia apressada e distante, olhando para ele com a testa franzida como se até um segundo atrás fosse capaz de esquecer que estava em um salão cheio de pessoas.

-Me desculpe – ela falou, contornando ele apressadamente antes que ele pudesse se desculpar igualmente.

Ela havia chegado a três noites, ladeando o rei desde o momento que entrara o palácio e sendo motivo de fofoca na corte. Os cabelos eram tão longos que ela não precisava de perucas, mas embora adotasse os cabelos ornamentados ela dispensava o talco, deixando que os intrincados cachos castanhos brilhassem entre as flores, joias e pequenos pássaros artificiais. Os cochichos eram de que era uma viúva, sempre vestida em tons mais escuros do que os das jovens da corte, mas ninguém sabia dizer, pois aparentemente ninguém disfrutava de sua companhia. Exceto o rei.

-Você falou com ela? – perguntou sua irmã, surgindo atrás dele maravilhada em toda sua graça azul pastel – Lady Marguerite diz que ela é uma bruxa.

-Se eu tivesse que fazer apostas, eu apostaria que a bruxa é a própria Lady Marguerite – ele retrucou sarcástico, e ela escondeu o riso atrás de um leque ornamentado. – E não, não falei com ela. Ela apenas tropeçou em mim.

-Ela está muito bonita hoje... – sua irmã suspirou. Ele revirou os olhos, ela estava maravilhada com a recém-chegada desde o primeiro dia. – Talvez ela enfeitice o rei. Talvez tenhamos uma nova rainha.

Ele não respondeu a ela que não desejava ter nenhuma rainha, nem atual nem futura. A adoração pela nova dama da corte apenas ocupara parte do lugar do amor incondicional de sua irmã pela própria Maria Antonieta, e ele sabia quando calar a boca sobre seus próprios princípios perto da irmã.

-Você sabe que você poderia ir falar com ela – ele ergueu uma sobrancelha para ela – Certo?

-Ela nunca falaria comigo – a jovem encolheu os ombros – Moças como ela não são amigas de moças como eu.

Ele não perguntou o que aquilo significava. Era o tipo de coisa que mulheres colocavam nas próprias cabecinhas e ninguém as convencia do contrário. Ela murmurou algo e se afastou, enquanto ele analisava a estranha parada logo atrás da cadeira onde o rei se encontrava. Não, ela não agia como uma amante, ele pensou.

É claro que, não tendo registros de Louis XVI já ter tido uma amante, era difícil definir qual era seu tipo ideal. Mas Etienne duvidava que fosse uma que ficasse parada com uma expressão amarga enquanto todos na mesa riam de suas piadas, por mais bela que fosse. O rei pareceu desistir de seu jogo, a seguindo pelo salão. Etienne os seguiu com os olhos, a moça falava entre goles de champanhe e o rei parecia calmo, mas franziu a testa algumas vezes durante a caminhada.

Sangue de Bruxa (Feitiços de Vida e Morte - Livro I)Where stories live. Discover now