Completamente envolvida

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Toquei em sua mão gelada. Os aparelhos apitavam quase como em uma sinfonia despercebida. De certo modo o ambiente hospitalar era familiar para mim, muitos anos vendo meu pai de perto nos plantões.

- Se você precisar de alguma coisa basta apertar este botão - a enfermeira que estava observando Nathaniel me instruiu - Viremos o mais rápido possível.

- Obrigada - tentei sorrir amigavelmente, mas estava quase sem forças para aquilo.

Vi ela deixar o quarto e fechar a porta para nos dar privacidade, o que, nesse momento, quase não fazia sentido, ele ainda dormia.

Sentei-me ao seu lado e fiquei passando o dedo em cima de sua mão, um cateter o perfurava, eu precisava tomar cuidado para não tocar nele.

O quarto estava gelado e eu contava a mim mesma que a mão do Nathaniel apenas refletia a temperatura do ambiente, mas no fundo era uma falácia, tentava me enganar para que ele pudesse parecer um pouco melhor.

Ao menos sua boca não estava mais roxa, agora parecia mais branca do que com cor viva. Ele estava completamente pálido. Não conseguia imaginar qual seria a reação dos seus pais ao o verem dessa forma, totalmente destruído.

Meu coração agonizava.

Fiquei ao seu lado em silêncio ouvindo os barulhos que apenas um hospital na madrugada pode fazer: um silêncio tenebroso cortado por ocorrências graves vez ou outra. Por sorte esse quarto dava muita privacidade, era maior que a maioria dos aposentos que eu conhecia, um tanto quanto chique e privativo, mas nem mesmo isso era capaz de me fazer desligar de toda a dor que via em minha frente.

Passei os dedos por sua bochecha sentindo sua pele macia.

Apoiei minha cabeça na cama e então apaguei, totalmente exausta. 

(...)

O barulho da máquina que media os batimentos cardíacos começou a apitar mais rapidamente. Acordei como se tomasse um choque, com medo que fosse um sinal ruim.

Seus olhos azuis me olhavam perplexos, travados em minha face.

Olhei para o monitor e de fato as batidas do seu coração estavam mais fortes, mas parecia normal, apenas diferente de quando ele ainda estava sedado pela anestesia. 

Um enorme sorriso dominou meu rosto ao perceber que ele estava acordado, mesmo que talvez não tivesse consciência plena disso. Minhas mãos formigavam e meu coração parecia mais acelerado que o aceitável.

Eu não conseguia dizer uma palavra. Queria guardar aquele momento para sempre em minha memória.

- Vejo que ele acordou - um médico entrou no quarto segurando um tablet em mãos e vindo em direção a cama.

- Sim, acho que sim - dei um passo para trás como se abrisse espaço para o doutor, mas não era necessário, ele estava do outro lado do leito - Aconteceu agora, eu acho - olhei ainda confusa para o médico examinando o Nathaniel.

- Isso é um bom sinal - ele sorriu para mim - Ele ainda pode estar um pouco perdido, voltando aos poucos da anestesia, mas é normal, logo estará completamente presente - ele mexia no aparelho em suas mãos e aos mesmo tempo fazia um exame clínico no Nathaniel, checando seu estado de saúde geral - Posso confiar que você me chamará se ele ficar muito agitado?

O médico devia ter uns quarenta anos, cabelos loiros quase dourados e um largo sorriso branco. Sua postura era inabalável ao mesmo tempo que gentil.

Império de LágrimasWhere stories live. Discover now