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Winter's pov:

"O passado se tornou o meu presente, mas espero que ele não defina o meu futuro para sempre."

Passo a mão no espelho limpando o vapor do banho e olho para a garota que me olha de volta, conheço cada traço do rosto dela, cada uma das marcas que a vida lhe trouxe, mas não reconheço mais a pessoa que vive ali dentro.

Dia após dia vi a garota que eu me orgulhava ser consumida pela humilhação e pela dor, dia após dia eu me perdi do que eu acreditava e do que eu amava, fui anulada, calada, aprisionada. Aprendi a odiar minhas lembranças, descobri que elas eram na verdade uma maldição... até que me tornei quem eu sou hoje.

Tem dias que me lembro da garota que fui e acredito que jamais a encontrarei novamente, tem dias que eu sinto como se estivesse quase lá, mas na maioria das vezes eu apenas espero... e esperar se tornou a minha grande especialidade.

Termino de me vestir e vou para a sala da biblioteca, de volta ao meu refúgio pessoal.

A estante de livros que eu tenho desde que eu era mais nova está agora cheia de romances, e aqueles que não se encaixam nas prateleiras estão dispostos ao redor do perímetro da sala.

Ao contrário da maioria das pessoas, meus livros não foram agrupados por gênero ou nome do autor. Meus livros foram colocados juntos com base na cor de sua ligação. Todos os vermelhos estão ao lado um do outro, enquanto todos os azuis ficam juntos. Então, quando alguém entra na minha biblioteca particular, eles veem uma borda de arco-íris envolvendo o espaço.

Nos últimos meses tenho passado muito do meu tempo nesse cômodo, sentada em uma poltrona e me apaixonando por homens e mulheres de lugares distantes.

As palavras tem o poder de transportar uma garota reclusa para mundos que ela jamais imaginou.

Cada uma das pessoas próximas a mim encontrou uma certa maneira de lidar comigo e com minha reclusão nos último ano. Ningning tornou-se uma das minhas melhores amigas. Ela passa muito tempo comigo, junto com a namorada, jogando videogames, vendo filmes e discutindo sobre a faculdade na qual não consegui ingressar.

Minha mãe meio que se fechou depois que ela percebeu a situação em que nos encontrávamos. Nós moramos na mesma casa, mas ela quase não me fala sobre qualquer coisa que não seja baseada na editora na qual trabalha. A verdade é que eu posso dizer que, ela meio que se culpa pelo que aconteceu comigo. Ela não sabe exatamente o que dizer para mim, então depois de algum tempo, esse se tornou o nosso novo normal. Eu não a culpo, entretanto.

Meu pai continua o mesmo, embora, a gente não more juntos há anos. Sempre que vem a Seul, ele encontra um tempo para me visitar. Lá no fundo, eu sei que ele compartilha de algumas opiniões da minha mãe, mas prefere não comentar nada sobre isso já que não somos exatamente próximos.

— Vejo que está se preparando para sua leitura da tarde — Minha mãe diz, de pé na porta da biblioteca. Desvio o olhar da prateleira de livros e respiro fundo. Ela acabou de chegar do trabalho, mas, diferente do habitual, não parece cansada demais para vir me cumprimentar.

Devolvo o livro em minhas mãos e sento de pernas cruzadas na minha poltrona, olhando para ela. Seu cabelo escuro está ficando longo, seu estilo de mulher de negócios, e ela veste as roupas sociais de sempre. De vez em quando, move ligeiramente os dedos para afastar alguns fios de seus olhos.

Dizem que sou uma versão mais nova dela, mas tenho certeza que se referem apenas a questão da aparência. Estou longe de ser comparada a mulher que os sites descrevem como gênio atemporal.

— O que você está lendo? — Ela pergunta, enquanto entra na sala e se recosta em uma grande mesa de mogno perto da janela. As vezes a biblioteca serve como uma espécie de escritório secundário para minha mãe. Por muitas noites fazemos companhia uma para a outra; ela imersa no seu trabalho, e eu presa em alguma nova leitura.

Start Over - WinRinaWhere stories live. Discover now