Papai

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A cidade parecia ameaçadora. E ele não era o único a sentir isso.

Não era Mangata, mas era igualmente metálica e dura, talvez mais. Se erguendo cinza e dourada na penumbra. Quando todos os prisioneiros foram arrastados escada acima. Aquilo o fez ter um déjà vu. Como se estrelas sombrias tivessem caído naquele exato instante do tempo. Não fazia sentido terem mudado a rota sem aviso, diretamente para o covil onde Shivani nasceu.

Ela se sentava observando a tudo e a todos. Onde visse todos os marujos e todos pudessem vê-la também, calma na superfície, postura, braços cruzados. Quase como se fosse uma própria oficial do navio Como se tudo estivesse sob controle. Era estratégico, bom para um líder.

Eles não acreditavam realmente que ela seria enforcada. Mas isso não os deixava mais seguros.

Asmus não ia querer ver a bagunça que seria se ele fosse pendurado e a multidão o assistisse cruzar os braços e esperar, sem morrer.

Era algo incômodo. Ser enforcado. Principalmente quando não se pode morrer. Você se sente tonto, como se bêbado. Pois não há oxigênio ou sangue o bastante. Dói como ser um cavalo de corrida laçado, uma vez que os ossos de sua coluna ficam suspensos e o peso o leva para baixo, a corda grossa abrindo fendas na sua pele e no seu pescoço de uma vez só, então o sangue começa a correr, fazendo cócegas nos seus braços, descendo por seu corpo, pingando no chão. A parte ruim de não poder morrer é que o sangue nunca para.

E agora que ele não sabia quem seguiria os rastros primeiro.

- Desçam. - A voz o despertou. Ele olhou para o lado, observando as pupilas de Shivani diminuírem e ela travar na escada, por um, dois segundos. Ela continuou, sem olhar para frente.

Albatroz. O Covil de Mercúrio.O Distrito do Silício.

Era ali que Shivani havia sido criada, marcada e vendida. Ele seguiu os olhos dela até a cidade, do porto era possível ver o setor industrial, gigante como um palácio se erguendo.

Havia um ponto entre as maquinarias, um espaço grande e vazio, uma falta. Era ali que estavam os olhos tempestuosos da pirata. Ele não conseguia entender o que estava passando por aqueles pensamentos.

Asmus a viu, então. Olhos verdes firmes, cabelo loiro amarrado em um rabo de cavalo longo. Luvas brancas com babados, um vestido verde com mangas bufantes, um corset de cobre, um relógio de bolso. Ela estava continentalmente ridícula.

Ele resistiu ao impulso de soltar uma gargalhada. Se Agnes não podia ver que ela não era feita para aquela vida se olhando no espelho, ninguém mais poderia convencê-la.

As peças de encaixaram rapidamente para Asmus. Agnes, babados, noivados, rotas de curso e enforcamentos. Ela estava tentando evitar a morte deles, como a boa garota que era, mas ao mesmo tempo mandando Shivani para seu pior pesadelo.

O soldado o empurrou para fora do barco, quase o fazendo cair no vão de dezenas de metros do porto aéreo. Asmus trincou sua mandíbula, se segurando para não empurrar o homem para queda livre. A cidade era alta o bastante em suas encostas para ter uma grande circulação de navios voadores, e de corpos em plena queda também.

Asmus ofereceu um sorriso de cumprimentos para Agnes, que permaneceu séria e fechada. Ele ergueu uma sobrancelha, caminhando na fila de marujos amarrados um ao outro com desconfiança.

- Aonde estamos indo? - A cabeça dele foi forçada para baixo antes de terminar a pergunta, e o final foi apenas um grunhido bem irritado.

- Estão indo para a mansão do ministro. - Axel era ministro? - Graças a senhorita, Adonis, que não vai deixar vocês escaparem de suas mãos. Na verdade, ela os deixará aos cuidados de seu pai pessoalmente. - O soldado sorriu maquiavélico.

Preto Cinza e Tempestade - FortunataWhere stories live. Discover now