Não fale com os mortos

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Isto é um aviso. Não conversem com os mortos. Nunca. 

"Ok? Eu nunca conversei?" A maioria deve estar pensando neste exato momento, enquanto julgam a minha sanidade. O fato é o seguinte: todos tem experiências sobrenaturais durante a vida. Você que está lendo já deve ter presenciado algo. Portas abrindo sozinhas, sussurros e barulhos inexplicáveis de madrugada, objetos movendo-se, vultos correndo no canto do olho, a lista é enorme. Quem nunca presenciou algo do estilo, definitivamente vai presenciar, é uma questão de tempo. Principalmente quando alguém próximo de você morre, a chance de acontecimentos inexplicáveis acontecerem na sua casa é gigantesca.

Antes de tudo, vou apresentar-me. Meu nome é Samantha, trabalho com sessões espíritas. Quando contatos do outro lado ocorrem, as pessoas me chamam para conversar com os mortos. Sei o que estão pensando, que isso é uma propaganda para eu vender os meus serviços. Eu não trabalho mais desse modo. Antes de explicar o que eu faço agora, irei exemplificar contando o último caso em que trabalhei. É uma história deprimente, então, alerta de gatilho. Quem quiser pode pular a história e ir para a minha conclusão, que é a parte mais importante, fique a vontade. Vamos lá:

Havia um casal que namorava há mais de quatro anos. Certo dia, ela foi viajar. O garoto, com a sensação de que algo estava estranho, conseguiu acessar a conta da namorada, e viu trocas de mensagens dela com um homem daquela cidade. As mensagens não poderiam ser mais claras "Quando você chegar aqui vou te pegar em todas as posições" "Mal posso esperar pra te ver", centenas de mensagens com esse teor. O garoto não aguentou ver tais interações do suposto amor da vida dele e enforcou-se no quarto do casal. Na mesa deixou uma nota de suicídio.

"A vida é feita de momentos. Os momentos que mais me marcaram aconteceram nos últimos quatro anos, eu poderia repetir esses anos eternamente e seria o homem mais feliz do mundo. Não consigo continuar em frente sabendo que tudo que eu vivi foi uma mentira, não me sinto humano o suficiente sabendo que depois de anos eu nem tive o direito de receber a verdade vinda de sua boca. A minha verdade ficará aqui, pendurada no teto."

A garota me contatou. A troca de mensagens era real, ela realmente tinha ido para outra cidade pra ter um caso momentâneo. "É em outra cidade, ninguém vai saber", ela pensava. A intenção era satisfazer a carne por uma noite e viver normalmente com o namorado pelo resto da vida. Quando chegou o dia de praticar o ato, ela se arrependeu. Uma culpa gigante percorreu a mente dela, ela nem chegou a se encontrar com o homem. Na viagem de volta ela sentia-se renovada mentalmente depois das incertezas dos meses anteriores. Imaginava os anos que teriam pela frente, decidida que nunca mais iria deixar desejos falarem mais alto do que o respeito que ela tinha pelo namorado.

Chegando em casa, viu o bilhete e o namorado pendurado no teto.

Ela queria conversar com ele, pedir desculpas, dizer que estava arrependida, não pensando claramente, mas a mente dela tinha feito o certo no final e que ela não tinha chegado a trair de fato. Acontecimentos estranhos na casa encheram-na de esperança de que o namorado ainda estava ali, e a possibilidade de uma mínima redenção aquecia o interior dela.

Fizemos a sessão espirita e a resposta foi quase imediata. O tabuleiro ouija mexia-se furiosamente respondendo toda pergunta. As coisas moviam-se sozinhas na casa, choros e frases agressivas o dia inteiro não deixavam a garota dormir quase nada, sempre acordava com algum barulho alto. Fui chamada outra vez.

A garota quis pedir desculpas novamente, dizer que ela tinha cometido uma falha humana e se pudesse voltaria no tempo. A tabua ouija interagia agressivamente com cada frase saída da boca da menina, "também queria voltar no tempo, agi com o vazio do momento, não queria ir embora ainda". Ficamos horas interagindo com o garoto morto, tentando resolver os assuntos pendentes. Horas depois, nada tinha convencido o falecido de que ele deveria seguir em frente, então resolvemos continuar no dia seguinte. Nesse dia, eu também revelaria a verdade para ela.

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