Extra Chapter: "Eu estou aqui"

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Em meio a neblina os passos eram lentos e mesmo que tivesse chinelos e meias confortáveis, os pés frios doíam como o inferno. O rosto coberto por lágrimas era difícil de esconder, então a cada minuto, a manga do moletom rosa era passado sob os olhos vermelhos. Fazia apenas uma semana ali e era a primeira vez que tivera coragem de sair de casa para comprar algo. Precisava de comida, mas a cabeça gritava "álcool" toda vez que lembrava das mensagens.

Términos eram difíceis, mas por mensagem e em meio a traição eram piores.

Na conveniência mais próxima, adentrou e foi vagaroso à sessão de bebidas. Pegou a mais forte e caminhou até o balcão nada preparado para usar seu coreano meia boca. Limpou sob o nariz e encarou o vendedor estranhando o silêncio por parte daquele. Quando seus olhos se encontraram aos do moreno, por um momento, esqueceu toda aquela dor em seu peito.

— Você... Está bem? — Felix queria gritar que não, queria chorar e pedir por um abraço de qualquer estranho. Queria dizer como se sentia machucado pelo abandono dos pais, como se sentia insuficiente pela traição e término com o ex, como sentia medo quando perdeu sua vontade de viver, como se sentia carente naquele apartamento solitário e como precisava de um ombro amigo. Mas ele apenas assentiu e deixou o dinheiro no balcão, saindo por fim. Os ombros caíram quando se deu conta que a chuva havia piorado e sequer trouxera um guarda-chuva consigo. Suspirou.

Era o de menos com a vida que levava.

Deu apenas um passo para a calçada, porque o segundo foi impedido quando teve seu braço segurado. Voltou-se para suas costas e um guarda-chuva foi estendido.

— Você vai ficar doente. — Sob o objeto, aquele que sequer conhecia, após soltar seu braço, o olhava com carinho esperando o mesmo o acompanhar. Em silêncio, o moreno caminhou até o lado do maior e esse sorriu ladino. — Hwang Hyunjin, prazer. — O menor o encarou com suspeita.

— Por que...? — O mais alto parecia ter sido pego desprevenido. Começaram a caminhar involuntariamente enquanto o Hwang procurava as melhores palavras para dizer aquilo.

— Bem, eu... Não sei direito. É só que, você estava chorando e com uma garrafa de whisky na mão... — Fitando a garrafa na canhota, Felix se surpreendeu com aquela declaração. Era uma ação comum, aquele com certeza tinha segundas intenções. — Só não queria que seu dia ficasse pior com um resfriado. — O Lee soltou um riso que apesar de baixo e que parecia de deboche, fora sincero. — É sério... — Comentou baixo e por mais que o tom parecesse chateado, o moreno tinha um sorriso no rosto.

— Eu... Não te conheço. Por que faz isso? — Não entendera parte daquelas palavras por seu coreano básico, mas não se importara porque estava estranhando aquela aproximação. —  O que você quer? — Hyunjin riu negando.

— Minha mãe me ensinou a ajudar alguém quando ela parece precisar. — Felix juntou as sobrancelhas demorando pra processar o que o outro dissera. Se sentiu aliviado quando percebeu que seu prédio estava próximo e logo se livraria daquele estranho. Apressou o passo sendo acompanhado por aquele ao seu lado e parou bruscamente frente ao portão principal. Queria apenas entrar e ficar sozinho no seu quarto frio. Queria apenas correr até seu travesseiro e chorar como fazia nos últimos dias. Mas, repentinamente, pensou: "seria mal educado ir embora sem me despedi?". Virou-se para o moreno e levou a garrafa ao peito, envergonhado.

— Desculpe se pareci rude antes. E obrigado. — Apontou para o guarda-chuva sobre a cabeça do outro que sorriu, negando.

— Tudo bem. — O menor apertou os lábios e se virou para tocar o interfone quando o Hwang chamou sua atenção. — Eu ainda não sei seu nome. — O Lee encarou a destra que parecia ter parado no tempo, prestes a tocar o aparelho e vacilou, deixando o braço cair ao lado do corpo. Voltou a olhar o moreno e se questionou se deveria dizer seu nome coreano ou australiano. Suspirou.

Necessity • Hyunlix Where stories live. Discover now