VIII

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VIII

Estava apenas clareando quando HS, JM e TH foram ao estábulo na saída de Ida pegar os cavalos. Os de JM e HS foram logo trazidos, mas ninguém conseguia achar o de TH. Meia hora passou enquanto procuravam e mandavam esperar, e TH foi ficando mais e mais nervoso. Em certo tempo, ele entrou e passou de baia a baia, mas o animal não estava em nenhum lugar.

JM queria que deixassem para lá e partissem, mas TH sofreu, queixou-se, exigiu, vociferou contra os responsáveis, inconsolável, para além do que se esperava em virtude dos fatos. Era só a montaria. Nem era um cavalo seu.

Deram-lhe um outro de mesma estirpe, com o mesmo pêlo marrom. Ele reclamou que era menos forte, mas não havia realmente o que fazer e os três iniciaram a viagem rumo à costa, cada vez mais longe de Quisa.

"Não teria acontecido em Quisa" soltou.

Isso fez JM se ater, TH elogiando Quisa, quando tinha o hábito de falar mal.

Sinal de alguma coisa errada.

De fato, TH não abriu mais a boca e seu semblante foi ficando carregado, e quando JM se aproximou para ver como ele estava, lágrimas grossas começaram a escorrer pelo rosto lindo.

Não era só o que tinha acontecido, o descaso com seus pertences, ter pedido o cavalo... Era essa perda sobre as outras mais. JM não tinha visto TH chorar, mas sabia que era questão de tempo, e bastou aquele aborrecimento e um olhar seu de preocupação para o que estava contido desabar.

TH chorou de mágoa, saudade e tristeza até a manhã terminar.

Enquanto ele tinha se envolvido, a ponto de não querer mais ir embora, JK simplesmente partiu para se casar. Ficou claro que eles não tinham futuro nenhum.

Como foi idiota em achar que tinha se tornado importante para o Príncipe, o serviço que fornecia poderia perfeitamente ser feito por outra pessoa, a noiva ou outro qualquer que JK desejasse entre apoiadores e súditos.

E mesmo sem nenhum motivo, TH desenvolveu sentimentos verdadeiros, que agora faziam sua garganta arder de vergonha e o peito doer de vazio. Nunca tinha se sentido tão humilhado como naquele momento, em que JM e HS sabiam que ele estava chorando por desejar tanto o que não tinha o direito de querer.

Nem ele nem ninguém falou nada. Ao fim de algum tempo, ele apenas se permitiu.

Quando pararam e desceram dos cavalos para comer à sombra de uma árvore, JM abriu os braços e TH caiu dentro deles.

"Vai passar, Tae. Vai passar"

"Como eu pude me apegar, JM? Como pude depois de ter sido obrigado, e ainda sabendo que era só para ele se divertir enquanto esperava o casamento? Ele mesmo disse isso. Eu mereço todo o ridículo"


"Ninguém. Eu não sou ninguém"


"Não se controla os sentimentos assim, não é culpa sua. Nem é culpa minha. Podemos doer e ficar triste, não é ridículo se apegar, pior teria sido ficar e insistir. Você é só humano, meu amor. Vem cá, deita aqui" e posicionou o corpo para que ele deitasse no seu ombro enquanto descansavam, sabendo que o alívio viria "Vai ter tanta mudança nas nossas vidas que vamos esquecer. Esquecer completamente, você vai ver"

TH tentou não pensar mais, e depois de um tempo conseguiu.

Foi uma longa quinzena até o litoral. Choveu muito, o que tornou a viagem lenta, lamacenta e bem menos agradável do que poderia ter sido. Mas, ao final, ele e JM viram o mar pela primeira vez.

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