O caos

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Eu sonhei por muitos anos estar em um lugar assim.

Vestir roupas elegantes, ser encarada como uma mulher de negócios, poderosa, em uma corporação onde todos correm contra o tempo e fazem coisas grandiosas, bebem litros de café e estão sempre cansados.

Eu andei esperando pelo caos da vida adulta, e agora eu o olhava a minha frente apavorada.

As pessoas andavam de um lado para o outro com pilhas de papéis nas mãos, outras tinham assistentes recebendo ordens sem fins, e havia eu, ainda parada próxima aos elevadores, atrapalhando a movimentação por medo de me mover e fazer algo errado.

- Você deve ser Catherine Livecure, certo?

Uma mulher de cabelos castanhos apareceu em minha frente. Ela parecia tão indiferente, sem emoções, vestida com uma saia preta justa que ia até seus joelhos e um salto alto que ainda assim a deixava menor que eu.

- Você é a nova advogada, correto? - estalou os dedos em frente ao meu rosto.

- Oh, perdão - sorri automaticamente, nervosa - Sim, sou eu. Prazer! - estendi minha mão para a cumprimentar.

- O prazer é meu - ela me saudou - Eu sou Emily Hills, mas pode me chamar apenas de Emilly, isso facilitará nossa vida.

A mulher começou a andar e eu a segui, de qualquer forma isso devia ser o certo já que ela parecia ter me esperado chegar.

- Sou assistente pessoal do senhor Beaumont. Hoje, porém, estou responsável por lhe mostrar a empresa, sua sala e o que se espera que você execute em nosso benefício.

- Agradeço sua disponibilidade.

- Ordens do chefe - esclareceu.

- Claro...

Nosso passeio começou pelo andar em que estávamos. Primeiro me levou onde ficava o escritório do senhor Beaumont. Não chegamos a entrar, apenas vi o lindo hall onde a mesa da mulher ficava, junto de uma área para espera com sofá, televisão e uma mesa com café e pequenos lanches. Posteriormente mostrou-me minha sala; onde era o refeitório do nosso andar; a sala de descanso; o escritório de outros três advogados importantes da empresa (provavelmente muito mais do que eu, visto que suas salas eram gigantes e extremamente bem decoradas); banheiros; área com natureza e outras acomodações.

- Basicamente neste andar é isso - ela se virou para mim no corredor do meu escritório - Você passará a maior parte do seu expediente na sua sala ou na do senhor Beaumont, mas, quando quiser, tem liberdade para andar por onde desejar.

- Obrigada - pensei que havíamos acabado.

- Quanto ao lado de fora - continuou dando uma breve olhava para as amplas janelas que iam do chão até o teto - Podes ver mais tarde, com calma. Temos parques repletos de belezas naturais, ótimo para limpar a mente e acalmar a alma. Há também restaurantes com diversas opções de comidas, tudo por conta da empresa. Temos academia, piscina, quadras e muitas outras opções das quais poderás usufruir nos momentos livres ou fora do expediente, como finais de semana.

- A empresa fica aberta no final de semana? - estranhei.

- Sim, trabalhamos 24 horas. Há três turnos, os funcionários mudam a cada oito horas. Estamos no horário principal, ou seja, quando desenvolvemos conteúdos. Os outros dois turnos são para manutenção de sistemas e possíveis problemas que precisem de atenção imediata.

- Entendi - senti-me uma boba por pensar que uma empresa daquele porte fecharia as portas conforme as seis horas da noite chegasse - Enfim, obrigada por me mostrar a empresa Emily.

- Não por isso - sorriu educadamente - Se precisar de qualquer coisa, estarei a sua disposição. Agora vamos para outro tópico importante: seus afazeres.

Voltamos para o hall de entrada do escritório do senhor Beaumont. Emily me apontou a cadeira em frente a sua mesa para que eu me sentasse, em seguida a mesma descansou na sua.

- O senhor Beaumont assumiu a empresa do pai há aproximadamente 2 anos. Desde então tem procurado renovar a equipe com pessoas mais jovens, animadas para mostrar seus talentos. Você, assim como os demais funcionários, foi escolhida por ter uma trajetória acadêmica magnífica e bons referenciais. Neste momento você está assumindo uma posição muito alta, que não agrada os mais conservadores da empresa, mas que segue a linha de renovação do senhor Beaumont. Você é a nova advogada principal dele.

Ela fez silêncio me dando abertura para lhe fazer indagações, mas eu estava tentando compreender o que ela queria dizer com "advogada principal dele".

Eu era uma recém-formada, não podia assumir a liderança de uma companhia como aquela, era pedir demais para os breves conhecimentos que eu tinha. Porém, eu não me entregaria. Sabia que aquela era uma oportunidade única, mas que eu, certamente, cometeria erros dignos de uma principiante.

Já me via indo à loucura.

Se todos diziam ao chefe que isso era inapropriado, por que ele se colocava frente a tamanho risco? Meus erros poderiam causar impactantes prejuízos.

- Isso não significa que sua posição está garantida - ela retomou seu discurso - Você passará por uma avaliação pelo período de seis meses para provar se é ou não adequada para o cargo. Se falhar, será demitida - foi bem clara - Dúvidas?

- Não - engoli sentindo minha garganta seca.

Ela sorriu para mim de uma forma diferente da anterior, é como se estivesse com pena e, ao mesmo tempo, achando graça da minha posição.

Que ótimo! Ela devia saber o quão ferrada eu estava.

Apesar da pequena surpresa, logo me recuperei. As coisas fáceis costumavam me incomodar, queria ser levada ao meu limite. Era nova, dava conta de lidar com as dificuldades e estava preparada para aprender o que fosse necessário. Queria superar a mim mesma.

Emily pegou o telefone de sua mesa e apertou um número, em seguida a vi esperar alguns segundos.

- Senhor, a senhorita Livecure está aqui - provavelmente falava com nosso chefe.

Fiquei observando suas feições neutras enquanto conversava com ele. Buscava alguma coisa que pudesse me informar como ele a fazia sentir: ansiosa, com medo, irritada? Não, nada disso. Ela estava calma, parecia gostar do que ouvia. Talvez ele fosse uma pessoa amigável.

- Tudo bem - Emily concordou com a cabeça e então desligou o telefone - Você pode entrar - ela se levantou e caminhou em direção a porta dele - Ele está a sua espera. Não se preocupe, apenas mantenha a calma como fez comigo - aconselhou.

- Juro tentar - sorri.

- Esse é o espírito - seguiu meu bom-humor.

Gostei dela.

Ela abriu a porta e sinalizou para que eu passasse a sua frente. Quando me dei conta, minhas pernas já havia levado-me para dentro do covil do senhor Beaumont. Olhei para trás e apenas vi a porta se fechar, me deixando ali, sozinha, na companhia dele.

Império de LágrimasWhere stories live. Discover now