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Oh, Deus. Lauren.

A visão dela fez meu coração quebrar inteiro de novo.

Ela arregalou os olhos por um momento, então ela se fechou, a dor neles eclipsou para algo muito, muito pior. Distância. E indiferença fria. Eu não conseguia respirar. Anos de saudade, medo e tristeza me encheram, todos de uma só vez. A dor em meu peito que tinha começado há três anos, queimou com nova intensidade. Havia esse abismo, este oceano de dor nos dividindo, embora estivéssemos a poucos metros de distância. 

Seu maxilar cerrou quando ela olhou para mim, seu olhar profundamente escuro prendeu ao meu. Havia apenas Lauren no meu mundo naquele momento. Eu queria correr para ela, jogar meus braços em volta do pescoço e esmagar os meus lábios nos dela. Eu queria descobrir tudo o que tinha acontecido - onde sua família tinha ido, o que ela estava fazendo... como ela estava. Eu queria dizer que estava arrependida, para demolir essa distância e extinguir a dor.

Mas tudo o que eu consegui fazer foi ficar congelada no lugar e olhar fixamente. Alguém bateu no meu ombro, me tirando do transe. O som suave do francês fluindo entre os transeuntes. A exposição dos artistas voltou para a minha consciência, invadindo os meus sentidos com sons e cores e cheiros. E o mundo começou a se mover novamente. Lauren afastou-se de mim e foi para trás da sua exposição, em seguida, disse algo para o artista ao lado dela que eu não consegui entender. 

Fiquei maravilhada com as pinturas dela, enquanto caminhava lentamente em sua direção. A maior parte do seu trabalho consistia em paisagens de Paris, como muitos dos outros artistas nesta praça. Eles eram bons - ótimos mesmo -embora, dificilmente uma verdadeira demonstração do seu talento incrível. Mas ela também tinha um punhado de peças de destaque que tinham me chamado a atenção primeiro - os nus. 

A gama de cores da sua paleta não tinha mudado muito, mas seu estilo estava mais refinado, mais claramente o seu. A luz incidindo sobre a pele da modelo era quente, lembrando-me da forma como a luz do fim da tarde brilhava em seu apartamento no Brooklyn, todos aqueles anos atrás. E quanto mais eu olhava para as pinturas, mais familiar pareciam.

— O que você está fazendo aqui? — suas palavras eram afiadas, irritadas e abruptas. Eu vacilei em surpresa. Eu não tinha percebido que ela tinha se virado para me encarar. Minha boca estava seca e meu cérebro lento enquanto eu lutava para falar a coisa certa. Algo que suavizasse a expressão severa do seu rosto, devolvesse a luz para os seus lindos olhos verdes, agora mais claros que anteriormente. Qualquer coisa que fizesse com que ela me perdoasse. 

Eu passei tanto tempo sonhando com este momento, na esperança de vê-la novamente, para ter a chance de explicar, de fazê-la entender e me dar outra chance. Mas todos os meus discursos bem ensaiados desapareceram no éter da minha mente. O que sobrou era tão branco como uma nova tela.

— Eu estou... — merda. O que eu estava fazendo? Raiva saía dela, batia em mim, tornando-me estúpida. — Estou tão feliz em vê-la, Lauren. — era a verdade, mas pelo olhar no rosto dela, foi a coisa errada a dizer.

— Sério? — seus olhos se estreitaram para fendas perigosas. Eu já tinha visto aquele olhar antes. Estava longe de ser bom. — De alguma forma eu acho isso difícil de acreditar. Como você pode estar feliz em ver alguém que você não conhece? Alguém que você nunca viu antes em sua vida?

Minhas palavras de três anos atrás foram arremessadas de volta para mim. E elas arderam. Especialmente saindo da boca de Lauren com tanto desprezo. Eu balancei a cabeça, mas elas me cortaram com indiferença. Eu merecia isso. Eu merecia seu desprezo. Eu tinha feito isso. E tudo que eu queria fazer agora - tudo o que eu quis fazer todos os dias desde que aconteceu - era desfazer isso.

Por que a vida não tem um botão de retrocesso? Eu estendi a mão para ela, mas ela deu um passo para trás, ficando fora do alcance. Jesus. Ela estava realmente tão enojada de mim, que se encolhia com o simples pensamento do meu toque? Sim, eu acho que merecia isso também.

— Sinto muito. — eu disse, minha voz tremendo um pouco, as lágrimas ameaçando derramar. Forcei-as de volta e aproximei. Abaixando a minha voz, eu disse: — Deixe-me explicar...

— Não, obrigado.

— Lauren, por favor... eu só... — o olhar frio em seu rosto me interrompeu. Ok. Agora não era claramente a hora. Ela estava muito zangada. Mesmo se eu conseguisse colocar as palavras para fora, ela não seria capaz de ouvi-las. Eu conhecia isso sobre ela. Mas eu não queria perdê-la novamente. Eu precisava mantê-la falando. — Como você acabou em Paris? — eu disse enquanto acenava minha mão para as suas pinturas. — Você está estudando com alguém aqui?

Ela cruzou os braços, o movimento puxando sua camiseta regata um pouco pra cima. Ela estava mais forte. Os braços mais malhados. Eu conhecia a sensação daqueles músculos tão bem, podia senti-los pairando sob meus dedos, enquanto olhava para ela. Ela me considerou por um momento, então disse: 

— Sim.

Era uma palavra, mas já era um começo. Eu tomaria qualquer coisa que pudesse receber.

— Isso é maravilhoso. Eu posso dizer que você está trabalhando duro. — eu balancei a cabeça em direção aos nus. — Aqueles são mais recentes?

Seu olhar seguiu o meu, então ela olhou para mim, quase como se estivesse tentando ver se a minha pergunta era sincera.

— Sim. — finalmente disse. — Mas as paisagens são o que melhor vendem na rua.

— Elas são boas. Muito boas. — eu olhei para ela novamente para encontrá-la olhando para mim, uma expressão indecifrável no rosto. — Seu trabalho se destacou para mim, é por isso que eu parei. Eu não tinha ideia que as pinturas fossem suas. Mas elas são as melhores que eu vi na praça.

Com essas palavras, algo mudou nela. Ela não sorriu exatamente, mas a intensidade do seu olhar e sua carranca diminuíram. Graças a Deus! Progresso.

— Há quanto tempo você está em Paris? — perguntei.

— Quase um ano.

Eu queria dizer "Onde você foi? Eu procurei por você. Tentei encontrá-la." Mas as palavras ficaram presas na minha garganta. Tudo que consegui foi: — Você tem um apartamento aqui?

Ela assentiu com a cabeça. — Latin Quartier.

— Sério? — a minha casa era no mesmo distrito. Isso significava que... talvez... TALVEZ eu conseguisse vê-la novamente. Talvez ela me perdoasse. Talvez... — Você tem um estúdio?

— No meu apartamento.

— É só que... eu estou realmente feliz por você, Lauren. — eu sorri para ela. Meu sorriso verdadeiro, não feliz, mas real. A dor ainda enchia meu peito, mas havia algo diferente sobre a picada desta vez. Ela era menos acentuada, mais agridoce.

Seus lábios se levantaram nos cantos só um pouco, mas sua boca imediatamente endureceu quando seu olhar pousou em algo atrás de mim.

— Ah, chérie! — Lucien disse, vindo ao meu lado e cheirando como um cinzeiro. — Eu achei você. — ele colocou sua mão gorda na minha bunda. Meu corpo todo enrijeceu, atordoado pelo gesto grosseiro, brusco. 

Até o momento que me recuperei o suficiente para bater na mão de Lucien para longe, o rosto de Lauren havia se tornado mármore esculpido - frio e imóvel. Dor queimou de novo em seus olhos duros como pedra. Ela olhou para mim como se não tivesse ideia de quem eu era, então se virou e começou a se distanciar.

— Não, espere! — eu gritei atrás dela, passando por Lucien. — Não é oque você pensa!

Lauren virou-se e olhou para mim, mesmo enquanto continuou andando.

— Não, Camila. — ela ergueu as mãos, o olhar era duro. — Apenas não, caralho. 

E então desapareceu na multidão.


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