11 • Traga a realidade de volta

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A carruagem crepitava a cada pequeno buraco na estrada de pedras. Abandonando a imensidão verde da charneca, eu agora via surgir um caminho mais urbanizado, cheio de aglomerados de casas menos esparsas. Eu e Lila estávamos indo ao centro de Bronshire para comprar vestidos, e aproveitando a situação, nossos hóspedes mais jovens também nos acompanharam para ir ao restaurante preferido de Harold. Enquanto isso, Benjamin, Thomas e papai tinham outra reunião sobre "assuntos do Parlamento", mais uma estritamente fechada para os três lordes parlamentares.

Segurando a saia do vestido com alguma força, eu tentava me acostumar ao ritmo da carruagem. Era absolutamente estranho balançar naquele veículo puxado a cavalos para ir fazer compras quando costumava ter um carro e comprar pelo celular. Estava tão tensa que mal me importava com as gargalhadas de Cordelia ao meu lado, rindo sem parar do meu incidente com a sobremesa no jantar. Ela segurava a barriga apertada pelo espartilho e mal conseguia falar direito, com os olhos marejados pelo riso.

— Eu lhe juro, Mysie, que talvez nunca tenha visto nada tão engraçado na vida! A sobremesa saltando, o vinho caindo... Ai! Precisei de toda força do mundo para não rir ali mesmo, na sala de jantar. Ao que parece, você e lorde Chapmont estão mesmo fadados ao desastre. E considerando que você já o abandonou duas vezes antes de estragar o jantar e as roupas dele, não preciso nem dizer quem de vocês dois deve estar mais aborrecido.

Eu estreitei os olhos na direção de Lila. Naquele momento, toda minha esperança de que ela não soubesse o que havia acontecido sob a árvore deixou meu coração, e eu afundei no assento da carruagem, resfolegando.

— Ah, então você sabe sobre o passeio na charneca.

— É claro que sei! — Ela revirou os olhos. — Tenho até que admitir que lorde Chapmont foi bem convincente quando disse que o calor não havia a feito bem e que você precisou voltar para casa. Se eu não lhe conhecesse nem soubesse como vocês começaram tudo com o pé esquerdo, até acreditaria nessa desculpa deslavada, como lorde Dumbleton acreditou.

Parando um instante e encarando a paisagem pela janela da carruagem, eu sopesei as palavras de Lila antes de voltar a encará-la.

— Lorde Chapmont disse mesmo isso? — indaguei, um pouco surpresa.

— Sim, disse. — Ela asseverou. — Inclusive, estou muito curiosa para saber qual o motivo de se desentenderem tanto, já que não me contou nada desde o baile.

— Não houve nenhum desentendimento. — Tentei amenizar. — Na verdade, o que tivemos foram apenas... embates de pontos de vista. Dessa vez, por exemplo, foi somente uma pequena discordância sobre como você e lorde Dumbleton estão apaixonados, mas não admitem isso um ao outro. 

Ao me ouvir, Lila arregalou os olhos, desviando-os rapidamente de mim para encarar a estrada. Desfazendo sua postura impecável, ela bufou e cruzou os braços no peito enquanto eu apenas ria.

— De onde vocês tiraram essa tolice? Nós não estamos apaixonados.

— Mas você gosta da companhia dele, não gosta? — insinuei, deixando meu queixo repousar no seu ombro. Ela virou um pouco o rosto para mim, um vislumbre de sorriso em seus lábios.

— Sim, eu gosto. — respondeu sinceramente, sem hesitar. — Mas isso não quer dizer nada. Ele... ele é muito bonito e gentil, mas...

— Mas muito arrogante?

Eu já havia ouvido aquilo de Lila tantas vezes no meu século de origem que não pude duvidar que ela diria o mesmo agora. Ela revirou os olhos, contrariada, mas assentiu logo depois.

Lila, Lila... por que não para de arrumá-lo defeitos e admite o que sente?

Me olhando pelo canto da vista, Cordelia não respondeu à minha provocação matreira. Ao invés disso, ela balançou a cabeça em negação e ajeitou a postura.

Trago Seu Amor de VoltaDove le storie prendono vita. Scoprilo ora