Capítulo 15: Rastejador.

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Will

Comecei a correr, sentindo o sangue pingar das minhas mãos, enquanto o gosto delicioso ainda manchava minha língua e meus lábios, deixando minha mente nublada com a vontade insuportável de beber mais sangue humano. De voltar até lá e chupar até a última gota de sangue.

Tropecei, quase caindo na neve, vendo o rastro de sangue que estava ficando para trás de mim. Olhei para frente ao ver o muro do castelo, sentindo minha mente girar com a sensação eufórica que a adrenalina estava fazendo acontecer no meu corpo. Mas em vez de correr e atravessar, disparei para o outro lado, para a muralha que se erguia, tendo que um grito de puro horror e raiva me seguia.

Me sentei na cama, sentindo o ar pesado ao meu redor, enquanto meu coração martelava no peito. Pressionei meus lábios em frustração, encarando aquele espaço cheio de camas, onde vários vampiros recém transformados estavam dormindo, prontos para acordar no dia seguinte e encarar mais um dia da sua eternidade, quando tudo que eu queria era não possuí-la.

Fiquei de pé, tirando as roupas que estava usando para dormir e coloquei as que estavam no baú na ponta da cama. Depois de calçar a bota, sai a passos lentos, sabendo que um único barulho sequer poderia acordar um dos vampiros que dormia ali. Encarei o correr silencioso quando fechei a porta atrás de mim, ajustando a jaqueta preta no meu corpo, enquanto descia que lado seguir.

Precisava sair dali. Precisava chegar ao Clã LaRue. Argo não era o vampiro mais amigável e gentil. Mas era a melhor escolha na minha atual situação. Ele me abrigaria e avisaria o Clã Arteryon. Então minha tia ou Kyara apareciam para me buscar e me levar para o lugar que eu deveria ter ido desde o início.

Bebi o sangue de um humano. Matei uma pessoa inocente. Essas frases ficam se repetindo na minha mente o tempo todo, me lembrando da expressão de medo e horror no rosto dele quando viu quem eu verdadeiramente era. Não consigo imaginar como o reino está agora. O príncipe desaparecido. Meus pais devem estar preocupados. Não mereço aquele lugar. Não mereço ter a eternidade e não a quero.

Parei no meio do corredor, ouvindo o som do que pareciam gritos. Olhei ao redor, tentando decidir de que direção vinham e então segui o som. Depois de alguns minutos a caverna começou a descer, até se tornar uma escadaria então se abriu em uma praia. A noite estava reinando do lado de fora, com as ondas batendo na área macia.

Olhei ao redor, vendo as várias tochas que clareavam aquela praia. Aquela praia era fechada pelas montanhas. Em uma das extremidades havia um grupo imenso de vampiros, gritando e uivando enquanto observavam uma imensa criatura de corpo negro e sem pelos. Tinha o tamanho de um cavalo. O corpo era longo e esguio, com garras enormes nas mãos e dentes saltando da boca imensa. Estava preso por uma corrente, mas corria furioso pela areia, tentando agarrar e rasgar um vampiro ao meio.

Me aproximei lentamente, não querendo chamar a atenção de quem estava ali. Meus olhos se arregalaram um pouco ao ver que o vampiro era na verdade a Quinn. Enquanto a criatura tentava atacá-la, ela tentava imobilizar o animal. Mas ele era tão rápido e as garras cortavam o ar próximo dela toca vez que ela ousava se aproximar muito.

Observei os movimentos dela, lembrando de quando vi o felino caçando no meio da neve, um pouco antes de eu acabar com o restante da minha terrível vida. Ela era rápida, com movimentos lentos e sutis. Foi apenas eu piscar os olhos que ela disparou, desviando das garras da criatura e usando um monte rochoso para saltar por cima dele, agarrando suas costas e puxando a cabeça ossuda para trás.

Meu cérebro primeiro processou a imagem do corpo dele desabando, enquanto o sangue escória para a areia, antes de eu finalmente ouvir o som do osso se partindo. Quinn estava erguendo a cabeça dele pra cima no segundo seguinte, com os vampiros ao redor comemorando ao gritos e assobios.

—Gostando do show? —Olhei para o lado, absorvendo a bela vampira de cabelos curtos que parou ao meu lado, com os lábios curvados em um sorriso.

—O que era aquilo? —Indaguei, apontando para o corpo da criatura, que agora era arrastando pelo chão para dentro da entrada de outra caverna.

—Um rastejador. Uma das criaturas das sombras. —Megan fez uma careta quando uma nova criatura foi trazida, grunhindo e tentando atacar a todos os vampiros, que pareciam mais do que estar se divertindo com aquilo. —Eles estão treinando para a caça oficial dos clãs. —Ela apontou para a lua no topo do céu, um pouco apagada pelas nuvens. —Na noite mais longa do ano, quando a lua está cheia, o vale central fica lotado de criaturas das sombras. Nesse dia, todos os clãs enviam seus melhores vampiros pra lá. Não há regras. Eles só precisam sair vivos de lá, com a cabeça da pior criatura que cruzar seu caminho, e tem autorização de matar qualquer vampiro inimigo que quiserem, sem punição.

Olhei de volta para o grupo de vampiros, observando Quinn no meio deles, encarando o próximo vampiro que agora tentava atacar a criatura furiosa.

—A Quinn vai? —Indaguei, sentindo algo vibrar no meu interior quando ela virou a cabeça e nos encarou por cima do ombro, cerrando os olhos como se soubesse que estávamos falando dela.

—Como eu disse, os melhores entre os caçadores são escolhidos. Então não tenho como te dar certeza. —Ela riu, negando com a cabeça. —Mas se depender de Lorde Huxley, Quinn será a primeira a entrar naquele vale.

—Por que diz isso? —Me virei para encara-la, vendo seus olhos reluzindo um tipo de brilho que eu não sabia identificar o que significava.

—A família da Quinn já foi importante no Clã Huxley, antes do pai dela decidir trair nosso lorde, tramando com outro clã e ser morto por isso. —Ela tocou meu ombro, quando arqueei as sobrancelhas e esperei que ela disse mais alguma coisa. Mas ela apenas aproximou os lábios da minha orelha. —Quinn não gosta da história dela correndo solta pela boca dos vampiros. Por mais que a sua seja muito tentadora, se quiser saber mais, terá que perguntar diretamente pra ela, Will.

Megan piscou pra mim e então se afastou. Olhei em direção a Quinn, vendo que a atenção dela não estava mais em nós, apesar de eu ter certeza que antes de me virar, ela nos observava conversar.

—Megan? —Me virei pra vê-la parar de caminhar de volta para a caverna e olhar pra mim. —Qual era o clã?

—Clã Arteryon. —Ela torceu os lábios em reprovação. —O pior de todos os clãs, se quer saber.



Continua...

Laços de Sangue e Poder / Vol. 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora