Capítulo 22: Corra, Jason.

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Puxei Jason pra minha frente, o abraçando pelo ombro, deixando seu corpo colado no meu, porque ele era a única coisa que fazia minha mente ficar focada no que estava acontecendo e me ajudava a me manter centrada naquele momento. Como eu fui parar naquele momento de novo? Anos atrás era meu pai, agora era o vampiro que eu tinha acabado de descobrir ser meu parceiro. Era como um ciclo sem fim.

—Como ousa? —Fallon rosnou, ficando com o rosto curvado em fúria e descrença. —Vai me desobedecer dentro do meu próprio clã?

—Eu não devo obediência a você! —Will rebateu, ainda mantendo uma calma assustadora.

—Seu título de príncipe não serve de nada aqui. Nós, lordes como eu, somos os governantes. Vai se ajoelhar a isso, se quiser continuar vivendo! —Lorde Huxley desceu os degraus, parando a alguns metros de Will, que apenas sorriu, erguendo ainda mais o queixo.

—Um príncipe nunca deixa de ser um príncipe, independente das terras que ele pise. —Ele alisou a camisa um pouco amaçada, indiferente ao vampiro irritado na sua frente. —E só tem um lorde vampiro que detém meu respeito, e ele não é você.

Apertei a camisa de Jason, tendo certeza que rasgaria o tecido a qualquer segundo, quando as mãos pequenas dele envolveram as minhas. Mas meus olhos estavam em lorde Huxley, que agora estava na frente de Will, pronto para arrancar a cabeça dele.

—Lorde Arteryon não está aqui para salvá-lo. Ninguém está. —Ele riu com desdém. —Levem ele para o calabouço. Até eu decidir o que farei, não quero ninguém em contato com ele e muito menos dando sangue a ele.

Observei imóvel Will sorrir pra ele, como se não se importasse com aquilo. Ele não foi arrastado. Ele simplesmente seguiu os vampiros que provavelmente o arrastariam até o calabouço. Ele fez isso sem reclamar, sem olhar pra mim e sem dizer uma única palavra.

Antes que Lorde Huxley notasse minha presença ou simplesmente desconfiasse de mim, agarrei a mão de Jason e disparei de lá, atravessando todos os corredores até nossa pequena caverna. Abri a porta e puxei Jason para dentro, passando a tranca na mesma, apesar de saber que eles poderiam entrar ali se quisesse.

—Quinn? —Jason chamou, hesitante, enquanto eu ainda encarava a madeira negra da porta, lembrando do que tinha acabado de acontecer. Esfreguei a mão no rosto, escorregando para o chão, enquanto forçava minha mente a focar naquele laço, desejando que Will desse qualquer sinal. Mas ele não fez nada. Estava silêncio demais.

—Quinn? —Olhei para Jason, vendo ele puxar meus braços e me encarar com os olhos arregalados. —Ele vai morrer? Podemos fazer alguma coisa?

Olhei pra ele, abrindo e fechando a boca várias vezes, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas. Aquela coisa na minha mente brilhou e eu o sentindo outro lado, acariciando o laço como se quisesse dizer que estava tudo bem.

—Ele é meu parceiro. —Falei, com os lábios trêmulos. —Ele é meu parceiro, Jason.

Ele soltou uma respiração ruidosa, parecendo surpreso. Então simplesmente me abraçou, afagando meus cabelos como eu costumava fazer com ele. Respirei fundo, apertando-o contra mim, enquanto absorvia aquele momento.

—Temos que avisar o Clã Arteryon. —Afastei Jason de mim, encarando o rosto dele, que parecia um pouco assustado. —Temos que avisa-los, Jason. São os únicos que podem fazer alguma coisa agora...

—Hm... sem querer atrapalhar, mas já atrapalhando, alguém pode explicar o que tá rolando? —Ergui os olhos para a voz masculina, quase caindo para trás ao ver o gato preto que estava sentado no meu sofá, olhando pra nós dois com os bigodes erguidos em uma careta.

—Quinn, esse é o Ágape. Ele é...

—Membro do Clã Arteryon, sim, sim... já passamos por isso. —Ele cortou Jason, revirando os olhos muito amarelos. —O que está rolando afinal?

Olhei pra ele por alguns segundos, com meu rosto curvado em uma careta, enquanto minhas sobrancelhas estavam erguidas. Ainda estava observando a imagem do gato falante quando Jason começou a contar o que havia acontecido, fazendo o gato ficar de pé, com uma expressão emburrada.

—Vampiro idiota! Eu disse que tínhamos que ir embora! —Ágape resmungou, chiando em exasperação, antes de olhar pra mim. —Parceira, é?

—É. —Falei, ainda olhando pra ele como se estivesse vendo um cachorro de ter cabeças. —Temos que avisar o Clã Arteryon.

—Não sei se temos tanto tempo assim. —O gato se coçou no pescoço, parecendo estressado. —O Clã LaRue é mais perto. Lorde LaRue pode interceder por Will, o que dá tempo de o Nicolay e a Louisa ficarem sabendo.

—E ele faria isso por Will? —Indaguei, com as sobrancelhas erguidas, vendo o gato preto revirar os olhos. —Não me parece fazer muito sentido.

—Eu sou um gato que fala, isso faz algum sentido pra você? —Caçoou, tombando a cabeça preta de lado, enquanto eu negava. —Viu, não precisa fazer sentido, só tem que funcionar. Você cuida do seu parceiro, eu e o mini projeto de demônio vamos até o Clã Arteryon.

Ele pulou do sofá, enquanto eu processava o que ele havia acabado de falar.

—Jason? —Indaguei, olhando para o gato que já estava na frente da porta.

—Tem outro irmão além dele? —Quando não respondi ele revirou os olhos. —É, o Jason. Não temos tempo e eu não consigo atravessar a floresta na velocidade de um vampiro. Além disso, achei que você não fosse querer sair daqui sem o Will.

—Eu não pretendo sair daqui sem ele. Mas... —Parei, olhando para Jason, vendo que ele já estava amarrando a bota, deixando a bem firme nos seus pés. Pensei em Lorde Huxley, com meu corpo ficando rígido.

Se ele soubesse... se ele sequer desconfiasse...

Jason olhou pra mim e sorriu, como se não estivesse com medo e muito menos preocupado. Soltei uma respiração pesada e segurei a mão dele, depois que Jason se levantou e segurou Ágape no colo, que olhava meio desconfiado para meu irmão.

Saímos do clã por uma das passagens escondidas, que davam para a floresta densa. Não encontramos ninguém no caminho, porque provavelmente estavam todos ocupados com a novidade nova. Parei no meio da floresta, quando já estávamos afastados o suficiente e olhei ao redor, checando que não havia ninguém ali. Então me abaixei na frente de Jason, segurando o rosto dele com o sangue feito brasa nas minhas veias.

—Só vou deixar você ir, porque tenho medo que ele descubra sobre o laço e isso sobre pra você de alguma forma. —Afirmei, vendo Jason me fitar sem qualquer expressão. —Prometo que vai ficar tudo bem.

—Eu sei, não estou com medo, Quinn. —Ele sorriu, deixando um beijo na minha bochecha. —Vou fazer de tudo pra te ajudar. Ele é seu parceiro, então é da nossa família.

Soltei uma risada, puxando o rosto dele e o enchendo de beijos, desejando que ele soubesse o quanto era importante pra mim.

—Não se preocupe. Conheço Lorde LaRue. Ele vai ajudar. —Ágape prometeu, erguendo a cabeça pequena para me olhar, quando fiquei de pé. Balancei a cabeça afirmativamente, umedecendo meus lábios com a língua, antes de olhar para meu irmão de novo, com aquela coisa possessiva dentro de mim dando as caras.

—Corra, Jason. Corra e não olhe para trás. —Afirmei, vendo ele erguer a cabeça e assentir, com uma expressão firme e corajosa. —E se alguém pegar você... arranque a cabeça de quem quer que seja.


Continua...

Laços de Sangue e Poder / Vol. 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora