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Winter's pov:

"Dizem que, com o tempo, tudo pode melhorar. Mas eu não consigo entender como isso pode acontecer. A cada dia, tudo só se torna mais difícil."

O céu está banhado em tom alaranjado e a brisa de fim de tarde só me deixa ainda mais reflexiva. Meus olhos se voltam para as luzes do bairro ganhando vida. Uma copia de Hamlet está esquecida sobre meu colo. Não sei quanto tempo passei na biblioteca, mas definitivamente não foi a leitura quem me fez companhia nesse período e sim os meus pensamentos.

A pior companhia que eu poderia ter no momento.

Jimin saiu do cômodo com uma clara aversão a minha pessoa. E não posso dizer que nosso primeiro contato tenha sido positivo. Embora eu tenha ensaiado diversas vezes como causar uma boa primeira impressão, foi só por os olhos nela para saber que eu não estava preparada. Porque essa garota é completamente diferente de tudo o que imaginei.

Dizer que minha mãe me encurralou é pouco, porque sei exatamente aonde ela quer chegar com tudo isso. Ela não está só tentando me trazer de volta ao mundo real, está esfregando o mundo real na minha cara.

Quase parece que estamos recriando um relacionamento de mãe e filha que está perdido no tempo e no espaço. Mas eu não sou uma pessoa idealista e sei que as coisas não são tão simples assim.

Quando eu era adolescente, passava praticamente todas as minhas tardes na editora onde ela trabalha. Numa dessas visitas, Taeyeon me repreendeu mais uma vez porque eu andava relapsa com meus estudos, dizendo que para entrar em uma faculdade de peso era necessário muita dedicação e comprometimento. Mas meu pai me ensinara que era preciso respeitar o meu tempo, ele dizia que, se não sentíamos a alma na coisa, não devíamos continuar nos forçando a fazê-la.

Eu ainda me lembro desses momentos.
Apesar das cobranças, minha mãe sempre me abraçava e sorria. E quando encerrava o seu horário de trabalho, nos saímos para fazer algo juntas. Aquela foi uma das últimas vezes em que fomos felizes juntas.

Levo as mãos aos olhos e dentro de instantes, lembro-me do que aconteceu comigo. Lembro-me de como ele olhava. Como ele se sentia. Alguns dias eu me culpo pelo que aconteceu, esquecendo que eu fui uma vítima naquela noite.

Ela não conseguia respirar.

Minha garganta aperta como se os dedos dele estivessem enrolados ao redor do meu pescoço em vez da mulher.

Corra Minjeong! Minha mente continua gritando, mas eu fico imóvel, incapaz de olhar para longe do horror diante dos meus olhos.

Meu celular começa a tocar, trazendo-me de volta a realidade. O nome de Ningning aparece na tela, mas não atendo porque sei que, se atender, ela vai notar que não estou bem e eu vou ficar incomodada com isso. Ningning liga mais uma vez e então manda uma mensagem.

Ela pergunta se a gente pode conversar.

Só que eu não tenho a menor vontade de fazer isso agora, então fico aqui, nessa sala silenciosa, enquanto minha ansiedade começa a aumentar. A ansiedade é como um animal selvagem. Ela me ataca nos momentos de tranquilidade, quando o mundo está calmo e eu também deveria estar. Mas é nesses momentos que minha mente começa a girar. Eu fico pensando obsessivamente sobre todos os aspectos da minha vida. Meu coração e minha mente travam uma guerra.

Eu não consigo relaxar. Meu corpo está exausto; mesmo assim, sempre que eu fecho os olhos, ele aparece na minha mente. Seguido pela imagem de uma mulher e seu belo rosto implorando por socorro.

Coloco meu livro sobre a mesa e caminho até a janela, respirando fundo o ar de fim de tarde.

Sem conseguir me livrar do sentimento provocado pelas minhas lembranças, eu faço a única coisa que sei que vai fazer com que eu me sinta melhor. Vou para a varanda de casa.

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