Capítulo 49: Alcateia.

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—Acha que vai funcionar? —Nicolay olhou para Mayra, enquanto ela andava de um lado pro outro no jardim central do castelo. Milles, seu esposo, estava na sua forma de lobo, deitado na grama a observando.

—Bom, sim. Nosso cheio é forte o suficiente para cobrir o de vocês. —Mayra afirmou, passando as mãos pelos cabelos volumosos e negros.

—Então a questão é se vocês vão querer ajudar. —Lou murmurou, um pouco resignada ao olhar pra ela. —Sua alcateia iria entrar no meio de um evento que envolve todos os clãs, em uma noite em que as leis serão deixadas de lado.

—Nos ajudaríamos, Lou. Você sabe disso. —Mayra abriu um sorriso pequeno pra ela. —Em todos esses anos vocês nunca deixaram a gente na mão quando precisamos e não é agora que minha alcateia vai dar pra trás, só porque não somos da mesma espécie. Vou escolher os melhores lobos que possuo. Eu e Milles estaremos juntos, é claro.

—Tudo bem. —Nicolay balançou a cabeça, parecendo pensar em algum outro plano que poderíamos deixar pronto. É isso que ele tem feito desde que eu recebi a carta de Megan, bolar planos e armadilhas.

Olhei para Will, que estava sentado ao meu lado em uma das fontes que havia ali, encarando o chão com uma expressão pensativa. Ele não estava falando muito, mas eu sabia que era porque estava preocupado demais com seus pais para sequer se preocupar consigo próprio.

—Sabem... —Garrett coçou a garganta, atravessando o jardim e se escorando em uma das árvores que havia ali. Os cabelos prateados pareciam brilhar em contato com a luz do sol. —Eu posso ir com vocês. Teoricamente falando, faço parte de um clã de Artenis, então nada me impede de ir. Não irei representando vocês.

—Você iria? —Kyara se virou pra ele, parecendo surpresa. Garrett a encarou por alguns segundos, parecendo um pouco perdido em algo no rosto dela, antes de sorrir e balançar a cabeça afirmativamente.

—Ainda não falamos sobre nossos clãs em questão, mas enquanto não decidirmos o que acontece com nós dois, então não faço parte do Clã Arteryon e posso ir. —Ele deu de ombros, passando as mãos nos cabelos.

—É uma ideia a se pensar. —Nicolay concordou, olhando pra ele com interesse. —Você pretende voltar para Artenis?

—Não sem a minha parceira. —Garrett respondeu sem hesitar, olhando para Kyara com certa adoração. —Ainda não falamos sobre isso.

—Não é da minha conta, de qualquer forma. —Nicolay olhou pra irmã com um sorriso gentil. —O que Kyara decidir, eu apoiarei. Quero sua felicidade.

—Quais os clãs que existem em Artenis? —Jason surgiu do nada, fazendo todo mundo olhar pra ele, já que ele deveria estar na biblioteca e não ali. Estava com um livro aperto na mão, assim como uma pena. Eu podia ver que haviam várias anotações nas páginas dos livros, onde havia espaços em branco.

—Não conta. —Ágape murmurou, pulando de um dos bancos que havia ali para se deitar na grama. —Jason fica com essa de Artenis pra lá e pra cá. Não coloque mais lenha na fogueira.

—Isso não é da sua conta. —Jason retrucou, com um tom rude que me deixou surpresa, já que ele estava sempre calmo. —Você vive ranzinza porque não tem nada pra fazer da vida além de encher a paciência de todo mundo no clã. Se está tão incomodado com o que eu faço, é só não ficar no mesmo ambiente que eu.

—Jason! —Falei, ficando de pé. Ele olhou pra mim e se encolheu, dando de ombros. —O que há com você?

—Eu só estou curioso. O que tem de mais nisso? —Murmurou, abraçado o livro contra o peito. —E você sabe que eu estou falando a verdade.

—Pensei que gostasse do Ágape. —Me aproximei dele, sentindo que todos estavam nos olhando.

—Gosto, quando ele não está reclamando de tudo que eu faço. —Afirmou, e eu ouvi um bufo vindo do gato preto.

—Tenha santa paciência! —Ágape afundou o rosto entre as patas. —O vampirinho é sentimental e de coração mole.

—Ágape, controle sua língua só pra variar um pouco. —Nicolay mandou, fazendo o gato resmungar alguma coisa indecifrável e sair dali irritado.

—Não ligue pra ele, Jason. Ágape sempre foi assim, desde que o conhecemos. É o jeito dele. —Kyara afirmou, se aproximando de nós dois e passando o braço ao redor do ombro dele. —Eu também estou curiosa e tenho certeza que Garrett não vai se importar de responder suas perguntas.

—É claro que não. —Garrett abriu um sorriso para Jason, parecendo um pouco confuso com o que havia acabado de acontecer ali. Mas nada era normal no Clã Arteryon. E isso começava pelo gato falante que fazia parte da família.

Puxei Jason para se sentar ao meu lado, vendo Will olhar pra ele com atenção. Quando enfim me sentei, olhei pra ele e o vi se inclinar para perto de mim.

—Acha que tem alguma coisa acontecendo com ele? —Indagou, indicando Jason com a cabeça.

—Talvez. Nossa vida era bem monótona no Clã Huxley. Foi uma mudança e tanto vir pra cá. Além disso, estamos cheio de problemas, Will. Mesmo que isso não o envolva, acaba respingando nele de qualquer forma. —Afirmei, umedecendo os lábios com a língua. —Me preocupo com ele. Não quero que se sinta infeliz aqui.

—Sabem que eu posso ouvi-los, não é? —Jason se inclinou pra frente, olhando pra nós dois. —Pois é, minha audição é muito boa. E eu estou bem, obrigada por se preocupar.

—Você não costumava responder desse jeito. —Falei, passando a mão nos cabelos dele. —Está tudo bem mesmo? Tem alguma coisa que gostaria de me contar.

—Porque antes eu só tinha você e tinha medo de te perder. Agora estamos aqui e sei que todo mundo protege todo mundo. —Ele apertou mais o livro contra o peito. —Eu estou bem. Só estou curioso.

Fiquei olhando pra ele, enquanto Jason se virava para Garrett e fazia uma pergunta que não prestei atenção. Porque eu conhecia meu irmão. Eu o criei. Sei quando algo está mexendo com ele. Sei quando está feliz e quando não está. E havia alguma coisa ali.

—Existem quatro clãs em Artenis. —Garrett começou. —Clã Velmont, Clã Kendrick, Clã Goodwin e o Clã Fletcher.




Continua...

Laços de Sangue e Poder / Vol. 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora