Capítulo 31: Dom da mentira.

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Quinn

Olhei para a porta da sala quando ela se abriu. Mas diferente do que eu esperava, não foi Will que passou por ela. A bruxa caminhou até o meio dos sofás, sorrindo pra todos nós. Parecia tranquila demais, apesar do clima estranho naquele castelo. Não sei se o problema era eu, mas algo estava muito estranho ali.

—Lady Arteryon, que bom revê-la. —A bruxa afirmou, sorrindo para Louisa Reese, que a encarou por longos segundos, como se estivesse tentando se lembrar quem era ela.

—Bom rever você também. —Ela sorriu de leve, parecendo sem graça. —O que está havendo com a minha irmã?

—Ela está bem. Não se preocupe. —A bruxa vagou os olhos pela sala, até parar em mim e Jason, sentado no sofá aposto do de Lou. —Parece que a cada dia que passa, mais amizade com os vampiros eles fazem.

—Vou considerar isso um elogio. —Lou afirmou, franzindo a testa. —Mas concordo com você. As coisas estão evoluindo por aqui.

—Vão evoluir mais, te dou certeza. —A bruxa sorriu largo, como se aquela frase quisesse significasse muito mais do que deveria.

Lou olhar pra ela, cerrando os olhos como se tentasse entender o que ela queria dizer. A porta foi aberta de novo, por um dos guardas, deixando que Ágape entrasse e desfilasse pela sala até o sofá onde Lou estava. Ele parou, erguendo a cabeça peluda para a bruxa e curvando os bigodes.

—Ah... —Ele soltou um barulho de descontentamento com a boca. —Bruxas... sempre bruxas.

A bruxa ficou encarando ele, enquanto Ágape resmungava mais alguma coisa, subindo para o colo de Lou para se deitar sobre as patas. Observei os olhos amarelos dele encararem tudo, menos a bruxa.

—Não sabia que tinham um gato. —Comentou, olhando para Lou. —Ainda mais um que fala.

—Sim. Culpa de uma irmã sua. —Ela deu de ombros. —Ágape tem uma longa história com uma bruxa. Não tem um grande apreço por vocês hoje em dia.

—E ele tem apreço por alguém? —Jason indagou ao meu lado, fazendo Ágape erguer a cabeça e fita-lo com os olhos amarelos.

—Tenho, mas não por você, filho do demônio. —Ágape exclamou, afundando a cabeça nas patas e soltando um chiado quando Jason gargalhou. —Eu disse pra ficarmos só com a mais velha, Louisa. Ele ainda vai beber o meu sangue qualquer dia desses. Ai adeus Ágape.

—Eu não vou te matar. Para de drama. —Jason murmurou, fazendo um movimento para se levantar. Agarrei o braço dele, vendo-o se voltar pra mim. Não precisei dizer nada. Jason se sentou no sofá ao meu lado, sabendo que eu não queria que ele ficasse perambulando por ali.

—Qual a história com as bruxas? —A bruxa indagou, deixando claro que ainda estava na sala.

—Não é da sua conta. —Ágape se ergueu, girando no colo de Lou até estar virado com a bunda para a bruxa. —Intrometida.

Ele se deitou de novo, fingindo ignora-la. Lou abriu um sorriso, corando e olhando pro lado para não deixar a bruxa perceber aquilo. Mas eu já havia percebido que Ágape não era nem um pouco sutil nos comentários. Ele falava o que vinha a cabeça. Mas era fiel a eles também. Tive prova disso.

—Bem, tanto faz. —A bruxa rio, dando de ombros. —Mas eu tomaria cuidado com ele se fosse você. —Ela apontou para a Lou, erguendo as sobrancelhas. —Animais falantes nunca significam boa coisa.

—É o que? —Ágape se virou pra ela, fulminando-a com os olhos. —Eu só falo por causa de uma de vocês, sua maluca. Se eu tô aqui hoje, falando pelos bigodes, a culpa é das suas poções idiotas.

A bruxa gargalhou baixinho, negando com a cabeça enquanto encarava o gato preto com os pelos arrepiados e expressão raivosa.

—É claro que é. —Ela começou a se afastar, indo em direção a porta, com um ar divertido. —Vocês tem o dom da mentira, gato. Você, mais do que os outros da sua espécie, pelo visto.

—Fica na sua, bruxa. Ninguém pediu sua opinião. —Ágape resmungou, se deitando no colo de Lou de novo e voltando a ignorar a bruxa. Ela saiu da sala sem olhar pra trás, deixando aquelas palavras estranhas no ar.

—Qual a sua história com as bruxas? —Indaguei, ficando subitamente curiosa. Ágape se preparou para responder, mas ficou quieto quando Will finalmente entrou na sala, olhando para cada um de nós, até me encarar e abrir um sorriso.

—Eles querem conhecer você. —Afirmou, me fazendo encolher no lugar. Nunca achei que ficaria nervosa por conhecer alguém. Mas também, não estava esperando encontrar meu parceiro e descobrir que ele tem pais humanos.

[...]

Lou entrou no quarto primeiro, junto com Ágape. Ele pulou na cama e se sentou na ponta dela, recebendo uma afofada na cabeça de um homem que estava de pé ali. Não demorei a reconhecê-lo, porque nossa, ele era uma versão mais velha e humana de Will. Era bonito como ele. Uma beleza que só os humanos tinham. Alguns acham que só os vampiros são belos e únicos. Mas sempre achei que os humanos têm sua beleza simples que se sobressai.

Fiquei em silêncio, agarrada a Jason enquanto via Lou abraçar a irmã que estava deitada na cama, pálida e parecendo cansada. Elas sussurraram algumas coisas uma com a outra, antes de Lou se afastar e deixar que ambos me vissem. A mãe de Will era tão bela quanto o marido. Diferente de Lou ela tinha cabelos escuros. Era uma beleza diferente da irmã. Mas era uma beleza que também me lembrava meu parceiro.

Senti a mão de Will nas minhas costas, me fazendo ficar rígida e relaxar ao mesmo tempo.

—Mãe. Pai. —Ele tocou no ombro de Jason, abrindo um sorriso. —Esse é o Jason. Foi ele quem salvou minha vida no Clã Huxley.

—Foi mesmo. —Jason concordou, dando tapinhas na mão de Will, o fazendo rir. —Nunca precisei correr tão rápido na vida.

—Venha aqui, Jason. —A mãe de Will chamou, dando um tapinha na cama. Jason fez o que sabe fazer de melhor, conquistar qualquer um. Ele foi até a cama, subindo nela sem pensar duas vezes. —É um prazer conhecê-lo.

—O prazer é meu, majestade. —Ele sorriu, e eu percebi que estava perdendo a respiração perto dela. Porque diferente dos outros, ela e o homem não estavam usando colares.

—Pode me chamar de Lyn. Pelo que eu sei, somos da mesma família agora. —Ela tocou a bochecha dele, abrindo um sorriso muito radiante. —Você é muito bonito, sabia?

—Obrigada. A senhora também é. E tem um cheiro muito bom. —Jason afirmou, fazendo o ar se prender na minha garganta.

—Jason! —Exclamei, vendo ele se encolher.

—Desculpe. —Ele ficou sem graça, enquanto Lyn abria um sorriso. —Não vou mordê-lá, prometo. Foi só um elogio.

—Tudo bem, querido. Já fui mordida por um vampiro antes. Posso contar a história pra você daqui a pouco. —Afirmou, me fazendo olhar para Will depois daquela informação. Porque não fazia o menor sentido. Não com ela sendo humana. E eu tinha certeza que era.

—Bem... —Will segurou minha mão, me puxando para mais perto da cama. —E essa é a Quinn. Irmã do Jason e minha parceira.



Continua...

Laços de Sangue e Poder / Vol. 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora