Silêncio

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- Você tem certeza que quer saber tudo o que eu sei sobre você? - ele pousou a mão na maçaneta da porta de seu escritório em casa e parou me olhando apreensivo.

- Não, quero apenas alguma coisa. Quero saber quando você esteve em minha vida sem que eu soubesse e o quanto sabe dos meus segredos.

Ele abriu a porta e entrou, o segui.

- Tenho meddo de lhe contar e você se assustar - ele foi direto para a estante atrás de sua mesa.

- Eu não tenho medo de você - balancei a cabeça em negação - Mas não consigo parar de me questionar seus motivos para ficar atrás de mim. Você poderia ter qualquer coisa no mundo, qualquer pessoa, por que perder seu tempo com uma pessoa que não tem nada a ver com sua história? - sentei-me enquanto repassava as informações em minha cabeça - Eu entendo, sou parecida com ela, mas você ainda podia correr atrás dela até a encontrar. Ninguém some de verdade, não dessa maneira. Talvez você não tenha se esforçado o suficiente para a encontrar.

- Eu me esforcei até certo ponto - parou o que fazia entre os livros para me olhar - Por um lado não queria a encontrar. Ela é uma lembrança constante do que eu perdi, do que eu poderia ter e não tive.

- Seu filho? - estranhei seu olhar distante.

- Sim - respirou fundo e voltou a esconder o rosto de mim.

- Vocês dois perderam muito...

- Talvez - ele não parecia acreditar totalmente naquilo - Bom, aqui há poucas coisas sobre você, a maioria estão nos Estados Unidos, onde eu costumava passar a maior parte do tempo, e ainda passo - pousou uma maleta preta em cima da mesa colocando uma senha para a abrir.

Ele colocou em minhas mãos algumas páginas. Época da universidade, tudo parecia remeter a isso, época em que de fato ele me encontrou. Vi algumas fotos tiradas quando eu menos esperava.

- Você quem tirava essas fotos? - mostrei para ele uma delas.

- Não - sorriu sem graça - Um detetive particular que coloquei atrás de você.

Pousei os papéis na mesa.

- Não quero ler essas coisas.

- Pensei que queria saber o que sei - seu rosto se transformou em confusão. Suas sobrancelhas faziam um desenho engraçado em sua face, retorcida em dúvida. Seus lábios abertos e as mãos no bolso da calça, parecia se sentir desconfortável.

- Quero ouvir da sua boca, e não destes papéis infinitos.

- Justo - guardou tudo novamente - O que quer saber? - ele se sentou como se naquele momento voltasse a ser meu chefe.

- Você sabe alguma coisa sobre a minha família?

- Sim - vi ele morder um lado das bochechas por dentro.

Respirei fundo. Isso era o que mais me atordoava.

- O que sabe sobre eles?

- Sei que não são legais com você - seus olhos profundos me olhavam com uma concentração desumana. 

Éramos apenas nós dois ali, não parecíamos estar no mundo, parecíamos estar perdidos no espaço. Seus olhos me lembravam uma galáxia inteira.

- Me conte o que sabe sobre isso - pedi.

- Sei que você tem um irmão mais velho - limpou a garganta como se as palavras estivessem presas - Sei que ele é o filho preferido dos seus pais.

Era chato escutar isso da boca dele, era algo que eu já sabia.

Império de LágrimasDonde viven las historias. Descúbrelo ahora