HELSING O SANGUINÁRIO: INDÔMITO

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Tema: Lobisomens
Título:  Helsing O Sanguinário: Indômito
User: UniversoDG      
Autor: Douglas Rufino

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                     - INDÔMITO -

Emboscado pela astúcia daquele maldito cientista insano, na noite em que eu deveria finalmente dar cabo ao conde amaldiçoado pelo Demônio e suas três abomináveis esposas, que aterrorizavam os pobres cidadãos da Província de Bran, eu agora contemplava o chão abrir-se sob meus pés.

Como não pensara nisto? Um alçapão posto exatamente sob uma abóbada, no salão de festas daquele castelo lúgubre?

Alistara-me voluntariamente para um programa experimental secreto do Vaticano a fim de criar guerreiros formidáveis que combatessem às Forças do Mal e ganhado habilidades que tornaram-me imparável ante tantos monstros que enfrentei.

Recordo-me do ensandecido Edward Hyde que deu-me muito trabalho naquela noite sombria de tempestade em que o detive duma vez por todas, após uma batalha renhida sobre os telhados de Londres.

Eu obtivera secretamente, acesso a registros que apontavam os jovens cientistas Hawley Griffin, Henry Jackyll e Victor Frankenstein, como os responsáveis por criarem a fórmula que fora-me aplicada para tornar-me um guerreiro infalível e à altura dos oponentes que deveria encarar ao cabo de anos de incessante e exaustivo treinamento.

Derrotara vampiros e lobisomens antes, seres aquáticos, alados e rastejantes, feitos que garantiram-me fama e respeito, tanto entre as mais prepotentes autoridades, quanto entre os mais vis criminosos.

Mas ali estava eu, Gabriel Van Helsing. Mal perdera minha amada Anna Valerius durante uma batalha que deveria ser a final contra Drácula, suas três esposas e proles sedentas por sangue, e agora via-me emboscado por um monstro cuja aparência não estava à vista, porém como todo monstro tinha um nome... Caindo para a morte enquanto olhos bulbosos e brilhantes aguardavam-me ao fundo daquela cova infinita.

Uivos, latidos e rugidos ensurdeceram-me, quando senti meu sangue escorrer entre os dentes, devido ao meu impacto naquele solo rochoso e úmido que cheirava à fezes, urina, cachorro molhado e um odor fortemente férreo que só poderia ser sangue.

Dores terríveis avisaram-me que minhas pernas e braços agora estavam quebrados. Um grande osso havia rompido meu cotovelo e o sangue vertia como se fora a pequena nascente dum córrego entre rochas.

Falando em dores, eu já passara por algo terrivelmente lancinante outrora para tornar-me a lenda que todos conheciam, mas aquilo era diferente, maligno e aterrador, até mesmo para meus padrão, e experiência.

O sangue já tomava-me os pulmões impossibilitando-me de respirar, quando senti numerosas garras enormes e afiadas transpassarem-me o corpo já despedaçado.

Eram lobisomens, uma multidão deles, enclausurados, ensandecidos e raivosos. Alguns eram bípedes e outros quadrúpedes, assemelhavam-se a lobos gigantes dos quais eu, o outrora e renomado caçador de monstros, agora não passava duma reles presa.

Sentindo-me como o Cristo em meio aos açoites que dilaceravam-lhe a carne antes de ter seus pulsos e pés transpassados e seu corpo içado no Gólgota, ouvi apenas os rosnados e grunhidos enquanto meu corpo era reduzido à uma carcaça moribunda compartilhada pelas bestas infernais que já aranhavam-me o peito, lambendo o sangue que vertia dos membros que tentavam arrancar-me. 

Todavia, enquanto as comportas daquele alçapão se fechavam, assim como minha passagem por este plano mortal e terreno...

Eis que pude contemplar a lua cheia em todo seu esplendor irrompendo das nuvens, e atravessando os vitrais agora quebrados daquela abóbada, como se fora uma noiva formosa e desnuda, preparada para as delícias duma eterna noite de núpcias.

A morte aproximava-se de mim, como uma amante indesejável que tentava impedir-me de desposar aquele brilho que tocava-me o rosto. Era terno, era incógnito, porém lindo!

E antes que portas daquele alçapão se fechassem algo insólito ocorreu.

Em meio à completa escuridão, algo fluído e gélido começava a penetrar os ferimentos causados pelos monstros que deveriam dar-me cabo à vida.

Eu já não sentia mais qualquer dor e meu corpo desfigurado parecia recompor-se sobrenaturalmente.

Furiosos, os lobisomens ainda me atacavam quando senti uma fúria incontrolável e sobre-humana apossar-me, como uma entidade sobrenatural tomando o controle de minha alma.

Foi quando olhei para meus membros quebrados e os vi, regenerando-se a cada golpe que meus ferozes algozes ainda desferiam-me.

Eu tornara-me um deles, porém mais forte, mais ágil e certamente mais furioso.

Aos meus olhos, tudo naquele ambiente movia-se com total lentidão, enquanto eu assumia o controle duma nova forma corpórea, duma nova natureza animalesca e monstruosa.

Numerosos lobisomens ainda mordiam-me, quando senti todos meus ossos quebrando e rearranjando-se. Músculos imensos deram-me um novo formato ao corpo enquanto minha visão tornava-se monocromática, depois acinzentada e esverdeada, permitindo-me enxergar naquela completa escuridão que sucedeu-se ao fechar do alçapão.

De repente, num rasgo de fúria, gritei com todas as minhas novas forças, porém minha audição, subitamente aguçada, foi surpreendida por nada menos que um rugido ensurdecedor, tão poderoso quanto o de um leão.

Meu corpo agora era coberto por uma pelagem negra, enquanto longas garras afiadas e curvas substituíam-me as unhas.

Enquanto sentia e contemplava aquela tamanha e assustadora monstruosidade que ocorria em meu próprio corpo, pude notar os lobisomens que eu arremessara para todos os lados e que ainda caíam lentamente, batendo nas paredes, nas colunas e no chão.

Arqueando minhas pernas, cujos joelhos haviam invertido-se para trás como os de um lobo, tensionei toda minha nova musculatura e arremeti com meus punhos cerrados, saltando na direção daquelas comportas de ferro que não puderam conter a força titânica que fez partirem-se-lhes as trancas.

Caminhando entre as portas de ferro quebradas e retorcidas, deparei-me com uma grande poça d'água onde a lua refletida convidava-me a um breve instante de contemplação daquela minha nova forma corpórea.

Ao contemplar os demais lobisomens e lobos gigantes libertando-se daquela prisão, porém ao invés de dispersarem-se, cercando-me e uivando, enquanto a poça d'água aos meus pés refletia um imenso lobisomem negro rugindo para a lua cheia... Eu renasci.

Embora monstruoso e inevitavelmente tomado por instintos que ainda desconhecia, senti-me ressurreto, livre, completo, indômito.

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