Pálidos Olhos Azuis

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Esse aqui é um capítulo sobre amor: sincero, sensível, avassalador. É um pouco triste, mas espero que gostem. Escrevi de coração.

* Não vai ser um capítulo focado exclusivamente em sexo, ou pelo menos não de forma pejorativa.

Boa leitura

.

Narrado pelo Louis

Eu odeio a minha vida.

Eu não entendo como existem pessoas otimistas nesse mundo. Eu não sei em que momento exato eu perdi o brilho pela vida, mas acho que foi ainda na infância. Quando percebi que pra ser alguém eu precisaria me esforçar, e que esforço demais gera cansaço, e esforço de menos gera desapontamento. Quando eu era o filho prodígio até o ensino médio, quando não fazia ideia do que queria fazer da vida, com o plus de ter me assumido pra minha família. Me tornei a ovelha negra do dia pra noite, e ao amanhecer de novo, lá estava eu, falhando no vestibular.

Perdi meu pai quando eu tinha dezesseis anos. Eu não compreendia como alguém que já fora tão cruel comigo de repente assumiu um papel tão primordial na minha felicidade, que simplesmente ditou cada dia de depressão até meus dezoito, quando consegui dizer "meu pai faleceu" em voz alta sem me debulhar em lágrimas. Eu não entendia como era possível que aquele que me deu a vida agora estava morto. Eu não entendia a ausência, nem que fosse a ausência de sua aura possessiva sobre meu ser julgando cada ato meu sob um olhar além de um pai, mas de um advogado, como ele era.

Quando tentei novamente e consegui passar no vestibular, me vi cursando direito pra me aproximar de algo que me faltava. Eu queria aquele criticismo. Até porque, se eu fosse bom em julgar por mim próprio, não teria me envolvido em um relacionamento abusivo, e me deixado sofrer nas mãos de um homem por três anos. Eu achei que era porque pessoas sempre procuram parceiros similares aos seus pais, como narrou Freud, até finalmente perceber que mesmo com todos os defeitos, meu pai nunca agrediu minha mãe. E lá estava eu, sangrando no meu banheiro, com gelo no rosto, pensando "eu sou advogado, mas não sei me defender".

Estou caminhando pra uma ponte enquanto escrevo isso. Meu pai nunca deixou uma carta de suicídio, mas eu acho que esse erro eu não quero repetir.

Estou tentando tomar coragem. Talvez eu nem queira mesmo fazer isso. Talvez eu só queira tomar ar fresco no meio da noite. Talvez eu volte pra casa e me sinta um merda, e volte pra cá só pra pular de uma vez por todas. Talvez eu pule e aprenda minha lição, não morrendo, mas virando tetraplégico. Ou talvez eu encontre meu pai, e ele me xingue por só ter tomado decisões erradas.

Acendo um cigarro pra refletir melhor. Nada em mim piamente dita que estou pensando em me matar, senão minha estranha proximidade com a beirada, e em como fecho os olhos como se fosse simplesmente soltar meu peso a qualquer momento. Mas a olhos leigos, sou só um cara fumando e admirando a paisagem.

Agora estou vendo uma figura de um homem vir em minha direção, e já adianto que não tenho nada pra ele roubar.

– Oh, não, não vim te roubar, desculpe. Eu ia te pedir um isqueiro – Ele pede, e eu entrego a ele – E um cigarro, se não for pedir demais.

Eu reviro os olhos, e confiro meus bolsos. Tenho exatamente só mais um cigarro. Eu vou morrer mesmo, melhor me desfazer dele para que não molhe, e também, fazer minha última boa ação.

Ele acende seu cigarro, e me devolve. Se encosta na ponte com os cotovelos, e estrala o pescoço – Noite bonita, huh?

– Sim. Noite bonita.

Wild Thoughts - Smuts Larry Opowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz