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Karina's pov:

"O quanto uma pessoa precisa chegar perto do fim antes do recomeço?"

Ergo a cabeça, estreitando os olhos para a luz do sol. Não posso vê-lo com clareza, apenas sua silhueta contra o céu, mas sorrio comigo mesma enquanto viro o capuz do moletom cinza sobre os cabelos e disparo pelo cais.

Venho querendo fazer isso... bem, há uma eternidade, desde que minhas mães compraram uma casa de veraneio no local há alguns meses. Elas se mudavam muito; é algo com que eu simplesmente me acostumei com relação à minha família. Minhas mães eram funcionárias de uma multinacional e iam aonde o trabalho as mandava, ficavam por algum tempo e depois seguiam adiante.

Devido a isso, por muito tempo eu não tive a oportunidade de fazer amigos. Foi somente há dois anos, quando elas se estabeleceram em Busan que as coisas começaram a mudar. Eu só não posso dizer que foram exclusivamente para melhor.

Balanço a cabeça e me afasto do local onde minhas mães estão dando uma social. O sol quente aquece minha pele. Seguindo para a beira do cais, tiro meu tênis e minhas meias. Mergulho meus pés na água fria e deito na doca de madeira, que range com meu peso.

O celular toca no bolso do meu short com a chegada de uma mensagem, mas eu o ignoro. Sei que já perceberam a minha ausência e não tenho o menor interesse de voltar para casa agora. Nada naquela social vai me interessar.

Eu entendo que esse tipo de confraternização é importante para minhas mães e o negócio delas, mas odeio ser arrastada para isso todas as vezes.

Tudo é tão irritante, desde as fofocas desnecessárias até as pessoas de mente pequena que sempre aparecerem. Elas agem como se tivessem saído diretamente de um filme clichê com personagens estereotipados de cidadãos fictícios, embora os estereótipos decorram de fatos reais. Talvez a alta classe coreana seja o modelo usado para esses filmes. De qualquer maneira, eu odeio esse tipo de coisa.

Não dá para dizer que essas pessoas são ignorantes em relação ao mundo real fora dos limites das suas riquezas, porque não são. Eles sabem o que acontece lá fora.

Eles sabem que o país está uma bagunça. Entendem que a pobreza esta presente na nossa nação e tem ouvido histórias sobre o crime organizado. Sim, a alta classe coreana sabe muito bem como o mundo real funciona, mas eles simplesmente preferem conversar sobre coisas que não tem a menor importância, e esse é um dos motivos por que eu odeio ir nesses eventos sociais.

Com todo o ódio que eu sinto por isso, é bom saber que o sentimento é mútuo. Muitas das pessoas que me conhecem mantém distância tanto quanto possível — talvez até mais.

Eu já ouvi algumas delas cochichando sobre mim, mas não me importo. Elas me chamam de inconsequente e isso me incomodou no começo, mas quanto mais tempo passa, mais eu percebo que isso já foi uma verdade. As pessoas fabricaram uma visão errada de mim por conta dos meus erros e, depois de um tempo, eu desisti de tentar corrigir isso.

Eu não posso me importar menos com o fato de essas pessoas gostarem da minha presença ou não. Mas mão admito que meus erros recaiam sobre minhas mães.

Na maior parte do tempo, elas estão rodeadas por amigos e pessoas de boa índole. Mas nenhum círculo social é perfeito, então não é surpresa quando algum inconveniente aparece. As perguntas que fazem são tão ofensivas e invasivas, mas elas lidam bem com tudo — melhor do que eu lidaria.

Elas fazem jus ao nome e ao papel que desempenham na sociedade, agindo sempre com postura e elegância.

Mas eu? Muitas vezes preciso me esforçar muito para não atacar todo mundo que as incomoda. Talvez eu mereça os comentários rudes. Talvez eu tenha errado tanto que mereça o lado feio da cidade, mas minhas mães?

Start Over - WinRinaOnde histórias criam vida. Descubra agora