Encontrando meu começo e meu fim

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 Deixei a luz que vinha do corredor iluminar a entrada do quarto. Eu não podia o ver, nem me situar o quão extenso era aquele quarto. Se ele realmente estivesse dormindo, o melhor seria o deixar descansar.

Entrei e fechei a porta do quarto, o celular em minhas mãos serviram como meu guia iluminando um pouco meu redor.

Andei até perceber que estava próxima da sua cama, seu corpo estava lá deitado, imóvel. Meu coração se apertou e, por Deus, um grito correu por minha alma.

Vi um abajur perto de uma poltrona. Com todo o cuidado o liguei, sem fazer barulho algum. A iluminação não pareceu o incomodar, continuou ali, parado.

Me aproximei devagar, uma tentativa de não reconhecer a realidade, uma tentativa de acordar e provar a mim mesma que aquilo era um sonho.

Cheguei perto o suficiente para ver seu rosto cheio de pequenos cortes, ainda roxo ao redor de cada um. Seu corpo estava protegido pela coberta, me lembrava muito a forma como os antigos mortos repousavam em seus quartos até o dia do velório.

Não havia maneiras de aguentar o ver assim.

Me agachei ao lado da cama, observando seu peito subir e descer lentamente. O ver respirar era a melhor coisa que já havia acontecido em toda minha vida, nunca pensei que algo tão simples pudesse ser tão importante para mim.  

Haviam sido dias difíceis em minha vida desde que ele partiu, mas eu não imaginava como ele estava, pensava apenas que ele queria estar com outra pessoa. Isso mostrava o quão superficial eu o via. O quanto eu realmente me importava com seus sentimentos? Nesse momento eu sabia que era maior do que eu podia aguentar, mas até então eu o estava deixando invisível aos meus olhos.

Sua mão estava próxima ao meu rosto, machucada, avermelhada como se tivesse dado um soco em algo, com muita força.

O que ele havia feito?

Passei meu dedo sobre sua mão, tocando cada parte ferida. Mal podia acreditar que estava o tocando, quanta saudades eu havia sentido disso. Sua pele quente, sempre tão quente, agora era preocupante.

- Catherine? - sua voz saiu embriagada pelo sono. 

Assustei-me em primeiro momento, não queria ter o acordado, mas então me desfiz ao escutar meu nome sair por sua boca, com sua doce voz que tinha a capacidade de me matar.

- Oi - fiquei de joelhos mais próxima do seu rosto.

- Onde eu estou? - tentou olhar ao redor, mas acabou jogando o pescoço contra o travesseiro com uma expressão de dor.

- No seu quarto, em Londres - segurei delicadamente a parte de trás de seu pescoço, onde parecia doer, ele não podia se inclinar tanto quanto fazia.

- Você ainda não foi para os Estados Unidos? - ele fechou os olhos tentando fugir da dor.

- Eu estava lá, mas voltei quando soube que você não estava bem - expliquei passando a mão por seu rosto.

Cada parte daquele corpo parecia tanto pertencer a mim, ao mesmo tempo que estava tão distante de ser a verdade.

- Droga! - negou com a cabeça em revolta - Gostaria que você não estivesse aqui.

A paz em meu corpo sumiu com sua frase. A depressão parecia voltar a me abraçar. O que me fazia pensar que ele, depois de tudo, iria querer me ver? É claro que ele ainda me odiava. Nada havia mudado. 

Parei de o tocar e fiquei sem palavras por algum tempo.

- Você quer chamar a Grace? - aquilo doía apenas por ser mencionado. Como eu iria entregar o homem que mais desejava no mundo para outra mulher? Me parecia algo duro demais - Tenho certeza que o Aaron tem como encontrá-la para você - ainda assim fui em frente, se isso fosse o ajudar...

Império de LágrimasWhere stories live. Discover now