Capítulo V: Uma bruxa americana em Londres

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Etienne não sentia particularmente falta de dormir – ele sabia que alguns vampiros tinham sentimentos fortes a respeito daquilo, mas ele era tão indiferente a dormir quanto a não faze-lo

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Etienne não sentia particularmente falta de dormir – ele sabia que alguns vampiros tinham sentimentos fortes a respeito daquilo, mas ele era tão indiferente a dormir quanto a não faze-lo. Claro que, preso no apartamento de Dimirt com Ella inconsciente boa parte do tempo, fazia ele repensar um pouco aquilo.

Não que ele ansiasse pelos períodos do que Dimirt chamava de hibernação – as breves épocas onde o corpo imortal ansiava dos vampiros cedia ao desejo de desligar-se do resto do mundo. A eternidade deveria significar indiferença diante da ideia de perder algumas semanas ou meses, mas ele sempre se via apreensivo pensando no momento em que sua imortalidade o trairia – diferente das bruxas, que após completarem a idade de congelamento tinham o sono movido pelo desgaste de sua magia – como na guerra –, vampiros eram mais imprevisíveis. Os períodos de sono demoravam cada vez mais vezes do que a anterior para atingi-los, mas também duravam cada vez mais. Ele havia visto ela hibernar poucos anos após ser transformado, passando meses com apenas Dimirt como companhia. A primeira – e única – vez que ele havia hibernado haviam sido oitenta décadas desde sua transformação, e por apenas quatro dias. Agora, desde que se completaram cem anos que ele acordará daquele primeiro sono, e ele vivia sob um pequeno temor de ser pego desprevenido pela necessidade de desligar-se.

Gerar uma criança parecia demandar uma magia diferente de Ella e, talvez por ter uma magia de pouca extensão, envolvesse uma exaustão constante dela – ele se viu preso naquele apartamento, sem conseguir prever os períodos adormecidos e acordados de Ella, que parecia dormir mais de dezoito horas a cada vinte e quatro. Ao fim da primeira semana, ele se viu imaginando seu próprio sono enquanto velava o dela, sentindo que facilmente enlouqueceria naquele apartamento branco.

Ele decorou o sistema bem estabelecido de Irina, que saia antes do sol nascer e, quando voltava, só o fazia após o sol se por. Imaginou que ela passava o dia atarefada, trancada em algum escritório sem janelas, a secretária do sonho de qualquer político – capaz de ler e escrever em velocidade sobre-humana, que nunca precisava comer, ir ao banheiro ou esticar as pernas, que nunca era pega fora da mesa conversando mas mesmo assim parecia saber de tudo que acontecia em volta. Quando ela voltava a noite, em geral era por pouco tempo – ela e Dimirt caçavam quase toda noite, apesar do estoque de sangue na cozinha deles.

Quando ela acordava por breves períodos ao longo do dia e da noite, ele tentava convence-la a comer algo – Dimirt garantia que ao menos uma prateleira da geladeira estivesse bem estabelecida. Havia uma nova tensão entre eles, e ele se pegou imaginando se o sono de Ella não era uma forma inconsciente dela evitar ele. Eles assistiam televisão e comentavam as peculiaridades de Dimirt.

Eles não se tocavam mais. Não falavam sobre eles. Nem sobre a morte. Nem sobre o bebê.

E por mais que parte de Ethan quisesse falar sobre todas essas coisas, ele não seria o primeiro a puxar o assunto – e uma segunda metade dele ficava aliviada que Ella também ainda não quisesse falar sobre aquilo. Por que falar sobre aquilo, também iria significar falar de Miara.

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⏰ Last updated: Sep 21, 2023 ⏰

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Sangue de Bruxa (Feitiços de Vida e Morte - Livro I)Where stories live. Discover now